A Quetzaia - Parte 1

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Buscando aprovação de seu povo, Alareya se tornou uma deusa.

Com seus olhos negros, peito e penas cinzentas, ela foi considerada amaldiçoada pelo pai que decidiu abandonar a família. Cresceu a margem do bando. Era excluída pelas Quetzaias de mesma idade e vítima de bulling pelos Quetzals. Jurou para si mesma de que iria fazer todos eles a respeitarem.

Tendo sua inscrição para o exército rejeitada, Alareya se submeteu a trabalhos de transporte de cargas e plantio nas lavouras de pedras. No início, seus chefes faziam de tudo para que ela não finalizasse seus afazeres, aumentando o peso das cargas, diminuindo o tempo das entregas, indicando a quebra de rochas cada vez maiores e ordenando cada vez mais o plantio de "citras"(flor de 5 pétalas arroxeadas que gera um fruto muito utilizado no preparo de alimentos), para terem desculpas ao diminuírem os seus pagamentos. Não baixou sua cabeça para as dificuldades impostas e com esforço redobrado, pensando no futuro, se esforçou além do seu próprio limite para realizar as tarefas, apesar das dores constantes nos braços e nas costas.

Com o passar do tempo, tornou-se a joia dos patrões que aprenderam a admirá-la. Fazia as entregas mais longas e urgentes, voando numa velocidade aquém que qualquer Querzal adulto poderia fazer, carregava as maiores encomendas e moía pedras e rochas facilmente, munida apenas de sua picareta.

— Alay, acredito que chegou a hora de você tentar entrar no exército novamente — disse Quirya, sua mãe, deitada na rede coberta por suas asas.

— Não sei Mah, ainda continuo sendo a "alada das trevas", como eles adoram me chamar — respondeu cabisbaixa — Infelizmente eles só enxergam as cores das minhas penas e não o que tenho a oferecer.

— Existe uma maneira de você ser aceita!

— Como assim Mahma? — falou surpresa.

— Um combate! Desafie a melhor guerreira alada, se obtiver a vitória, elas terão que te aceitar na tropa e mesmo que perca, se tiver uma luta honrada, ganhara o respeito das demais que podem votar para aceitá-la ou não na equipe.

— Impossível! Lyira é a melhor guerreira, eu não tenho nenhuma chance contra ela.

— Você é mais forte do que imagina Alay, confie em si e lembre-se da promessa que tantas vezes a ouvi repetir. Não vou durar muito nesse mundo e a guerra se aproxima.

A guerra havia chegado e com ela sua mãe adoecia cada vez mais. Tentou de tudo para conseguir os remédios que se tornavam mais difíceis de encontrar e cada vez menos eficazes. Largou o trabalho contrariando a alta demanda e passou os últimos dias cuidando da Quetzaia que a trouxe para o mundo e a amou, acima de qualquer ódio que tenha recebido dos demais. Quando a luz deixou os olhos de Quirya, ela chorou. Quando as lagrimas secaram e a razão se impôs perante os sentimentos, soube o que deveria fazer.

Foi até o pátio do exército e exigiu um combate com a guerreira mais forte.

Lyira com suas garras que cortariam um naco de carne sem qualquer esforço e com sua plumagem esverdeada de dar inveja em qualquer Quetzaia, olhou Alareya de cima a baixo inspecionando-a.

— Esta regra não se aplica a você, "Alada das trevas", apenas aos exilados e guerreiros caídos que buscam uma oportunidade de terem seu status renovado, podem se beneficiar dela. — disse Lyira lançando um olhar de desprezo que só a alta classe dos Quetzels sabia fazer. — Mas a guerra já nos alcançou e toda ajuda é necessária, porem, você terá que provar seu valor! Vá até o desfiladeiro de Kaakza e resgate os guerreiros capturados e eu a aceitarei em minhas tropas.

Um murmúrio se espalhou entre as Quetzaias: "Impossível", "Apenas um exército poderia tentar salva-los, ela não tem chance", "é uma missão suicida", "ela é fraca", "não vai durar até o nascer dos sóis"...

— Eu irei! — respondeu contrariando o falatório.

Contos de AlyngardOnde histórias criam vida. Descubra agora