O libertador das chamas - parte 2

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Mordereg alisava os longos fios do bigode enquanto observava o horizonte. Aquele era o último porto à leste, o único em que embarcações partiam para a chamada "Baía dos ladrões", no inexplorado continente de Sur Aspan.

Um nome sugestivo que explicava bastante sobre os frequentadores do local e seus olhares desconfiados. Porém um mago imponente como ele, rivalizava em risco e perigo com qualquer guilda de criminosos, o suficiente para não ser intimidado. Apenas uma regra era seguida ali: "Não intrometer-se em negócios que não lhe dizem respeito", e isso dificultava a missão de investigação do mago.

Os ferreiros tirakans eram os mais famosos do mundo. Graças à sua resistência ao calor, possuíam a habilidade de moldar o metal incandescente com as próprias mãos, isso permitia construções únicas e poupava bastante tempo a seus empregadores. Obviamente a seleta clientela movimentava uma fortuna considerável nas forjas que não parecia compatível com a arrecadação do imposto real, e o mago mercenário foi contratado por um conselho de casas reais para investigar o caso.

Aparentemente algo como uma "guilda" exclusiva de ferreiros tirakans, estava cobrando seu próprio "imposto". Depois de muito tempo seguindo rastros inócuos, ele finalmente encontrou um certo "padrão" sussurrado em segredo nas forjas: "Unusum Maligav". E após anos tentando descobrir a origem do termo, a correspondência mais promissora que conseguiu foi de antigos mapas de viajantes de Sur Aspan. Uma região desértica chamada Onosoam.

Inúmeros tirakans embarcavam para o leste a partir dali, e Mordereg decidiu acompanhá-los. Após cinco dias em alto mar, o primeiro sinal de terra firme eram as nuvens negras que cobriam o topo de vulcões imensos no horizonte. Se a oeste do mar, o porto era uma visão decadente; a Baía do Ladrões por sua vez, parecia ao mago uma imensa metrópole caótica, com inúmeras construções de madeira suspensas sobre as águas, ou bordeando as encostas rochosas do litoral.

Mordereg havia viajado por muitas terras antes, mas nada tão cosmopolitano como aquela cidade portuária. Milhares de pessoas circulando pelas ruas estreitas, de várias raças, inclusive rivais históricos, sem que isso representasse qualquer problema.

O mago sentou em uma taverna lotada, e sem muita cerimônia depositou um punhado generoso de moedas sobre o balcão dirigindo-se ao responsável pelo local:

— "Unusum Maligav" O que pode me dizer sobre isso?

O taberneiro apanhou o dinheiro com um sorriso, acompanhado dos olhares soturnos de muitos clientes.

— Não precisa de toda essa discrição mago, essa não é uma informação sigilosa por aqui. Embora sua curiosidade provavelmente te leve a colocar a vida em risco à toa.

— Menos conversa e mais informação, por favor — pediu Mordereg com um intimidador brilho no olhar.

— Tudo bem. Unusum Maligav, é como os lagartos chamam sua cidade além do deserto.

— Você já foi até lá? — perguntou enquanto o homem lhe servia a bebida.

— Está brincando? Os únicos humanos que vão para lá são aqueles do mercado de escravos, e tenho certeza que não é por vontade própria.

— Há algum jeito de eu chegar lá?

— Senhor, aqui nesse lugar eu aprendi que tudo de estranho pode acontecer pelo preço certo. Então se você realmente faz questão, todos os dias caravanas saem do mercado até lá. Mas se me permite o alerta: mesmo que não faça parte da "carga", a região não é "favorável" à presença de pessoas como nós por lá. Mas afinal de contas, o senhor é um mago. Talvez nossas limitações não sejam problema para você.

— Mais uma pergunta — disse Mordereg depositando mais algumas moedas sobre o balcão — o que pode me dizer sobre as operações de uma certa guilda de ferreiros tirakans?

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