Capítulo Dois - Minha Chegada

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Nada nunca acontecia em Jukaly, isto é, até minha chegada, até a chegada de Sewenger Wolf. Após tanto tempo sozinha na estrada eu percebi como eu sou forte e independente, isso fez meu orgulho voltar a mim. Foi bom, foi duro e doloroso, porém bom. Isso me lembra do tempo em que eu estava realmente sozinha, quando saí de Helenia para realizar minha missão. Uma missão que me foi dada pessoalmente pela minha coronel, uma mulher que eu respeitava muito, até descobrir certas coisas. Naquele tempo eu era outra elfa, outra Amyliss, uma mais amarga, durona e talvez até um pouco má. Isto é, até o grupo no qual eu me encontrava se formar lentamente e se tornar o Trevo da Força.

Muitas coisas passaram pela minha cabeça nos dias em que estive só. A fome e a sede me abateram, as chuvas constantes me fizeram mal e o fato de que minha única companhia era um cavalo que eu mal tinha algum laço, tornava as coisas ainda mais complicadas. Em alguns momento eu me arrependi de ter feito a escolha de abandonar meus amigos, em outros momentos eu me arrependi de ter conhecido todas aquelas pessoas, em raros momentos eu me arrependi de ter me tornado uma Svart Katana. Foi uma viagem cheia de arrependimentos. Foi uma merda de uma viagem, e honestamente? Na época eu mal sabia o por quê de estar fazendo tudo aquilo.

Mas confesso que... quando saí do bosque que depois descobri que se chamava Bosque Morro do Troll, por algum motivo que nunca entendi; avistei aquele castelo solitário na paisagem, rodeado por muralhas e campos... eu percebi como tudo aquilo estava valendo a pena. Eu estava prestes a encontrar a razão da minha insônia e talvez o único amigo que eu pudesse encontrar em dezenas de quilômetros, num país repleto de humanos que me odiavam e me queriam ver morta, no mínimo.

A paisagem era bela, sempre foi. Deixando o bosque eu percebi como as casas do lado de fora da muralha estavam quietas, o silêncio era esquisito. Eu andei calmamente, puxando o cavalo, não fui montada. Percebi que estava sendo observada, tanto de dentro das casas silenciosas, como das muralhas. Os soldados nas ameadas me observavam, alguns faziam movimentos hostis, preparando bestas. Há algumas dezenas de metros da muralha um homem finalmente quebrou o silêncio.

- Quem vem lá? - dizia o guarda num tom de autoridade que me incomodava, eu já estava faminta e exausta, aquela conversa iria apenas me irritar mais.

- Apenas uma elfa buscando abrigo e descanso - é claro que eu menti, eu não poderia simplesmente dizer quem eu era, eu ainda nem tinha certeza de que era mesmo o Sewenger que estava no controle da cidade, talvez desse certo.

- A senhora pode seguir pela estrada, não estamos recebendo visitantes no momento - pronto, eu já estava irritada. Mas eu tinha que manter a compostura, não queria estragar minha chegada com uma conversa tosca com um guarda qualquer, eu respondi.

- Estou bem cansada, senhor - quase cuspi essa palavra - gostaria apenas de passar a noite

- Infelizmente senhora, tenho ordens de manter o portão fechado para todo e qualquer visitante que venha do Leste - justamente de onde eu vim, agora minha irritação se tornou em intriga.

- Há algo em específico no Leste?

É claro que havia. Eu vim de lá e vi o que havia demais no Leste. Morte.

O que há no Leste

Durante minha viagem para Jukaly eu passei por uma única vila, era uma vila operaria bem singela, construída no entorno de algumas minas de prata. Até aí tudo bem, a vila possuía algumas dezenas de casas, uma grande casa com uma torre, provavelmente devia ser onde o cônsul da vila morava e onde as finanças eram feitas. Eu digo 'provavelmente' por que estou supondo algumas coisas, a vila se encontrava inteiramente queimada, e pior, os corpos das pessoas estavam por lá, alguns deles. Mas tudo isso é normal, afinal estávamos num país em guerra com outras duas nações, ataques, pilhagens e coisas do tipo são esperadas. Mas o mortos não estavam apenas mortos, eles se levantaram.

Sete Dias de CondessaOnde histórias criam vida. Descubra agora