Alareya vestiu a armadura que lhe deram. As amarras frouxas e o metal rachado com marcas de ferrugem, indicavam que as guerreiras não tinham esperanças de sua volta. Olhou nos olhos de Lyira que parecia se divertir com a situação e se alçou aos céus.
Antes de se encaminhar para o seu destino, passou na lavoura, que por tanto tempo foi seu ganha-pão, e colheu com muito cuidado uma dúzia de Citras. Rezou em silêncio para sua mãe pedindo coragem e forças para o que teria de fazer. Alongou a plumagem de seus braços, chacoalhou a cabeça se livrando de qualquer medo que ainda a dominasse e partiu para Kaakza.
O desfiladeiro era uma armadilha como ela previra. Tendo apenas os céus como entrada principal, os inimigos que lá se encontravam se prepararam para defender seu espaço com diversas armadilhas. Alareya se posicionou de maneira que não pudesse ser vista do alto e aguçou seu olhar aquilino procurando pelos prisioneiros. Cinco Quetzaias se encontravam dentro de uma jaula no centro do acampamento. O resgate sem combate seria impossível.
Com seu plano improvisado em mente, ajeitou a bolsa em seu peitoral, cruzou os braços em forma de "xis" na frente do corpo, inspirou profundamente uma última vez e se jogou para dentro do desfiladeiro.
***
O primeiro guerreiro que notou sua presença berrou para os demais. Utilizando a força bruta de seus quatro braços das costas, girou uma válvula ativando uma armadilha. Um lençol de chamas cobriu o acampamento bloqueando a luz do luar. Os guerreiros de cabelos compridos, olhavam para o céu que queimava prontos para a batalha quando um vulto cinzento atravessou a cortina avermelhada.
Alareya sentia o ardor percorrer seu corpo. Suas penas se tornavam frágeis. A queda parecia cada vez mais perigosa. Flechas incandescentes chacoalhavam o ar ao seu redor emitindo um ruído quando passavam. Medindo com precisão a distância entre ela e o chão, esticou seus braços com muito esforço e planou no ar a poucos centímetros da gaiola retangular que prendia as Quetzaias.
O olhar incrédulo das guerreiras diante aquela aparição cinzenta, possuíam um misto de satisfação e medo.
Pousou na grade e com as garras dos pés agarrou o metal. Não esperou por gritos de alegria, escutava apenas o crepitar das chamas e o berro dos inimigos. Flexionou os músculos e bateu as asas levando consigo a jaula. As penas danificadas e o calor, tornavam o resgate desgastante. Usava toda força que tinha para conseguir escapar através da cortina rubra quando uma flecha disparada se cravou em sua perna. Com o cansaço do esforço e a dor que irradiava do ferimento, soltou a jaula deixando as companheiras de mesma espécie cair de volta aos braços dos inimigos.
O ardor em seus olhos, misturado com o fracasso, fez com que lágrimas irrompessem. Determinada a provar o seu valor, abriu sua bolsa e tirou de dentro as Citras. Adentrou o céu em chamas e deixou o fogo envolver seu corpo.
O som de uma montanha sendo demolida irrompeu em meio a uma explosão arroxeada. A reação das pétalas da flor sendo partidas, criou rochas que desabaram como uma chuva sobre o acampamento, destruindo armadilhas e construções. Os guerreiros de seis braços que não morreram esmagados, tentavam correr para salvar suas vidas.
***
Imaginando-se coberta pelo fogo, Alareya acordou gritando. Desorientada, observou o ambiente ao seu redor e constatou que estava em uma tenda. Cinco figuras se encontravam ajoelhadas entorno de sua cama.
— O que está acontecendo? — perguntou — Como vim parar aqui?
A alada mais próxima se levantou.
— O seu ato de heroísmo me salvou — disse Niraye olhando para as outras ajoelhadas — Nos salvou! Após provocar a chuva de pedras, a luz da lua banhou seu corpo e impediu que você caísse para a morte certa. De alguma maneira o poder da flor foi infundido nas suas penas.
— Do que você está falando? — olhou para seus braços cobertos por uma plumagem com tons de azul e roxo formando pequenos cristais rochosos nas pontas.
— Você foi abençoada pela Lua! — falou com a emoção transbordando em sua voz — Você é o que temos de mais próximo das deusas agora — finalizou envolvendo a mão calejada de Alareya com um beijando.
Um desespero repentino invadiu seu corpo. Livrou-se das mãos de Niraye, levantou-se da cama e saiu correndo da tenda. O Sol penetrou seus olhos enquanto ainda tentava se ajustar a iluminação. Uma revoada de Quetz se encontravam barrados apenas por um cordão formado de guerreiras aladas. O bando ao avistá-la se ajoelhou um a um fazendo uma reverência.
Lyira se aproximou. Ficou de frente para a Quetzaia, sustentou seu olhar encarando-a e com uma mesura, se ajoelhou.
Fim.
🗨️Curiosidades:
🤔Pensando com meus botões em uma maneira de expandir o universo apresentado na história "Eu desejo", tentei imaginar um povo rival que batesse de frente com as criaturas de 6 braços e longas e honradas madeixas. Assim foi criado os Quetz, seres alados esguios com corpo preenchido de penas coloridas e grandes garras fortes.
🐦🦅A Raça dos Quetz foi levemente inspirada em uma espécie de pássaro chamada Quetzal, são umas coisinhas muito fofas se vc for pesquisar rsrs
🏵️A flor de Citra possui uma rara magia que quando reage com o calor, faz com que cristais se formem e ajudem a quebrar ossos das caças nas receitas. Seu plantio é dificultado pela sensibilidade das pétalas q ao quebrarem, por força do vento mesmo, criam rochas que precisam ser pulverizadas evitando assim uma reação em cadeia.
😵(Coitada da Alareya quando batia um vento um pouco mais forte ou se os chefes resolvessem sacanea-la neh)
😜Deixe suas duvidas, críticas e comentários.
❤️Obrigado por serem os melhores leitores e leitoras sempre!!!
😉Um abraço cheio de penas e até a próxima!
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Contos de Alyngard
FantasySeja Bem-vindo(a) à Alyngard, um mundo recheado de criaturas fantásticas, magia e muita aventura. Conheça as histórias que permeiam esse local e conheça personagens inesquecíveis enfrentando perigos e batalhas internas.