Capítulo 8

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Eu estava regando vincas. Eu sabia que estava regando demais, mas não conseguia mexer minha mão. Sempre me esforcei muito para manter a aparência das plantas, não apenas por causa das vendas e sim também porque a Lojinha é mais convidativa quando tem beleza. Entretanto, vez ou outra eu maltratava as plantas sem perceber. Naquele dia eu só não afoguei minhas vincas porque Lianne chegou e começou a falar sem mais nem menos.

– Eu não aguento mais aquela empresa! O meu chefe quer que eu computação computação blablabla.

Confesso que não lembro exatamente o que ela disse porque eu entendi nada.

– Ele acha que eu sou o quê? Ah, não aguento mais ver computadores! Dinheiro não vale tanto assim; escute o que eu digo, Cíntia!

– Eu não sei. Acho que eu prefiro ter dinheiro e ver computadores... – toquei no meu cabelo. Parecia um ninho.

– Quando eu tava na faculdade já não gostava muito da área. Só continuei porque eu precisava de dinheiro pra ajudar minha mãe. Os empregos pagam bem, mas não é pra mim!

– Acho que eu aceitaria qualquer emprego que pague bem.

– Eu pensava assim, mas agora eu tenho estabilidade o suficiente pra ir atrás da minha vocação. Cíntia, nós precisamos de dinheiro até certo ponto, depois temos que correr atrás do que nos faz felizes! – o cabelo dela estava preso em um belo coque alto, alguns cachos escapavam.

– Agora concordo com você.

– Foi por isso que eu me demiti e agora quero trabalhar contigo nessa maravilhosa Lojinha! Você não pode negar. Veja bem, sem esse emprego eu não terei nada. Irei passar fome por sua culpa!

Entrei em desespero. Olhei para algumas flores que estavam quase murchas; Lianne não podia me conhecer. Mas como eu ia negar?

– A Lojinha não tem tanto lucro, não vai dar pra você se sustentar.

– É por isso que vou fazer pequenos trabalhos de Home Officer; a felicidade tem um risco! E eu vou te ajudar com as vendas. Essa loja vai bombar, meu bem, ta pensando o quê?

– T-trabalhar com clientes é duas mil vezes pior do que você pensa. Nesse bairro tem tantas pessoas grosseiras...

Meu coração acelerou. Eu não queria decepcioná-la. Evitei olhar nos seus olhos brilhantes.

– Cíntia. – ela segurou nos meus ombros e vi tanta seriedade que pensei que ela ia me confrontar; pensei que ela sabia tudo sobre mim e ia jogar ofensas na minha cara – Eu adoro pessoas. E eu tenho ideias pra aumentar os clientes. Seremos duas mosqueteiras lutando contra o mal dos clientes perversos.

Ela gargalhou e não consegui mais desculpas. Lianne seria minha primeira funcionária.

Samael e LianneOnde histórias criam vida. Descubra agora