O sabor da vitória

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Em minha casa era o próprio inferno: meu pai, um alcoólatra desgraçado; minha mãe, morta; minha irmã, perdida em drogas. Eu? Viciada em adrenalina, dependente de perigo.

Depois de ter sido colocada em listas negras dos principais cassinos de Vegas, nos quais  eu podia  conseguir  dinheiro de forma fácil, fui em busca de mais. 

Conhecia algumas pessoas no mundo dos rachas e corridas ilegais, mas nunca tinha me envolvido. Comecei a frequentar esse tipo de lugar e descobri um novo vício: correr. O problema é que eu não tinha carro  próprio e ninguém emprestaria. Foi assim que roubei pela primeira vez na vida. 

Nunca sonhei em fazer algo assim. O que mamãe pensaria? Talvez aqueles velhos nojentos da mesa de poker estivessem com razão, eu era uma ladra, uma delinquente. Eu não tinha mais limites, eu queria, eu pegava, eu tinha. 

Não era o carro, não tinha nada demais, mas mesmo assim o coloquei na linha de partida. Todos ficaram surpresos – era minha primeira corrida – pois todos tinham automóveis  tunados, com nitro, potência e muitos cavalos a mais que o carro que eu tinha roubado. 

Novamente me sentia como um pedaço de carne podre em meio a abutres famintos.

Tecnicamente, qualquer um que corresse contra mim já tinha a corrida no papo. Até mesmo eu achava isso. Mas no momento em que o sutiã da mulher que deu a "largada" caiu no chão, tudo sumiu. Eu me senti poderosa. Eu me senti no controle. Eu me senti viva. Parecia que meus sistemas haviam se  conectado ao carro, e em minhas veias corresse não sangue, mas sim gasolina, pronta para implodir todo o meu ser.

O carro ao lado aparentava  estar me provocando, como se dissesse: vou pegar leve com você novata. Ele só acelerou de verdade quando vimos a aglomeração esperando para anunciar o vencedor óbvio daquela corrida ridícula. 

Só que eu nunca me entregaria assim. Lembro-me de ter sorrido sentindo um desejo insano de continuar com aquela sensação de poder e controle. Acelerei mais, joguei a frente do carro que dirigia na traseira do outro e ele perdeu a direção, batendo ao lado. 

E eu ganhei a corrida. 

Com a adrenalina, meus pulmões funcionam direito. Era como se não fosse mais a gravidade que me prendesse à terra, mas sim o conglomerado de emoções que havia sentido.

O homem que cuidava das apostas era um moreno alto, de olhos verdes e com um jeito muito mal humorado. Ele me entregou a bolada da corrida, estreitando os olhos, descontente. 

Estava ofegante. Meu sangue corria velozmente por minhas veias, como fogo. Eu  me sentia tão viva, quase da mesma forma que me senti quando resistia aos velhos jogadores de poker, sob o olhar indescritível do de íris rosas, que me perseguiam desde o cassino, sempre invadindo minha mente. 

Observei-o caminhar até um Maserati  negro com detalhes em vermelho, a janela abaixou um pouco e ele se curvou para falar com o motorista. Entregou um bolo de notas igual o meu para o mesmo, então virou e me encarou. Eu sorri, pois era inevitável. Ainda sentia a adrenalina em minhas veias e saber que mais alguém apostou na novata com um carro totalmente comum... 

Eu me sentia foda!

E eu me senti mais ainda quando, depois de um tempo, descobri quem era o dono do Maserati . 

Elixir: o sabor da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora