Me tire daqui

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A multidão de espectadores soltou um arquejos esganiçado, que percorreram aquela corte como uma onda. Beron saiu pela porta no momento em que seu filho aceitou o duelo. O homem parecia dividido entre um estado de espírito totalmente amedrontado e totalmente arrogante.

Éris correu na direção de Elain assim que Lucien a largou. Amparou-a, pegou-a no colo e tirou do nosso caminho, a levando para uma distância segura e ainda assim, próxima o bastante. O olhar de Elain fervia na direção de Lucien, mas carregava uma profundidade maior do que apenas ofensa e desgosto e raiva, eu percebi. Éris, ao lado dela, farejou um pouco o ar, olhando de mim para Lucien, tentando entender o que, pelo caldeirão, estaria acontecendo. Noite e Fogo surgiram, em uma erupção a alguns metros da casa. Na distância exata do encantamento que não permitiria que se fosse atravessado para o interior da barreira. Elain levou seu olhar caramelo naquela direção, mas não ousei seguir os olhos dela. Escutei alguém gritar seu nome, mas ela não se moveu, com uma careta de dor ao tentar. Uma careta, eu percebi, que refletiu em Lucien.

Eu senti mais do que vi, Beron atravessando para onde Rhysand andava, a Morte encarnada. Para onde Feyre queimava e Nestha o fuzilava.

- Mantenha-se fora disso, Rhysand. - Beron falou baixo, mas ainda audível. - Seu Encantador de Sombras invocou um Duelo de Sangue com meu filho. Ele irá lutar sozinho.

Nestha murmurou um sibilo com o nome de sua irmã, e juntas, ela e Feyre avançaram, afastando Éris para proteger Elain com os próprios corpos. Envolver tanto seu físico quanto sua mente, para pedir perdão. Perdão por não ter estado lá, assim como eu gostaria de o fazer.

O olho dourado de Lucien piscou duas vezes, rapidamente, e sua cabeça inclinou. Como se fosse uma máquina em defeito, criando confusão para quem a controlava. Eu não me importava. Rhys franziu a testa observando, sem dignar uma resposta ao Grão Senhor da Corte Outonal.
Sinceramente, não me importava se ele estivesse sendo controlado, manipulado ou quebrado. Era demais para mim pensar nisso, com Elain ali ao lado, com toda aquela dor e eu senti ... Senti a onda de ódio em meu peito, que me fez avançar no momento que Lucien instigou as chamas dos braseiros contra mim, em uma onda. Atravessei, parando às costas do macho, agarrando- o pelo braço e torcendo. Um estalo, um tendão arrebentando. O próximo seria o osso.

O macho rugiu. E Elain, à dez metros de distancio, gritou. Um grito de dor logo após um estalo... Que não havia vindo apenas do braço de Lucien. Mas do dela também. Nestha e Feyre ecoaram seu grito, com susto e preocupação. Foi o olhar no rosto de Feyre que me fez compreender. Aquele duelo havia terminado sem nem mesmo começar.

Eu iria perder.

Não feriria Lucien, não se aquilo fosse ferir Elain. Aquele laço havia sim se firmado mais com o relacionamento físico dos dois... Mas, mesmo no rosto esquizofrênico e perturbado do macho ruivo imobilizado a minha frente, pude ver confusão. E o olho dourado travou e faíscou lutando contra o horror preocupado que o olho vermelho emitia. O rosto todo de Lucien se contraiu, lutando contra coisas que eu não conseguia ver. Eu sentia cheiro de sal e sangue, e freixo e ... De um laço de parceria no macho imobilizado. Senti os sete sifões de meu corpo emitindo uma luz azulada e doentia, conforme imobilizavam o corpo de Lucien, sem machucar um fiapo de cabelo sequer. Permiti minha consciência passear no fio de barbante. Puxei.

Estava naquela área da mente de Elain. As vinhas e raízes que saíam daquela ponte se enroscavam no corpo de minha parceira, prendendo-a com força, como se enclausurando sua parte Feérica para controla-la. Avancei pela ponte, até os escudos mentais de Lucien. Um escudo de Fogo e Luz. Luz da Corte Diurna. Completamente rachado e consumido por veias pretas esverdeadas. Aquele duelo precisaria terminar de alguma forma e para isso, eu precisaria vencer escudos mentais. Coisa que eu nem imaginava possível. Eu nem sabia como eu estava parado ali naquele local. O que aquela força do caldeirão estava fazendo, sibilando em todos os poros de meu corpo, por meio de Elain.

Lucien rugiu, o rosto se contorcendo. Percebi algo mais ali, naquela câmera estranha dos entrelaços dessa parceria confusa. Rhys.

Os poderes de meu grão senhor invadiam a mente de Lucien, quebrando escudos. Suor frio escorria na testa de Rhysand. O cheiro de Feyre também estava ali, como se a fêmea estivesse compartilhando seus poderes com o parceiro. Os olhos violeta de Rhysand cravaram nos meus.

- Você precisa quebrar o laço de Lucien e Elain. - ele trincou os dentes - Pelo menos o... Pelo menos o laço com esse cheiro errado de Freixo.

Olhei para as roseiras de Freixo e chumbo na ponte entre os dois Feéricos. Assinalei uma vez com a cabeça. De alguma forma, movi minha consciência o suficiente para usar os sifões... Usar minhas forças e meus poderes para rasgar aquelas fibras, uma por uma. Grunhi de volta para Lucien. Aquele olhar trocava de emoções de forma frenética. De ensandecido para preocupado. Com raiva para dor.

Em um rugido, comecei o processo. Cada explosão de luz era mais forte e a cada golpe, mais tentáculos da roseira  pareciam crescer. Um deles se enroscou em minha perna, mas continuei. Mesmo quando espinhos de freixos cravaram em minha panturrilha. Senti os poderes de Rhys serem expulsos daquela mente por uma explosão que não vinha de nenhuma de nossas mentes, que parecia vir do próprio caldeirão. Aqueles poderes pareciam ronronar na direção de Elain.

Minha parceira arregalou os olhos, o corpo quase todo liberto do casulo que o prendia. A consciência presa a Lucien apenas por mais um galho.

Outro braço da planta se enrolou em mim, o freixo cravando em minha pele. Os muros mentais de Lucien começaram a desabar. Aquelas paredes que Feyre havia ensinado o macho a construir ruíram. O ruivo estava ajoelhado. Tão preso em freixos quanto Elain estava momentos anteriores.

- Me tire daqui. - Elain pediu baixinho, olhando de mim para Lucien. Encontrei o olhar daquele macho e percebi que o Grão Feéricos que retornava meu olhar não era o mesmo que começará a luta comigo. Ele sabia onde ele estava e a segurança de quem estava em jogo. Ela repeti, um pouco mais alto - Me tire daqui.

Usei as últimas reservas dos meus poderes, a última luz daqueles sifões, para romper a última prisão de Freixo em volta do braço de Elain. E Lucien, pela segunda vez, usou os poderes de seu verdadeiro pai, lançando a luz do quebrador de maldições na direção daquela ponte de chumbo. Todo aquele freixo se virou na minha direção e eu deixei que se fixasse. Deixei que os espinhos de freixos e seus grilhões me ligasse a Lucien, enquanto construía, com ajuda de Rhys, uma proteção de adamantino e sombras entre mim e Elain, em nosso laço de parceria.

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