2- sonâmbula e cachorro

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Os últimos dias estão sendo um tanto peculiares e irritantes. Porque, aparentemente, meu nível de estranheza só aumenta e  isso só piora com o sonambulismo. 

Eu venho acordando no quintal...muitas vezes. 

Na cozinha… migalhas de pão; 

na sala...cadê os chinelos?;

na varanda… preciso falar mais. 

Em um frio de início de inverno. A minha bunda não aguenta tanto frio e  minhas costas estão uma merda. 

E  agora estou aqui, no refeitório, com um prato maior que eu. Os pedreiros teriam inveja. 

Caralho! Eu ando com muita fome. Eu desconfiaria até que estou grávida, mas… isso é impossível para caralho. Literalmente, para caralho. 

O ponto é que eu trouxe coxas de frango fritas e  estou roendo até os ossos. Ops! Eu acabei de quebrar esse osso? 

Cospe! Cospe! 

Por que eu não consigo parar de mastigar? 

Meu deus! eu engoli. Oh, merda! saudade da época que era só engolir botão de controle sem querer. 

Todos estão olhando. Será que tá tão na cara que eu estou surtando por dentro?. 

Foca na bandeja. 

Uma gota cai na borda dela. 

Hum?

de novo. 

Isso é… suor? 

Pra que essa sudorese toda? 

Limpo o rosto com a manga da blusa. 

saída estratégica. Go Go Go. 

Corro para o banheiro. Melhores amigos até. 

Enfio o rosto sob a água da torneira. 

- Tão geladinha, tão bom… 

Ouço os passos de alguém se aproximando, logo Valerie entra- com suas belas pernas pela porta apressada, seus olhos encontram os meus. Estou numa posição constrangedora, a posição que Napoleão perdeu a guerra. Endireito-me  

- oh, Valerie, não te vi aí, quer dizer, vi sim, só… 

-Estava passando mal, Eilish. Entendi. - aproximou-se - Você tem ficado mal com frequência. - põem o dorso da mão na minha testa- já foi ao médico? 

Respondo num sussurro:

-não.  

-bem, pois deveria. Você está queimando em febre. 

- estou? Mas não sinto frio. Na verdade, estive com muito calor. E  só estou com uma camiseta por baixo. 

Seus olhos de ônix me avaliaram como se tudo fosse muito estranho. Bem… Eu sou estranha, então faz sentido. 

- É quase inverno e  você vem suando como um texano em um dia de verão. Talvez seja um problema de glândulas. 

Ela se encostou na pia. Então lhe respondi ainda muito baixo: 

- É. Talvez seja. Obrigada de qualquer jeito. 

Saí do banheiro sem olhar para trás. 

Parei em um bebedouro para recuperar os dois litros de água que perdi. 

Nem é dramática, ela. 

Pelo canto do olho vi uma movimentação estranha. Uma coisa escura e  peluda. Era… Era um CACHORRO.

Desventuras Lupinas G!POnde histórias criam vida. Descubra agora