eu tenho um machadão

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11 de julho de 2021

Luana

Eu estava deitada de bruços na porta do vagão. Após a queda, a porta da direita ficou no chão e a porta da esquerda acabou se tornando o teto. Levantei meu corpo com dificuldade, limpei o sangue que escorria de meu nariz e encarei Matheus. Ele arrastou o próprio corpo até mim, acariciou meu cabelo, encostou sua testa na minha e respirou fundo.

– O bebê tá bem – disse ele ao acariciar minha barriga, mas ele soava como se não acreditasse nas próprias palavras. – Fica tranquila, meu amor.

– Eu sei – respondi, mais para tranquilizá-lo do que por acreditar nisso.

Não seria surpresa nenhuma se eu perdesse essa criança, afinal de contas, todo mundo sabe que grávida não pode se acidentar, muito menos no primeiro mês de gestação.

Matheus se levantou e me ajudou a ficar de pé. Leonardo estava de pé do outro lado do vagão, tirando as frutas e legumes de cima do corpo de Dandara, que estava desmaiada. Ele deixou-a sentada e estava tentando acordá-la. Era nítido seu desespero.

– Calma – disse Núbia. – Calma, Leonardo, ela já vai acordar.

– É – disse Rafaela. – Calma, Leo, vai ficar tudo bem.

Porã arrastou o próprio corpo até Dandara, acariciou o rosto da garota e começou a chamá-la baixinho, até que Dandara acordou.

– Que caralhos aconteceu? – Dandara perguntou com a voz rouca.

– É isso que a gente vai descobrir – disse Natália. – Me deixa subir nas suas costas, Leo? Vou tentar abrir a porta de cima.

Leonardo colocou Natália em suas costas e ela tentou abrir a porta, mas sem sucesso.

– Precisa de mais gente – disse Letícia. – Vem cá, Marcos, vou subir nas suas costas e eu e minha irmã vamos empurrar a porta.

Marcos seguiu as instruções de Letícia e ergueu a garota, que contou até três e empurrou a porta com a irmã. Após muito esforço das duas, a porta finalmente se abriu. As duas voltaram para o chão e ofegaram, dando um aperto de mãos divertido logo em seguida.

– Eu vou lá – disse Matheus, que correu e deu um salto, se segurando na parte de fora do vagão.

Não sei se foi seu peso ou o impacto de seu salto, mas o vagão se mexeu quando Matheus se pendurou e, em poucos segundos, voltou a tombar, fechando a porta novamente.

Continuamos sendo jogados de um lado para o outro, com os mantimentos sendo amassados por nossos corpos conforme caíamos. Até que ouvimos barulho de água e o vagão parou de rolar. Em alguns instantes, percebi que água estava entrando pelos buracos nas paredes de metal do vagão. Entrei em desespero.

– Merda! – xinguei.

– Eu não fiquei navegando pelos oceanos por dois anos pra morrer afogado numa lagoa! – gritou Matheus.

– Rápido, me ajuda a abrir a porta de novo! – Letícia gritou para nenhuma pessoa em específico.

Conforme nos levantávamos, o vagão afundava ainda mais. Estávamos todos pulando, tentando abrir a porta.

Metade do vagão já estava inundado, e foi apenas neste momento que percebi que Núbia era a única que não estava tentando abrir a porta. Segui a luz da lanterna debaixo d'água e encontrei-a caída no fundo do vagão. Mergulhei e nadei até ela, fazendo força para puxar seu corpo desacordado para cima. Chegando à superfície, ofeguei, necessitada de oxigênio, e puxei Núbia com mais força.

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