Quando se vive tanto tempo quanto eu, as coisas perdem sentido. Você não sente nada, a importância das coisas é reduzida a zero. Eu perdi minha família. Amigos. Amores. Posses. Perdi tanto que em algum momento achei que nunca mais me importaria com alguém. Então, ela apareceu.
Hinata tinha garra. Ela não desistia ou duvidava de si mesma. Eu podia ver que, por mais que houvesse escuridão em sua vida, seus olhos tinham um brilho especial. Quando a vi pela primeira vez, notei tudo em seu olhar. Ele gritava por socorro, mas não era sobre a situação que estava. Ela era como eu. Vazia. Lutando desesperadamente para se sentir viva. E eu sabia bem que nada te faz sentir mais a vida do que a sensação de escapar da morte.
Por isso, segui, observei e vigiei cada passo dela. Sacrifiquei cada ameaça. Até que ela veio até mim. Até que eu pude a confrontar.
Hinata me deixava confuso. Ela era mortal. Corria riscos desnecessários. Pedia para morrer. Mas, ao mesmo tempo, ela era uma sobrevivente, lutando com unhas e dentes por cada inspiração e expiração.
Logo me rendi ao desejo de estar com ela e de protegê-la . De dar vida a ela. E quando eu a via com um ferimento grave, mesmo sabendo do risco, eu dei meu sangue. Ela não sabia, nem sequer percebia, geralmente estava tão consumida em adrenalina que nem se dava conta que meu sangue imortal a curava.
Contudo, dessa vez era letal demais.
Quando cheguei no galpão, sacrifiquei cada vida ali. Levei um golpe no pescoço que quase me decapitou. Perdi muito sangue, mas eu consegui chegar a ela.
Esquartejada.
Nem todo o meu sangue conseguiria salvar Hinata. E por incrível que pareça… Ela ainda estava viva. Abria aqueles olhos de lua e eu podia sentir sua relutância em se render a morte. Em se render ao deus que eu sirvo.
Eu nunca me incomodei em ser imortal, em ver as pessoas que me importavam morrerem. Elas estavam seguras, guardadas com Jashin. Mas com Hinata era diferente. Eu queria morrer com ela. Eu queria viver com ela. Envelhecer, ter filhos, sorrir e chorar. Por fim, descansar para sempre junto de sua alma tão remendada quanto a minha.
— Não vá sem mim, baby… — implorei, quando Hinata abriu seus olhos por um momento, antes de fechá-los novamente.
Estava pronto para abdicar de tudo, pronto para abandonar o deus que servi por tantos séculos. Tudo por ela. Porque Hinata me fez feliz, ela me iluminou, me ensinou que mesmo morta, ela nunca deixaria de lutar por si mesma. Ela era orgulho, amor, guerra e paz.
Hinata se tornou meu tudo, quando acreditava que eu era nada.
Então, uma explosão aconteceu.
»●«
Eu estava num lugar claro, todo branco. Olhei por todos os lados até que vi uma cabeleira negra azulada caída. Caminhei calmamente até ela, já que não precisava ter pressa porque sabia onde estava. Entretanto, meu peito agonizava com o pressentimento que tive, pois se Hinata estava ali, ela havia feito uma escolha.
Era hora de pagar por ter salvado a vida de Hinata tantas vezes. Por ter tentado uma última vez, mesmo sabendo que era impossível. Hora de pagar o meu pecado, a minha heresia, de ser punido por quebrar o mandamento.
Nós dois estávamos entre a vida e a morte.
Agachei ao lado de Hinata e a puxei para meus braços, querendo a proteger. Em meu egoísmo de mantê-la viva, para que um dia eu pudesse ter uma vida mortal ao seu lado, acabei condenando a nós dois.
Hinata abriu seus olhos e eu a segurei mais próxima a mim.
— Por que infernos você selou um pacto com Jashin, Hina? — Soltei de uma vez, a abraçando mais forte.
— Eu já disse… Uma vida é muito pouco para te amar.
Eu a apertei mais. Então, um corte surgiu na minha mão. Jashin exigiu meu sangue. Ou eu selava o mesmo pacto ou era meu fim.
E minha escolha era óbvia e egoísta.
Ergui o rosto de Hinata, meus lábios tomando os dela com fúria, amor e rendição. Fechei meu punho e aceitei nosso novo destino, no qual reencarnaria com Hinata.
Vida após vida.
Massacre após massacre.
Corpos mortais contendo almas com um único objetivo: viver lado a lado eternamente.
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Elixir: o sabor da Eternidade
RomanceO Jashinismo é uma religião pagã há muitos anos esquecida. Hidan é o último seguidor de Jashin - deus da vida e da morte - que concedeu imortalidade ao seu servo. Mas ser imortal tinha um preço. Um preço alto que Hinata não se importava de pagar, de...