Capítulo 6.

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Faço o caminho até á cave. O caminho era bastante curto do 1º andar até lá, mas ao meu descer, parecia uma eternidade.

Quando finalmente chego lá abaixo, entro e fecho a porta. Este sim era o sítio onde me sentia bem, o sítio onde me refugiava do que diziam, o sítio onde libertava o que sentia por movimentos… Aquela cave era como se fosse o meu santuário.

Quando eu era mais nova, antes dos meus pais morrerem nós vivíamos em Portugal. No prédio onde vivíamos existiam uma cave e um sótão (tal e qual como o nosso atual prédio), e os meus pais decidiram que, o sótão era deles e a cave era minha e da minha irmã, e nessa altura andávamos sempre a discutir o que a “nossa cave” seria.

Neste prédio é exatamente a mesma coisa. Mas o sótão é dela e a cave é minha.

Eu não sei o que a minha irmã fez do sótão, mas eu transformei a cave no meu salão de dança.

Eu adorava dançar! Desde os meus 102 anos que danço, se não foi há mais tempo. Ao dançar expressava tudo o que sentia por meros movimentos. Neste momento ando numa classe de dança. Para aperfeiçoar a minha técnica e para ir a concursos de grupo.

O meu salão tem 9 metros por 3,5. Não é um espaço muito grande, mas é o suficiente para conseguir movimentar a minha dor, felicidade, agonia…

Trabalhei bastante para conseguir este espaço. Tive de por a madeira clara no chão e pintar as paredes de branco sujo. Coloquei uma barra por baixo da janela pequena que havia na parede e um espelho na parede oposta que ocupava metade da parede. Ao pé da porta havia uma mesa com o meu radio e colunas e uma cadeira.

Entro e retiro os ténis e coloco-os em cima da cadeira. Ligo o meu telefone por cabo usb às colunas e ponho uma musica suave para aquecer.

Estava finalmente pronta para aliviar os meus nervos.

Ponho a tocar “Bach Cello Suit No. 1”. Ponho-me em posição e começo.

Os meus movimentos mostravam a vitória, a teimosia, a felicidade e a vergonha… Mas por fim a raiva.

Era uma mistura de movimentos que nem eu sabia explicar. Mexia-me como se não houve-se amanhã, mas no entanto mexia-me lentamente e delicadamente. Não controlava o meu corpo. Nunca tinha dançado com tanta euforia. Mas o pior é que só pensava nele…

Já eram 20:35 quando subi para o apartamento. A minha irmã bebia um pacote de sangue, enquanto assistia a Glee a sua série preferida que revia pela milésima vez.

Eu estava sedenta, por isso quando entro decido ignorar as perguntas da minha irmã á entrada e vou beber uma embalagem de –AB.

“Estás a ouvir-me Rosanne?”

“Sinceramente… Não, não pitei nada do que disseste.” digo calma, não tinha mesmo energias para mais nada.

“Ah… Olha eu vou trabalhar ás onze… Já sabes, qualquer coisas estou no hospital… Ou então ligas.”

“Até parece que é novidade. Passas lá a vida!” a minha irmã era enfermeira do turno das 23:00 até às 9:00. Pelo menos aos dias de semana.

“Se eu não passa-se lá a vida não tinhas o sangue que estás a beber agora!” diz levantando o tom. “Não interessa. Vai tomar um banho que cheiras pior que um búfalo depois da maratona!” goza.

“Há há há há… Mas já sabes que não tens de pedir.” eu adoro tomar banho e ponto.

Dirijo-me até à casa de banho. Desbloqueio o meu telefone e ponho a tocar o álbum ‘‘X’’ do Ed Sheeran.

Blood Rose || HS [Parada]Onde histórias criam vida. Descubra agora