Duelo de Sangue

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Imbecil. Eu era um total imbecil. Consegui atravessar até quase a corte de Beron, sentindo aquelas preciosas reservas de forças se quebrarem. Fechei os olhos, buscando uma localização, uma sensação, alguma coisa que me passasse o sentimento de Elain. Alguma coisa vinda do laço.

Esperei, ficando ansioso a cada respiração.

Ali.

Senti uma fina parte do laço, quase uma linha de barbante, me ligando a Elain. Agarrei aquela linha, com medo de puxar e arrebenta-la ao peso de chumbo que o laço com Lucien fazia por cima do meu. Ele ... Ele estava com Elain na corte de seu pai? Ou melhor, na corte de Beron?! O que macho tinha na cabeça era algo que eu não sabia nem imaginar ou considerar. Era mais confuso do que eu conseguiria conceber. Mas ele estava ali, com Elain, poucos quilômetros a minha frente. Eu não gastaria mais de minhas reservas. Estendi as asas, deixando a envergadura se acostumar com o vento e com o peso de meu corpo cansado, ao dar as primeiras batidas. Levantei vôo, na direção da Mansão do Grão Senhor da Corte Outonal.

O cheiro do ar era morno, como uma noite ao redor da fogueira. Fazia sentido os poderes de Beron e seus descendentes ser o fogo. Avistei a estrutura. Era algo entre um templo, um palácio e uma casa de campo, com tijolos a vista de um lado, e grandes árvores com folhas douradas tapando as partes da casa. Bastiões de fogo criavam uma entrada alaranjada, mesmo ao amanhecer. Um contraste vermelho dourado para o azul prateado da corte de Kallias.
Pousei na frente do caminho de bastiões, ajeitando as roupas escuras e o cabelo úmido do vôo na Corte Invernal. Deixei que minhas sombras brincassem ao meu redor, em um leve nevoeiro, escondendo as olheiras e o feito cansado. Acomodei as asas para trás, arrumando a postura.

Éris me esperava na entrada da enorme mansão palácio, sob um pergolado de vinhas arroxeadas. O rosto dele era sombrio. Eu lembrava do acordo dele com a corte Noturna, conosco. Eu estava pronto para quebra-lo e quebrar-lhe o pescoço se tentasse me impedir. Parei a centímetros de Éris, meu peito a um palmo de distância do dele. O macho teve que levantar o queixo para fixar o olhar nos meus, com alguns centímetros a menos em sua altura. Com Rhys, com Kallias, eu havia lançado intimidações caído sob os joelhos. Não aqui. Eu não olharia para cima para ninguém.

Ele engoliu em seco, a cor fugindo de seu rosto inconscientemente. Sabiamente, deu um passo para trás.

- Sei por que está aqui.

- Então sabe como será a única maneira de me fazer sair daqui sem derramamento de sangue.

- O seu sangue, Azriel. - Éris parecia ter um quê de preocupação em seu olhar. Eu poderia arrancar aquela preocupação a tapas se não estivesse com o temperamento obscuro controlado. - Não irá remover a parceira de meu irmão de nossa corte.

- Ela não é parceira dele.  - Cuspi aos pés de Éris.- Pergunte a ele se o plano funcionou. Coloque os dois no mesmo quarto e me diga que cheiro você sente Éris.

O macho não demorou um segundo sequer para me responder.

- Freixo. - Pisquei, tentando entender a resposta. - O laço deles tem cheiro de Freixo. Lucien está...  Completamente fora de si, Azriel. Não é ele.

Eu não me importo nem um pouco.

- Traga-o aqui. Me traga Elain Archeron, irmã da Grã-Senhora da Corte Noturna, Feérica feita pelo Caldeirão. - Levantei minha voz, para todo expectador daquela corte que havia começado a nós rodear. - Minha Parceira.

Arquejos de surpresa novamente. Lucien saiu pela porta, com um olhar ensandecido passando por aquele olho vermelho. O dourado parecia faiscar. Realmente, aquele não era o Feerico que conhecíamos. Ele puxava alguém pelo... Pelo...

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