11 de julho de 2021
Letícia
Corremos até o topo da colina e chegamos até o trilho do trem. Nosso vagão havia se soltado do resto do trem, por isso ele rolou ladeira abaixo sozinho. Avistei um zumbi amarrado ao trilho, se debatendo e grunhindo. O trem ainda estava parado na ferrovia, pouco antes do zumbi.
- Psiu - alguém chamou, e parecia vir de dentro do trem.
Procurei e não enxerguei quem era o autor do chamado. Até que vi um reflexo vindo da primeira porta e corri até lá. Uma mão negra segurava um espelho e, quando puxei o objeto, a porta se abriu e revelou minha irmã e Porã. Sorri e abracei-as.
- Eu tava preocupada - falei.
Estiquei o braço para os que não haviam me seguido e chamei-os com agitação. Eles correram até mim e todos nós entramos no trem, fechando a porta logo em seguida.
- O que aconteceu com vocês duas? - perguntou Leonardo.
- A gente ia caçar, mas acabamos sendo caçadas - respondeu Porã. - Uma horda veio em nossa direção, então corremos para o trem e não saímos mais.
- E cadê o resto do pessoal? - perguntou Núbia. - Vocês não viram ninguém? Por que esse vagão tá vazio?
- Nós ouvimos vozes nos outros vagões - Natália respondeu. - Talvez eles tenham saído do trem pra ver o que aconteceu e acabaram deixando esse aqui vazio quando voltaram, não sei.
- Eu acho que a gente deveria ir atrás deles - sugeriu Rafaela. - Pra ver se tá tudo bem.
- É, também acho - concordei. - Vamos.
Abri a porta e caminhei até o próximo vagão. Dei três batidas na porta e ouvi grunhidos de agitação. O vagão começou a se balançar e, neste momento, eu soube que não havia ninguém vivo lá dentro. Olhei para trás e vi o medo no olhar de todos que me seguiam, principalmente em Núbia e Natália.
Segui em frente e repeti o mesmo procedimento no próximo vagão. Ninguém respondeu, mas percebi agitação ali dentro.
- Tem alguém aqui? - perguntei.
A porta se abriu. Uma senhora de uns quarenta anos me encarou e seu rosto demonstrou alívio. Ela fez sinal para que entrássemos e, quando o fizemos, encontramos várias pessoas espremidas umas contra as outras. Um senhor de idade estava machucado e o reconheci na hora: era o maquinista do trem.
- O que aconteceu? - Núbia perguntou diretamente para ele. - Por que nosso vagão se soltou do restante do trem?
- Eu tive que fazer isso pra todo mundo sobreviver - respondeu ele. - Tava muito escuro, não dava pra ver nada direito. Quando vi aquele bicho deitado nos trilhos, já era tarde demais. Tive que fazer uma curva enquanto freava e soltei nosso vagão. Enquanto o vagão começava a tombar para o lado, me joguei para fora do trem. Felizmente todo mundo ficou bem.
- Por pouco - disse Marcos. - A Núbia quase morreu afogada, mas tá tudo bem.
- A gente quase teve hipotermia, mas tá tudo ótimo - Matheus ironizou.
- O importante é que tá todo mundo bem agora - disse Luana. - Cadê os outros?
- Então... - uma garota asiática sorriu com nervosismo. - Nem todo mundo tá bem. Aquele segundo vagão tá cheio de mortos porque um deles entrou lá e começou a atacar todo mundo. Nós precisamos trancar o vagão por fora pra que ninguém mais fosse mordido.
- Quem tava lá? - perguntei. - Minha mãe tava lá?
- Não, sua mãe tá bem - a garota me tranquilizou. - Ana Carolina também tá bem, Núbia, fica tranquila. Ela e Simone estão no próximo vagão.
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Inverno dos Mortos
PrzygodoweNesta continuação de Verão dos Mortos, Núbia e seus amigos saem de Peruíbe, numa tentativa de retornar ao Oliveirinha e derrotar Jorge. Só que o caminho está mais perigoso ainda, com zumbis mais rápidos que nunca.