isso significa que eu sobrevivi

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11 de julho de 2021

Dandara

Vesti minha blusa de lã preta, meu casaco preto, minha calça de moletom vermelha e calcei meus coturnos militares pretos. Peguei a mochila, prendi a faca na bainha, coloquei a espada no ombro, amarrei a corda na cintura e saí do apartamento, correndo assim que vi a porta do elevador aberta. Entrei, cumprimentei a mulher de longos cabelos pretos que estava lá dentro e apertei o botão do térreo.

Ao chegar lá embaixo, a Kombi branca estava estacionada na frente do prédio. Núbia estava ao volante e Marcos estava ao seu lado; Luana, Matheus, Porã, Leonardo e Rafaela estavam no fundo.

Marcos abriu a porta da frente e eu entrei, sorrindo e cumprimentando todos. Núbia aumentou o volume da música quando começou a tocar Rita Lee e dirigiu em direção à entrada de Peruíbe. Ao chegar lá, cinco ônibus e dez carros estavam estacionados, com algumas pessoas do lado de fora.

Desci da Kombi e caminhei até Letícia, que estava toda encolhida por causa do frio. Acabei me encolhendo também porque o vento forte estava muito gelado.

– Tá fazendo 2°C – disse ela. – De quem foi essa ideia escrota de sair daqui às quatro da manhã? E, pior de tudo, num domingo!

– Foi sua – disse Simone ao se aproximar. – Sua e da sua irmã.

– A Natália deveria ser a irmã que pensa, não eu – Letícia reclamou e saiu andando.

Simone meneou a cabeça, soltou um riso fraco e saiu andando até o carro da frente, subindo no capô e chamando a atenção de todos. Para uma mulher de 60 anos, até que ela era bem ágil. Quando ela começou a falar, todos desceram dos carros para ouvi-la.

Enquanto Simone lia a carta enviada por Joaquim e repassava o plano, um grupo de pessoas começou a distribuir armas de fogo e facas extras. Embora a recomendação fosse não usar armas de fogo para o barulho não atrair mais zumbis, era necessário que todos nós tivéssemos pelo menos uma para prevenção.

Depois das explicações e orientações, entrei novamente na Kombi, seguida pelo pessoal, e partimos. Nossa Kombi estava seguindo os ônibus e, logo atrás de nós, estavam os carros. Três helicópteros decolaram e partiram na direção oposta da nossa. Alguém começou a lançar os fogos de artifício na mesma direção, para que mais zumbis se afastassem do caminho que seguiríamos.

– Eu tô nervoso, mas isso é muito legal! – Marcos soava muito animado.

– Fala baixo! – Matheus reclamou. – Tem gente tentando dormir aqui.

– O cara quer dormir no meio da missão – Marcos debochou.

– O problema é que eu não nasci pra acordar cedo – Matheus continuou. – Se fosse pra acordar cedo, eu teria nascido galo, não esse neném lindo.

Soltei uma risada nasal enquanto Matheus continuava reclamando. Aquilo durou pouco tempo, pois em poucos minutos ele já estava roncando.

Depois de meia hora, os ônibus pararam, estacionando nas beiradas e deixando o meio livre. Paramos a Kombi no canto esquerdo, dando passagem para os carros, que seguiram em linha reta.

Eu, o pessoal da Kombi e as pessoas dos ônibus caminhamos em silêncio, seguindo os carros que iam devagar pela ponte iluminada. Apesar de estar tudo em silêncio, estávamos atentos e apontando nossas lanternas para a mata, a procura de qualquer coisa. Tínhamos que estar preparados para todo tipo de situação.

No fim da estreita ponte, chegamos a uma parte com vegetação muito alta. Seguimos Simone cegamente, até finalmente avistarmos algo que ela sempre nos falava sobre: uma estação ferroviária, com vários trens estacionados e trilhos que iam para direções variadas. Era chocante saber que aquilo estava ali, no meio da mata.

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