1. O som da dor

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Deitado no silêncio
Esperando pelas sirenes
Sinais, quaisquer sinais de que ainda estou vivo
Eu não quero enlouquecer
Eu não estou conseguindo passar por isso
Ei, eu deveria rezar?
Deveria me refugiar
Em mim mesmo, em um Deus
Em um salvador que possa ....

A noite parecia mais escura que o normal, o vento ouriçando os seus fios loiros e assanhados, seus pensamentos diversos pareciam distantes, mas ela ainda era ela.
Pouco sabia-se o que se passava dentro de seu casulo pessoal e tão secreto o qual ninguém saberia ou teria coragem de decifrar, mas ainda assim, ela era ela. Um sentimento diferente lhe assolava agora, perdida em acontecimentos, realidade e pensamentos ela tentava se mostrar forte, audaz e cheia de si. Mas a verdade é que agora ela carregava em si um peso que não lhe cabia sozinha, tudo era demais e lhe atingia de uma forma diferente, profunda e sem pudor.

Ela se via perdida e sozinha, a admiração pela vida e tudo o que ela poderia lhe proporcionar se rasgaram junto com um papel onde lhe afirmava que seus dias estavam contados, mas ela não queria acreditar. Ela não queria pensar que se entregou de corpo e alma para a vida e tudo o que ela lhe ofereceu foi uma enorme banana mandando que ela se ferrasse.

Tudo era frio e gélido como esta noite que ela apreciava pela sacada de seu apartamento. Ela não achava nada disso justo, o que teria feito ela para merecer tal castigo? Que preço é esse tão alto que ela deveria pagar por algo que nem se quer ela cometeu? Nada disso fazia sentido dentro de si, mas naquele momento era tudo o que ela tinha .

Remendar o que foi quebrado
Desdizer estas palavras ditas
Encontrar esperança na falta de esperança
Me tirar desse desastre
Desfazer as cinzas
Desencadear as reações
Eu não estou pronto para morrer, ainda não...

Bem de longe seu telefone tocava, mas seu corpo não reagia e não possuía a mínima vontade de atendê-lo. Mas ela não aguentava mais o toque estridente que ecoava junto com os soluços de seu choro.


Call on

- Alô!

Sua voz quase não se ouvia, mas seu desespero era quase que palpável através dela

- Mer, você está chorando?
Está tudo bem?

Perguntou a mulher de voz dócil e amigável que agora soava preocupada do outro lado da linha

- Maggie, eu não posso falar agora, preciso ir.

Sua voz lhe denunciava, nada estava bem, mas ela teimava em se fazer de forte

- Mer, não... Por favor...

- Tchau, Maggie.

Call off

E junto da ligação seu corpo desligou-se para o mundo e fundiu-se ao chão trazendo consigo um longo silêncio.
Nada mais tinha cor e magia para si,
tudo tornou-se preto, branco e sem graça.

Me puxe para fora do desastre
Me puxe para fora, me puxe para fora
Me puxe para fora, ooh
Me puxe para fora, me puxe para fora...

••••••

Enquanto tudo desmoronava em um canto de Seattle, do outro, tudo parecia uma eterna festa, luzes coloridas, música ao vivo, pessoas com seus devidos trajes e adornos corporais, a noite era fria mas nada os impedia de viver a magia de uma noite agitada. Andrew Deluca se encontrava no meio disso tudo, mas não da forma que almejava, porém ele tinha sonhos. Sonhos estes que lhe fizeram abdicar de alguns privilégios e momentos na vida, tais como estes. O que não precisava ser um problema, mas em sua idade o que era mais prazeroso e divertido do que uma noite regada a muita bebida, comida, mulheres e amigos? Andrew tinha sonhos e nenhum deles incluía viver nada disso agora, e era esse seu foco que lhe trouxera até aqui na intenção de lhe ensinar muito mais que montar pratos, fazê-los e servi-los.

Maktub- MerlucaOnde histórias criam vida. Descubra agora