Capítulo 4

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Eu vendia guloseimas numa loja do shopping – tinha contato com pessoas o tempo inteiro e tinha que suportar alguns clientes tão doces que podiam me dar diabetes. Até mesmo na minha humilde loja de flores apareciam pessoas assim.

– Senhorita, vocês podem trocar o coelho daquela cesta? – uma vez uma senhora pediu uma cesta temática na Páscoa.

– Senhora, se você preferir temos essa cesta menor. Tem um ótimo custo benefício...

– Querida, eu perguntei por uma cesta menor? Eu tenho dinheiro pra comprar o que eu quiser. Eu quero aquela cesta!

Mesmo se eu pudesse responder clientes, eu não responderia. Sempre fui covarde. Ao menos naquele momento pude me esconder atrás da minha farda e fingir que estava engolindo palavras.

Havia um novato na loja, Guilherme. Ele tem um sorriso bonito, usa óculos e é rechonchudo como um bolo de rolo. Tinha sido contratado há pouco mais de uma semana e ainda parecia perdido.

– Eu não tenho dinheiro pro almoço. E agora? E eu fiz a comida hoje de manhã, esqueci de trazer...

– Eu compro, depois você me paga. – eu falei – Tem uma senhora que vende um almoço barato, vamos aproveitar que nosso intervalo é no mesmo horário hoje.

Literalmente parecia perdido:

– Cíntia, graças à Deus! – eu o encontrei uma vez quando estava atrasada. – Eu não lembro onde fica a loja.

– Guilherme, ela ta bem atrás de você.

Ele era um bom rapaz. Meio desastrado e curioso demais, mas ainda assim parecia um bom rapaz.

– Você é minha salvadora, Cíntia. É a única que me ajuda tanto.

– Ah, as meninas também te ajudam. Não quero ficar com os créditos delas.

Ele apenas riu.

À tarde, após ter largado, fui diretamente para a Lojinha. Destranquei, organizei o caixa e deixei o aviso de loja aberta.

Eu costumava arrumar a loja pelo menos uma vez por semana (nas minhas folgas), mas ela sempre estava desorganizada. Talvez por causa das pessoas que entravam e saíam ou porque eu mesma não arrumava direito: às vezes diferentes tipos de flores estavam misturadas, às vezes os jarros estavam espalhados, às vezes as suculentas estavam no meio dos cactos. Às vezes eu achava uma bela bagunça, às vezes tinha raiva por ser assim. Era uma loja simples e com os mesmos clientes, mas sempre aparecia um rosto novo com expectativa – naquele dia foi Lianne.

Eram seis horas da tarde quando vi seu sorriso enorme.

– Cíntia! Tu trabalha nessa loja linda?

– Eu sou a dona daqui, na verdade.

Ela soltou um gritinho animado e admirou as flores, observando-as por bastante tempo, cheirando e me fazendo perguntas.

– Tu cuida bem delas, consigo sentir, apesar que elas me dizem que precisam de mais atenção. Eu curto todo tipo de planta, sabia?

– Se quiser comprar alguma, posso te fazer uma promoção. Dez por cento!

Fiquei surpresa por ela ter comprado uma de cada espécie de planta que eu tinha. Aquele foi um ótimo dia para vendas!

– Eu posso visitar aqui de vez em quando? É tão colorido e cheiroso, essa organização me trás conforto.

– Claaro...

Eu não estava muito feliz com esse pedido.

Samael e LianneOnde histórias criam vida. Descubra agora