Maturidade

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Pucca demorou um pouco mais do que o normal no banho, lavando seus longos cabelos pretos. Os pensamentos da garota permaneciam longe, questionando se aquela era realmente a coisa certa a se fazer.

Mas se essa não é, qual será?

Continuar apegada a alguém que não a ama de volta, perseguindo o mesmo garoto pelo resto de sua vida em troca de nada? Isso com certeza não vale a pena, e é uma forma miserável de desperdiçar a própria vida.

Pucca nem mesmo percebeu quando saiu do banho e se trocou, quase como se estivesse fazendo aquilo no automático. Ela observava a vila pela janela, enquanto secava o cabelo molhado com uma toalha. Algumas gotas pingavam no chão, nada que um pano não resolva depois. A mulher permaneceu no quarto por mais 10 minutos, até sair e descer as escadas do restaurante para se encontrar com Ching.

Vozes foram ouvidas vindo da cozinha. Pucca respirou fundo, sabendo que seria um momento de surpresa para os tios dela. Criando coragem, ergueu o queixo e abriu as portas do cômodo. Todos os quatro presentes se viraram na direção dela. Os olhos de Dumpling e Ho estavam marejados, enquanto Linguini parecia completamente sem palavras.

— Pucca, isso é verdade? O voto, você quebrou ele? — Ho foi o primeiro a perguntar, mostrando que Ching já havia contado para eles sobre a novidade.Pucca encolheu os ombros, desviando o olhar com receio. Mas logo assentiu, sabendo que não conseguiria esconder aquilo por muito tempo. 

— Eu sinto muito, sei que foi inesperado, mas a honra da nossa família não será perdida e- — A mulher de maria chiquinhas não conseguiu terminar a frase, antes que seus tios corressem até ela e a prendesse em um abraço apertado. Nesse ponto, todos os três estavam chorando. 

— Você acha que nos importamos com honra? Deus, esse é o melhor presente que poderíamos receber! — Dumpling falou, um sorriso grande em seu rosto. 

— Achamos que não ouviríamos sua voz nunca mais. — Foi a vez de Ho falar, lágrimas de alegria descendo por todo o seu rosto. 

— Seus pais estariam tão orgulhosos. — Linguini, como os irmãos, não fazia questão de esconder a felicidade que estava sentindo.Ching observava toda a cena, sua face radiante pelo belo momento de família acontecendo na sua frente. Ela aguardou que todos se recuperassem da emoção, até Pucca lembrar os tios que o restaurante ainda estava aberto, e caminhar na direção de Ching para elas saírem juntas. E foi exatamente o que fizeram, após se despedir dos três homens ali. 

Ambas saíram do restaurante e começaram a caminhar na direção da casa de Ching, para treinarem no Dojo. Pucca permaneceu quieta durante todo o caminho, como se não tivesse quebrado o voto. Ela não queria atrair uma atenção desnecessária para si e causar escândalo na cidade. Mas assim que chegaram no local desejado e começaram a treinar, ela se soltou.

Aquilo era maravilhoso. Ela conversava com Ching, ria, e principalmente, falava tudo o que quis falar e foi obrigada a guardar para si por anos. Pucca não sentia uma sensação tão boa quanto aquela há muito tempo. Durante aquelas poucas horas que as meninas passaram ali, ela se esqueceu do sofrimento que sentia por Garu, parou de pensar nele como faria na maior parte do tempo, e apenas se divertiu.

Então, no meio da tarde, as amigas resolveram voltar para Goh Rong, já que ambas estavam famintas. Ching sorria e observava a cidade enquanto elas andavam, até uma dúvida se passar pela mente dela. A mulher de tranças se virou na direção de Pucca, a olhando com um leve tom de preocupação em sua face.

Eventualmente, Pucca notou. Ela se virou para Ching e ergueu a sobrancelha. — O que? Tem algo no meu rosto?

— Não não. — Ching sacudiu a cabeça em um sinal negativo, erguendo as mãos defensivamente. Ela começou a mexer no cabelo, refletindo em como colocar seus pensamentos em palavras. — É só que... Realmente te apoio 100% na escolha de superar Garu, mas sei que não será nada fácil. Ele está no nosso círculo de amizades, sempre visita ou faz pedidos de entrega no restaurante dos seus tios. Percebi como mesmo indiretamente, Garu faz parte do seu dia a dia. Não pode simplesmente evitá-lo.

— Mas eu vou. — Pucca respondeu rapidamente, de forma determinada. — Agora que sei como ele se sente, não vou mais ficar o agarrando, nem sendo amorosa. Não vou tratar Garu mal, de forma alguma, mas sei que preciso manter uma distância emocional segura. Ele não me ama, e vou seguir em frente, é o que importa agora e é o que preciso manter em mente como lembrança e objetivo.

Ching sorriu orgulhosa, continuando o caminho alegremente. Ela notava um claro amadurecimento vindo de Pucca. Porém, assim que elas chegaram no restaurante e abriram a porta, o assunto anterior estava lá, sentado em uma mesa, segurando o cardápio.

Pucca sentiu o coração dela errar uma batida. Garu. Ela não notou quanto tempo ficou ali, só acordando de seu transe quando percebeu que Ching já havia se sentado em uma mesa.

Ela respirou fundo e começou a andar na direção da mesa em que sua amiga havia se sentado.

Força, Pucca. Você tomou sua decisão, acostume-se com ele e trate como se fosse um amigo como qualquer outro.

No momento que Garu avistou Pucca, ele se escondeu atrás do cardápio, ação que não passou despercebida pela tal. Raiva tomou o rosto da mulher de vestido vermelho, que apenas passou direto pelo ninja e se sentou ao lado de Ching.

Garu esperou, e esperou, e continuou esperando pelo ataque de beijos e abraços. Mas nada veio. Achando a calmaria estranha, abaixou o cardápio do rosto, apenas o suficiente para ver Pucca sentada longe. Ela até mesmo estava de costas para ele. O ninja colocou o cardápio sobre a mesa, analisando a situação.

Pucca não havia o visto? Não, é quase impossível. Ela está brava com ele? Ou... 

Ela desistiu de mim? — O pensamento passou pela mente de Garu. As palavras dele no dia anterior voltaram a sua mente. Ele desviou o olhar, analisando aquela possibilidade. Um suspiro saiu, e um sorriso surgiu no rosto dele, enquanto continuava a pensar. Um dia sem beijos, abraços, incômodos durante o treino, soava muito bom. Ótimo, até.

— Ele está sorrindo, isso é tudo. — Ching comentou, vendo a expressão Garu de canto de olho. Ela havia contado para Pucca como ele havia reagido.

— Que bom, ele vai sorrir muito quando eu continuar agindo assim pelo resto da semana, do mês, do ano. — Pucca apoiou o rosto na mão, bufando irritada. — Babaca.

Ching riu pelo comentário final da outra, decidindo brincar um pouco para aliviar o clima. — Pucca dizendo que Garu é um babaca? Quem é você e o que fez com minha amiga?

Ambas riram juntas, pegando o cardápio para pensarem no que pedir.

Gestos também machucam - GaruccaOnde histórias criam vida. Descubra agora