Capítulo 2

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No último ano do Ensino Médio eu me apaixonei. Me apaixonei por uma pessoa da minha sala de aula, alguém que conhecia há pouco tempo e me encantei com pressa. E era recíproco. Nos apaixonamos rápido, nos beijamos rápido, namoramos rápido. O tempo corria na nossa frente, nunca nos esperou. Ele foi rápido até o fim.

Tudo deu errado quando envolvemos nossas famílias. O ódio deles foi mais forte que o nosso amor, que foi destruído em dias. Após receber reclamações, ser alvo de fofocas e quase ser expulsa de casa, decidi ignorar o amor que eu sentia para não ser destruída pelo ódio.

– Tem certeza?

– Me desculpe por não ser forte o suficiente.

E assim começou minha luta.

Como primeiro esforço, consegui um trabalho de meio período sendo Call Center. Foi uma rotina longa e estressante – ia para a escola pela manhã, às vezes almoçava, trabalhava e voltava para casa à noite, onde meus pais não me tratavam como antes. Uma estranha na minha "casa". Os poucos momentos em que eu tinha paz era quando estava sozinha – no banheiro, no ônibus. Até mesmo na escola tudo tinha mudado. Em todo lugar eu me sentia uma peça errada do quebra-cabeça.

Meu segundo esforço foi uma loucura. Queria alugar uma casa assim que terminei o Ensino Médio e procurei um lugar em outra cidade, bem longe da minha família. Não há muitas casas boas quando você tem dinheiro para comprar apenas um móvel para por nela. E eu estava com náuseas só de pensar em continuar morando com meus pais. O preço das casas era o meu salário inteiro – as casas mais baratas! Até que, enquanto caminhava, vi uma pequena loja à venda. Era apertado e tinha muitas flores comuns. Eu gosto muito de flores e tudo o que é delicado, portanto aquela loja chamou minha atenção.

– É uma loja linda. Tão colorida e cheirosa.

– Mas essa loja me dá muito prejuízo.

– Por quê? Você não vende?

– Algumas pessoas não admiram a natureza. Outras pessoas não gostam de ter trabalho.

Meu momento de loucura foi comprar aquela loja. Era barata porque a dona queria vender rápido e porque era um lugar muito pequeno.

– Posso ficar com essas flores?

– Venda elas para mim, querida.

Assim consegui um novo emprego com horário flexível e ainda um lugar para dormir.

Meu terceiro esforço foi viver essa vida independente. Saí de casa sem me despedir e terminei o colégio com notas boas. Ainda trabalhava como Call Center (dessa vez integral), mesmo morando tão longe. Eu abria minha lojinha pela manhã, trabalhava à tarde e dormia no chão. Foi a fase mais difícil da minha vida. Por um tempo a loja se manteve no ponto de equilíbrio – ou seja, sem lucro. Eu tive que fazer um cartão de crédito para comprar um microondas, um colchão e um celular. Todo fim de mês eu entrava em desespero por achar que não ia conseguir pagar minhas contas.

Muitas vezes estava triste porque me sentia sozinha. Muitas vezes quis desistir de tudo. Muitas vezes quis desaparecer.

Até que abriu um cinema perto da minha lojinha, o que deu movimento para aquela rua. Finalmente saí do ponto de equilíbrio e comecei a lucrar. E logo depois consegui emprego de vendedora num shopping perto da minha nova casa. Finalmente estava sobrando dinheiro para eu conseguir alugar uma casa de verdade. Finalmente consegui parar de lutar.

Meses depois me mudei para um conjunto de casas, onde eu os conheci de verdade.

Samael e LianneOnde histórias criam vida. Descubra agora