8. Um bom coração

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Ancorado em pensamentos longevos, embrulhado em dúvidas, incertezas e preocupações, Andrew Deluca preparava as provas para o grande evento. A perfeição não existe, mas, Andrew Deluca sempre tomou pra si como uma teoria absurda, para ele era só uma questão de conquistar, se doar, mergulhar e se dedicar até o seu limite, este era seu conceito
de "perfeição". Mas no momento ele não sabia o que mais lhe afligia, a ansiedade por este evento ou o sentimento nebuloso sobre Meredith Grey. Certamente um pensamento tosco e equivocado, mas cheio de sinceridade e emoções reais,
das quais ele nem se quer poderia esquivar, ainda que desejasse.
Bem sabia que na falta de uma reciprocidade tudo poderia se tornar um dolorido tiro no pé.

Acaso saberia ele quanto tempo tinha e o quanto duraria o "agora" para poder renegar o que não devia 
e verbalizar o que sentia? Bom, ele não era nada acertivo neste jogo de adivinhas, mas tomado de coragem e paixão no peito, ele só precisava organizar e expelir o que queria...

Um amor a primeira vista ou somente vislumbre da carência?

As horas pularam no relógio o fazendo se dar conta de que o dia havia escapado por entre seus dedos e ele nem se quer percebera.
De todo, isso não era algo ruim, porém o amanhã viria e com certeza com as consequências de uma noite mal dormida. Mas para ele estava tudo bem, virar o dia ou a noite  fazendo o que ama era como investir em uma obra de arte exclusiva de sua própria autoria.

- Chefe, ainda está aí... me desculpa.... É  que as vezes eu tenho insônia e prefiro ficar organizando a dispensa, cardápios, listas e planejamentos..

Kepner se explicava tomada de nervosismo com sua voz tremulante quando se deparou com a figura masculina em sua frente

Andrew não sabia que ela fazia isso, pelo menos nunca presenciou e nem desconfiou, Afinal, April morava há um quarteirão do estabelecimento, mas até então ninguém desconfiaria ou nunca desconfiou do seu escape noturno.

- Me assustou April.

Verbalizou  suavizando seu tom ao terminar a frase e vidrado em seu dedo indicador que agora escorria um líquido vermelho aguado

- Ch-chefe, está sangrando minha nossa, foi culpa minha. 
Me desculpa, por favor!

- Para, está tudo bem. Não é nada que não tenha acontecido antes, foi só um corte. Mas escuta, você não pode ficar vindo aqui toda vez sem ninguém saber tarde da noite, pode pegar mal e você pode se encrencar também!

- Sim, claro. Me desculpa eu deveria avisar ou pedir, eu não sei o que estava pensando... Mas eu não  sabia para onde ir ou o quê fazer então sempre venho pra cá onde é o meu refúgio quando não  consigo rezar, eu tenho passado por algumas coisas ruins, não  gosto de incomodar e tenho vergonha de me expor. Mas não vai se repetir, me desculpa...

Seu tom era carregado de tristeza e seus ombros encolheram-se a medida que cada frase saltava de seus lábios, ela realmente precisa de ajuda e um ombro amigo

- Kepner, eu não fazia ideia, mas você sabe que aqui somos como família e pode falar comigo sempre que quiser. Se eu puder ajudar sempre o farei. Não precisa se envergonhar ou ter medo, mas não  se arrisque assim e vamos procurar uma ajuda médica pra você.

Andrew era compassivo e de um coração enorme. Ele sabia que "coisas ruins" poderiam ser um inferno, em sua época se faculdade ele também passou por maus bocados e não desejava isso a ninguém, mesmo que não soubessem toda sua história.
Ele sabia como era cair e não ter um amortecedor para lhe segurar

- Eu agradeço e mais uma vez me desculpe. Não faço ideia de como agradecer..

As lágrimas eram nítidas em seu rosto branquinho como a neve e levemente avermelhado pelo choro

Maktub- MerlucaOnde histórias criam vida. Descubra agora