O sabor da adrenalina

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Passei a correr sempre nos rachas e acabei por pegar amizade com um grupinho de corredores. O melhor de tudo foi quando vi aquele albino descer do Maserati , me fazendo perder a força nas pernas. 

Hidan. 

O homem que me tirava o fôlego e nem mesmo precisava me tocar para isso. 

Ao contrário do nosso primeiro encontro, Hidan sequer dirigia seu olhar para mim. Ele estava sempre conversando com Kakuzu  e Deidara, fingindo que eu era invisível. Entretanto, eu pegava seu olhar sobre mim quando ele achava que eu não estava olhando. Mas eu tinha uma visão periférica anormal, então eu via. E todas as vezes sentia meu interior se incendiar, desde as entranhas até minha mente. 

Descobri que ele fazia parte daquele grupo —  autoproclamado Akatsuki, pois ficavam até o amanhecer nas ruas —  há cerca de dois anos. Todos eles se conheciam há muito mais tempo do que isso, mas Hidan era o membro mais recente. 

Saber sobre algumas coisas sobre ele foi fácil. Deidara falava muito alto e adorava falar dos outros. Então eu soube que Hidan era nova-iorquino, tinha vinte e cinco anos, gostava de apostar dinheiro, correr e, o que me pegou um pouco de surpresa: lutas clandestinas. 

Uma noite, aproveitando que Deidara havia comentado sobre isso um dia antes, resolvi ir vê-lo lutar. Não que eu estivesse obcecada por ele… Talvez um pouco, já que  eu pensava o tempo todo em como seria se ele reparasse de verdade em mim.  

No porão de um galpão velho e acabado, várias pessoas se reuniam para o show de brutalidade que acontecia dentro de um tipo de gaiola, cujo alambrado provavelmente poderia passar todo e qualquer tipo de doença devido a ferrugem e o tanto de sangue que os lutadores acabavam derrubando. E dentro dela estava uma versao animalesca de Hidan.

Ele desferia golpes de maneira implacável e totalmente sádica. Até  quando  levava um golpe pesado, continuava rindo, proferindo maldições contra o oponente e então revidava cada vez com uma força maior. 

Era intimidador . 

Era assustador. 

Era irresistível. 

Aquela sensação de que havia algo sombrio nele só se confirmava ainda mais. 

E eu não conseguia parar de me sentir atraída por Hidan, por mais que até mesmo ele parecesse preocupado em me manter longe, eu só buscava desesperadamente sua atenção. Estava irremediavelmente cega, como se o senso de perigo que eu tinha sobre ele, funcionasse na verdade como um maldito imã, me atraindo mais e mais. 

Hidan me olhou do ringue antes de finalizar o seu oponente com um mata leão. Não havia  limites ou regras nas lutas clandestinas, e eu sabia que ele queria ver minha reação enquanto o outro homem sufocava no aperto exercido pelo braço travado em seu pescoço. 

Não conseguia deixar de encarar as íris rosadas, queria saber o que elas escondiam. Então, sem notar, me aproximei do ringue. Eu podia quase sentir um fogo queimando minha pele, me consumindo cruelmente até minha alma, que mesmo a essa altura, já o pertencia. Conseguia enxergar o momento em que me tornaria cinzas. Era perigoso, era suicida.

Era minha passagem de ida, sem volta.

Assim , naquela noite, com sangue no supercílio e no lábio, com os cabelos desarrumados e o seu olhar preso ao meu, eu o vi matar alguém pela primeira vez. E isso não me assustou nenhum pouco, entretanto, senti meu coração batendo loucamente  e fogo por minhas veias. Como quando corria ou apostava.

Ver tal cena  e  a forma fria,  sem hesitação ou remorso que ele matava, não me fez recuar. Não me fez desistir. Não me fez querer ficar longe dele. Pelo contrário, me  fez querer ser igual a ele, mesmo que eu não soubesse o real significado daquilo naquele momento. No entanto, não demorou muito para que eu descobrisse e  caísse completamente.

Quando a luta acabou, eu saí. Precisava pensar e entender o que era aquele sentimento massivo de querer estar com Hidan, afinal  ele nunca tinha  falado comigo. Era simplesmente sufocante a maneira como eu desejava que ele me visse de verdade,  que ele me reconhecesse. Sentia que ele era minha ruína.

Um som alto de carro rasgando pela rua ecoou, virei para ver e a rapidez com que tudo aconteceu foi assombrosa. O carro veio em  minha direção. Ele queria me acertar. Não era qualquer carro. Era um Maserati preto com detalhes vermelhos. 

Eu fechei os olhos e, não sei como, saltei; em seguida  o veículo virou de lado e capotou na minha direção. Cai no chão empurrada pelo veículo, meu braço tinha um corte profundo e bem feio, que sangrava horrores. Eu gritei de dor. O carro ao meu lado, de ponta cabeça, com gasolina e nitro vazando. Aquela merda ia explodir.

Então a porta foi chutada e de dentro eu vi Hidan sair, estava cheio de hematomas, ferimentos e sangue da luta e do acidente. Ninguém normal sairia de dentro daquele carro destruído. Eu pude ver uma ferragem enfiada no seu abdômen, enquanto  se levantava e virava seus olhos fúcsia em minha direção. 

Espreitando-me.

Eu me sentia uma presa indefesa contra um predador imbatível.

Ele arrancou o metal de si em um único puxão doloroso e tossiu um pouco de sangue,  ao mesmo tempo senti meu coração disparar, meu corpo tremer e uma fraqueza me abater por causa da perda de sangue. 

Mas eu não sentia medo. 

Sentia-me mais viva do que nunca.

Hidan se aproximou de mim, segurou meu braço ferido, fazendo-me ficar em pé. A dor se alastrou por cada terminação nervosa minha, trinquei os dentes contendo um grito de dor. Naquele momento, ele parecia insano, prestes a me dar o mesmo destino de  seu oponente na luta. No entanto, eu só conseguia pensar que queria aquele destino. 

Queria a morte. 

Queria Hidan. 

Como uma maldita viciada em se sentir à  beira da morte para conseguir se sentir viva. 

Nunca imaginei que me apaixonaria por alguém que nunca dirigiu a palavra a mim. Por alguém que não fazia a menor questão de me conhecer. Por alguém que não fez nada para me ajudar e me deixou ser humilhada e expulsa praticamente nua. Alguém que disse que eu não valia nem o tempo dele. Alguém que literalmente tentou me matar. 

Mas ele era como uma injeção de adrenalina direto no meu coração. 

Talvez eu fosse apenas muito quebrada por dentro, tão destruída que apenas outra pessoa com tanta escuridão quanto eu, pudesse enxergar o meu maior desejo, aquele mais obscuro e sombrio, escondido no mais profundo canto da minha alma. 

E no  momento em que  eu vi Hidan matar aquele homem no ringue, sabia que ele havia visto esse desejo no fundo dos meus olhos. 

Naquele dia, Hidan me fez um favor. Ele me fez ver a verdade. Eu não queria morrer, pois se quisesse não teria tentado desviar. Nunca esquecerei o que Hidan me disse naquele instante, enquanto me suspendia pelo meu braço ferido:  

"Quanta dor você suportará antes de sucumbir?"

Elixir: o sabor da EternidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora