Sweet Life

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Capítulo 1 - Sweet Life

 
A vida de JungKook tinha-se tornado tão pacata e monótona que ninguém seria capaz de adivinhar que o alfa tinha sido o mais desejado da faculdade. Em tempos idos, o alfa, viveu o que muitos ambicionam para a sua vida universitária. Pegava tudo o que tinha pernas e se oferecesse. Os ômegas desejavam poder deitar-se com ele, os alfas desejavam ser como ele, e JungKook, apenas continuava a tentar preencher o vazio que sentia. Ser órfão de mãe, e filho de um alfa que nunca se interessou muito pelo filho, não era de certeza aquilo que tinha desejado para si. Não sabia qual a sensação de um abraço ou de um beijo com amor. 
Sete anos tinham-se passado desde o último dia de faculdade. O agora advogado, vivia sozinho, numa pequena casa da periferia. A casa era a mais fácil de identificar, a única da rua que já não era tão branca e a única com o jardim morto, pois as ervas daninhas começavam a apoderar-se do local sendo as únicas capazes de viver ali. O alfa não tinha tempo para se preocupar com coisas tão fúteis e ainda menos a vontade de chamar um jardineiro para tratar finalmente do problema. 
A vida de JungKook resumia-se a trabalho e a dormir. O alfa levantava-se às sete da manhã e depois de fazer a sua higiene seguia para o trabalho. Tomava o pequeno-almoço na pequena cafetaria do prédio onde trabalhava e caminhava depois para o escritório. Raramente almoçava e saía do trabalho às cinco da tarde. Voltava para casa no seu BMW cinza e pelo caminho comprava o jantar. Às dez da noite já estava na cama. A rotina repetia-se quase trezentos e sessenta e cinco dias por ano, já que não aproveitava os fins-de-semana, os feriados, ou tão pouco o natal. A vida do alfa era realmente triste sem que ninguém soubesse. 
JungKook nunca se apaixonou. Controlava os seus ruts com medicamentos e evitava estar com alguém. Pois da única vez que se deitou com um ômega, e realmente gostou da sensação de ter alguém, nunca mais viu a pessoa da qual nem o nome sabia.

JungKook On 
 
Cheguei a casa depois de um dia cheio de reuniões. Ultimamente os únicos casos que nos vêm parar às mãos são casais que se querem divorciar. Depois de ver tanta desgraça, talvez, a única coisa acertada que eu tenha feito, foi ficar sozinho. Muitas vezes imagino-me no lugar de muitos alfas que só estão a assinar os divórcios para deixar o ómega que amam feliz, mesmo que isso os destrua por dentro. E é a coisa mais triste de se ver. 
Caminhei para a cozinha e coloquei a comida que tinha comprado no microondas. Programei-o e segui para o duche. Tentei esvaziar a minha mente quando a água tépida desceu pela minha pele. Depois do duche vesti o roupão e calcei um par de chinelos verdes. Verifiquei os medicamentos para o rut e apontei nos lembretes do telemóvel que precisava de comprar mais alguns, não seria bom deixar acabar e ser pego desprevenido.
Quando voltei para a cozinha pus a mesa e jantei. Sentia-me um daqueles velhos milionários que a família abandonou, porque ele só sabia pensar nele mesmo, mas sem a parte do milionário. Muitas vezes penso demais e acabo por me sentir mal. Não que esteja deprimido, afinal, fui eu quem escolheu estar assim. Terminei o jantar e arrumei tudo. Quando notei, já estava na minha cama tentando aconchegar-me da melhor forma, mesmo que não tivesse frio. E quando dei por mim, já tinha adormecido. 
 
Acordei com uma sensação estranha. Olhei o relógio e este ainda marcava duas e catorze da manhã. Sentei-me na cama e olhei para a janela. O vento lá fora começava a aumentar o que me fez suspirar. Eu gostava de tempo assim. Identificava-me com a melancolia que o mesmo trazia. 
Acordei do meu transe com o som da campainha. A mesma tocava de forma insistente. Tão irritante que os meus ouvidos começaram a ficar irritados.  Quem seria o louco para tocar a minha campainha às duas da manhã. Levantei da cama e caminhei até à porta completamente furioso. Abri a porta, disposto a gritar com a estúpida pessoa, até que um leve cheiro de laranja invadiu o meu olfato e eu fiquei sem reação. 
-Ajude-me! Por favor 
O ômega soluçou enquanto agarrava a barriga. Estava sentado no chão frio da escada que ligava o jardim à casa. Podia ver as lágrimas grossas a correr-lhe pela face e ele mordeu o lábio antes de voltar a pedir 
-Por favor 
Olhei para a rua e suspirei antes de ajudar o ômega a ficar em pé e a entrar em minha casa. Assim que o toquei pude ver o quão gelado ele estava. Obviamente que os ômegas sentem mais frio, especialmente com uma roupa tão leve e toda rasgada, ainda por cima no inverno.
Ajudei-o a andar até ao sofá e sentei-o lá. Estava assustado e tremia de frio enquanto ainda chorava. Deixei-o por uns segundos e fui até ao quarto, peguei numa das mantas mais felpudas, voltei para a sala e coloquei-a em volta do ômega que me olhou ainda mais assustado. 
-Está tudo bem. - disse-lhe antes de me sentar na mesa de centro de frente para ele. Não queria perguntar o que tinha acontecido. Quanto menos eu soubesse, menos eu teria de me envolver naquele assunto. - Aqui estará em segurança - tentei passar-lhe algum conforto e continuei ali enquanto ele se acalmava e parava de chorar. Como sou advogado, já ouvi todo o tipo de histórias e também não julgo as pessoas. - Quer tomar um banho quente? Aposto que se iria sentir melhor - sorri um pouco e ele encarou-me ainda duvidoso. - A casa de banho é ali - apontei para a porta da casa de banho - eu vou separar uma roupa quente e já volto. 
Caminhei até ao quarto e esfreguei a cara. “Que merda estás a fazer JungKook?” perguntei a mim mesmo. Não devia ajudar estranhos desta forma, contudo ele parecia realmente aflito. Suspirei e apenas procurei uma calça moletom, uma camisola quentinha e um casaco, assim como uma boxer e meias que ainda não tinham sido usadas. “Não penses muito. Amanhã ele vai embora e tudo voltará ao normal.” 
Voltei para a sala e vi que ele não estava ali. Ouvi a água do chuveiro e andei até ali, abri a porta um pouquinho e deixei a roupa perto da pia. Não ia espiar um ômega grávido mesmo que o instinto estivesse a fazer como que eu me sentisse esquisito. Respirei fundo e voltei até ao sofá. Não ia deixá-lo ir embora àquela hora, ainda por cima com tanto frio. Liguei o aquecimento e selecionei uma temperatura mais elevada do que algum dia iria escolher estando sozinho e preparei o sofá para ele dormir ali. Quando levantei o rosto vi-o passar pela porta da casa de banho e sorri de forma involuntária ao vê-lo na minha roupa. Ficava-lhe demasiado grande.
O ômega estava mais quieto enquanto abraçava o próprio corpo. Acredito que toda aquela nuvem de receio ainda ali estivesse. E foi só naquele momento que reparei o quão magoado estava o seu rosto. Haviam vários hematomas e ainda um corte sobre a sobrancelha. 
-Vem cá. - chamei-o até ao sofá e fui buscar a mala dos primeiros socorros. Voltei e fiz-lhe um pequeno curativo ao qual ele nem reagiu. Parecia anestesiado para o que estava a acontecer. Coloquei um penso rápido e guardei tudo. 
- Podes descansar. Eu vou dormir - apontei a porta do meu quarto - se precisares de alguma coisa podes chamar-me - sorri e caminhei para o quarto não sabendo o que estava a fazer. 
Quando deitei na cama senti-me aliviado. Tinha ajudado alguém que realmente precisava de mim. 
 
⏩⏩
 
O meu despertador tocou às exatas sete da manhã. Como era habitual fiz a minha higiene e vesti-me. Ao olhar pela janela vi que tinha nevado, depois de toda aquela situação era mesmo o que faltava. Saí do quarto e ao ver o ômega ainda deitado no sofá, num sono profundo, decidi não o acordar. Escrevi um pequeno bilhete e deixei-o na mesinha de centro onde ele o visse assim que acordasse. 
 
Já na empresa pedi à minha secretária que me trouxesse um croissant de chocolate e um expresso duplo. Comi sentado à secretária enquanto olhava lá para fora. Se eu contasse o que me tinha acontecido, ninguém iria acreditar.
 

Life Goes On - JiKook ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora