O sabor da dor

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Abri meus olhos lentamente, tentando me situar e lembrar do que havia acontecido, mas a dor em meu corpo era intensa demais e acabei por fechá-los novamente, rangendo os dentes. 

— Baby… não se mexa. — A voz preocupada de Hidan chegou aos meus ouvidos e, mesmo que minimamente, relaxei. 

— Baby… — Minha voz saiu num sussurro, então me dei conta de como minha garganta arranhava, havia sabor de sangue e eu me sentia prestes a vomitar. 

— Não fale, estou tentando controlar a hemorragia. 

Minha cabeça tombou para o lado enxergando corpos e mais corpos espalhados, também havia sangue por todo lugar daquele galpão mal iluminado. Eu sorri.  Sei que não deveria, mas o fiz porque fiquei feliz. Hidan tinha acabado com cada um daqueles desgraçados. 

Ele veio por mim.  

— Você lembra... quando confessou pela primeira vez que era imortal? — perguntei em um fio de voz, mas com clareza suficiente para ele me entender. 

— Baby, já pedi para não falar — ele falou um tanto nervoso. 

— Lembra? — insisti e o ouvi suspirar. 

Virei meu rosto para onde ele estava. Hidan tinha sangue em sua face, estava ferido e mais pálido que o normal. E tudo o que eu conseguia pensar era em nós, em quando o vi pela primeira vez, quando me apaixonei, quando o beijei, quando me entreguei. 

— Sim — Hidan falava como se eu fosse quebrar a qualquer momento. Sorri levemente encarando seus olhos com a memória do seu beijo mais viva do que nunca. — Eu me lembro de cada segundo que envolve você. 

Senti meu peito apertar em alegria. Tentei levar minha mão até seu rosto, entretanto não tinha forças. Por isso,  ele se abaixou e aproximou seu rosto do meu. Pude ver a tristeza dele, bem como ouvir seu coração se quebrar. 

Na vida sempre há um momento em que decidimos o nosso destino. Uma escolha que irá mudar radicalmente nossa existência . Quando escolhi jogar poker com milionários, minha vida tomou um caminho sem volta. Conheci Hidan, fui expulsa dos cassinos — nos quais  conseguia dinheiro para viver —, virei uma ladra e participava de corridas ilegais. Me apaixonei e descobri que o homem que amava era imortal. 

E algum tempo depois, estes velhos acabaram me pegando para concluir o que não fizeram da primeira vez. Entretanto, não contavam que eu tinha Hidan e ele não ficou parado quando soube que esses asquerosos estavam comigo. E mesmo que neste momento não passassem de cadáveres destroçados, Hidan havia chegado tarde e, agora, eu estava prestes a morrer de verdade. Todas as outras situações de quase morte que enfrentei não se comparavam a essa. Já levei tiros, facadas e sofri vários acidentes. Mesmo que tivesse me sentido brincando com a vida e a morte… Nunca foi tão letal. 

Então, desejei ser como Hidan. Eu quis ser imortal para continuar vivendo no limite e além dele: junto com o homem da minha vida. 

— Eu não quero morrer, Hidan… — sussurrei,  encarando-o. 

— Você não vai morrer, baby. Eu vou te dar a vida que sempre mereceu, vou estar com você até o fim dela. 

Balancei a cabeça negativamente. 

— Uma vida é muito pouco para te amar… - os olhos dele eram de um tom rosa tão único, eles brilhavam com uma esperança que não existia mais em mim. A saliva desceu pela minha garganta como se fosse ácido. Era tão triste e devota a forma como ele me olhava que eu sorri, consciente do meu desejo mais profundo. — Eu quero a eternidade. 

Minha visão foi escurecendo, as melhores memórias da minha vida invadindo minha mente e tudo o que pude ver antes de mergulhar em nossa história, foi os lábios de Hidan se movendo desesperadamente, sem que eu conseguisse ouvir sua voz ou que ela pudesse me alcançar.

Elixir: o sabor da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora