24 - Superar

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Narração - 3°pessoa
•09h26- 10/03/2020

As algemas presas às mãos do velho Japonês eram com certeza uma vitória por si só. O tribunal estava vazio, apenas o grupo, Isao e o advogado além de todo o Tribunal do Júri, todos estranhamente silenciosos e conversando entre si. 

 Liz estava mais calada que os demais, com os olhos presos ao senhor que se sentava no lugar do Réu e falava mentiras decoradas que não se deu o trabalhado de ouvir, apenas para tentar um acordo melhor. Sabia que tinham provas mais que o suficiente para que o único acordo possível fosse ele calado num cela pelo resto da vida. Thiago massageava de leve seu ombro, sentado ao seu lado um pouco menos tenso, apenas pensando que ali era o fim da linha, eles tinham conseguido. Vez ou outra comentava algo com Dante e Tristan que estavam sentados na fileira da frente; O ar quase palpável de tão pesado fazia com que os presentes apenas torcessem pela sentença final para que pudessem respirar livres de toda a situação. 

Joui não conseguiu entrar, mal viu o reflexo do homem que chamava de pai - já que agora mal conseguia proferir a nomenclatura - e sentiu o coração palpitar fora do compasso, as mãos suaram e a visão falhou, seu corpo dando todos os indícios de um claro ataque de pânico.

Estava tão cansado de sentir medo.

 No fundo tinha ciência de que Isao não poderia mais atingi-lo, machucar ele ou sua família, mas nada poderia apagar o que já tinha se passado; Sua mente fazendo o trabalho de relembra-lo todas as noites de suas últimas semanas, o ''sequestro'', a fuga, a felicidade cortada quando reencontrou todos na casa - agora destruída - de Elizabeth... Os últimos momentos de Daniel. Tudo o que precisou superar, reviver, revisitar, todos os medos que precisou fingir que não o dominavam causados por um só homem, o homem que deveria lhe proteger acima de tudo, no fim foi o que marcou sua vida da pior forma possível.

- Hey, amigo... - Arthur tentou segurar as mãos trêmulas para acalma-lo, o levando para um dos banquinhos próximos. Avisou os outros amigos que ficaria um pouco do lado de fora acompanhando o fotógrafo. - Tô aqui com você, tá bom? Nada vai acontecer, respira.

 E Joui tentava, mais que tudo, respirar. Inspirava forte e profundamente, expirando forçado em seguida, uma, duas, não sabia mais quantas vezes. Odiava se sentir assim, se sentir fraco. 

- E-eu... eu não.. não consigo. - Murmurou entre os soluços. O rosto manchado pelas lágrimas abundantes o atrapalhavam ainda mais, tudo parecia só uma grande confusão.

- Consegue sim, olha aqui pra mim, tá bom? Respira comigo, você tá bem Joui, não tá sozinho. - O Galdério apertou um pouco mais firme, deixando um carinho com o polegar nas mãos alheias. Segurava as próprias lágrimas para consolar o amigo, o doía muito vê-lo assim depois de quase dois anos tentando viver normalmente após o primeiro acidente; Fica tão feliz ao vê-lo cada vez melhor, voltando a sair de casa, trabalhar, fazer coisas simples como ir ao mercado sozinho, e então conhecer Cesar e se apaixonar sem tanto receio.

 Mas então tudo pareceu retroceder, Isao era um maldito verme.

 Contudo, também sabia da força do asiático. Podia ver o quanto ele tentava ser forte e mesmo quando quebrado, fingir que tudo estava bem. Tinha orgulho de Joui e sempre estaria ali pra ele, para ajuda-lo a se levantar mais uma vez, porque sabia que ele levantaria. Observou preocupado o amigo regular a respiração aos poucos e lhe deu um sorriso doce, típico da personalidade do heterocromático.

- Ce-certo... Eu consigo. - Joui ofegou. Devolveu o aperto, puxando o baixinho para um abraço desajeitado e intenso, feliz em tê-lo ali... Em ter alguém que o amava apesar de tudo. - Obrigado, amigo... Obrigado por tudo.

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