O sabor da escolha

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A dor era algo relativo. 

Existem dores físicas, psicológicas e emocionais. Às vezes você é quase atropelada por um carro, às  vezes você sofre abusos e às vezes você não é reconhecida por alguém importante. 

Mas qual era o limite da dor?

Seja lá qual fosse, eu sofri todas elas. Desde criança, via minha mãe ser humilhada e tratada como nada. Meu pai, um maldito alcoólatra incorrigível. Enquanto eu ficava com minha mãe e minha irmã, aquele bosta estava enchendo  a cara num cassino, torrando o dinheiro das contas. Minha mãe tentava nos proteger de todas as formas, mas eu a ouvia chorar todas as noites, a ouvia brigar com aquele cachaceiro,  ouvia quando ele batia nela e  quando a abusava. 

Foi assim que  cresci . Eu queria sentir algo, mas tudo o que sentia era tão ruim que, em algum momento, passei a deixar de sentir. Então, quando minha mãe morreu após uma doença  — por ter que se prostituir para colocar comida na mesa —, ficar em casa não era uma opção. E eu precisava de grana pra alimentar Hanabi. 

Três anos depois, minha irmã se tornou uma viciada em metanfetamina, aos dezesseis anos, começou a ajudar  meu irmão Neji no tráfico, só para sustentar sua dependência química. 

Esse tipo de pensamento vem a mente do ser humano quando  se depara com uma situação de morte. Quando você pensa sobre sua vida, pensa sobre quem você é. 

A dor que eu sinto agora é absurdamente intensa, como um combo de tudo:  psicológico, emocional e físico. Todo o caminho que fiz até esse momento invadindo minha mente, como pipocas, explodindo em cada neurônio. Eu não sinto qualquer arrependimento, nem mesmo tristeza pela vida de merda que tive. Porque, de certa forma, quando eu o conheci, nada mais teve importância. Por isso, ele foi o primeiro pensamento que tive. 

Já fazem dois anos desde que meu olhar se cruzou pela primeira vez com os olhos fúcsia de Hidan. E nesse momento, encarando os olhos dele, pelo que parece a última vez, eu quis ser como Hidan. Quis ser imortal. Assim, eu não iria ver nunca mais aquele desespero em seu rosto. 

É engraçado como as coisas acontecem. Como eu me sinto tão viva quando estou com ele. Como me sinto tão amada. Eu sorri, sentindo o sangue deixar meu corpo e tudo ficar escuro. 

Elixir: o sabor da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora