Eterna (parte 2/?)

28 6 14
                                    

O quarto de hotel onde Hope se hospeda é surpreendentemente simples. Não passa de um quarto apertado com duas camas de solteiro, uma televisãozinha pequena, o Nintendo NES de Hope conectado à televisão, uma geladeirinha, mesinha apertada no canto com sua mochila jogada em cima e banheiro.

– Sinta-se em casa.

– Ah, obrigada.

Hope se senta na beirada da cama, tira os sapatos, vai até sua mala escondida atrás da cama mais longe da porta e volta para perto da porta do banheiro, bem ao lado da entrada do quarto, carregando uma camisola.

– Vou tomar um banho. Pode jogar, se quiser – ela oferece um sorriso leve à companheira de seleção antes de deixar o aposento.

Mara nunca mexeu num videogame antes, exceto máquinas de fliperama no shopping. Ela se senta na beirada de uma das camas, os olhos fixos no console com curiosidade, sem ter a menor ideia de como usaria esse treco. Pensa em ligar a TV e assistir algo, mas o som da água correndo no cômodo ao lado por alguma razão a distrai.

Finalmente, ela se levanta e liga o aparelho. Passa os canais, procurando por algo de interessante. Nalguns jornais, vê notícias sobre as meninas eterianas terem ganho a primeira Olimpíada de futebol feminino da história, e as chamando de The First Ones – As Primeiras.

Sente um orgulhozinho pelo apelido.

Mara chega num programa esportivo especializado, onde duas das suas colegas de seleção são convidadas especiais, ao lado do treinador do time e alguns analistas e jornalistas esportivos. São Lily, atacante da Red Horde que fora uma das artilheiras da seleção na competição, e Eza, zagueira também da Red Horde que fora uma das melhores zagueiras da Olimpíada. Eles analisam em grande detalhe cada uma das partidas das meninas eterianas, especialmente da final.

Mara gostaria de estar ali também.

Ao mesmo tempo, não se arrepende da gravidez. Quer dizer, ás vezes sim, mas não nesse momento. Gostaria de ter feito algo um pouco mais planejado, e só depois de se aposentar, de forma a nunca perder nenhuma temporada.

Ela ouve o chuveiro sendo desligado e, em seguida, a porta do banheiro se abre.

É difícil para Mara negar o efeito que uma Light Hope seminua, com seus longos cabelos molhados emoldurando o rosto, toalha cobrindo dos seios às coxas feito um vestidinho curto tomara-que-caia, exerce sobre ela. É como se sua presença fosse opressiva demais para se manter no mesmo quarto. Não que nunca tenha visto Hope após o banho antes, afinal jogam juntas há 10 anos pela seleção e ficaram 7 anos no mesmo clube, mas é diferente. Sempre foi num vestiário, com várias outras garotas e ela mesma em situação igual, e diversas distrações, como pessoas falando o tempo todo e seus treinadores fazendo discursos motivacionais, parabenizando o time pela vitória, consolando pela derrota, planejando os próximos jogos – e principalmente, sem esses malditos hormônios da gravidez!

Na verdade, já deve fazer perto de um ano que Mara evita olhar na direção de Hope quando percebe ela saindo da ducha após os jogos...

Totalmente alheia aos sentimentos de sua capitã, a volante usa uma segunda toalha para secar os seus cabelos, enquanto cruza a frente de Mara, perigosamente próxima, para chegar até a sua mala e se abaixa, procurando por algo.

– Ué, cadê minha camisola?

– V-você levou para o banheiro com você...

– Ah! Que cabeça, a minha! – Hope solta uma risadinha e torna a se levantar – é que normalmente sou só eu, me esqueci!

– Ah, n-não se preocupe! Não é como se nós nunca tivéssemos visto a outra de toalha, não é? – Mara força uma risada.

– Verdade – Hope cruza o caminho de volta ao banheiro com um fronte pensativo.

Shorts - Gringa GrudentaOnde histórias criam vida. Descubra agora