O burburinho de vozes chocadas e risonhas tira minha concentração um momento do meu trabalho. Foi um episódio digno de constrangimento e falatório mesmo aquele.
Uma mulher jogada no chão puxando a perna de um homem que tinha a maior estampa de desprezo no rosto? Que humilhante. Eu não sabia quem era ele, mas, ao que parece, as meninas da cozinha sabem exatamente o nome dele: Logan Smith, o filho mais novo do manda-chuva do prédio do OpenBusiness, o senhor Conrad Smith.
O último eu já conheci. Uma vez estava saindo do prédio e dei de cara com uma limusine. Era ele quem estava entrando, levando uma mulher jovem loira consigo. O nome dela era Jolie e não parecia estar muito contente – o que foi irônico. Ela o chamou de senhor Conrad Hunter Smith com um ar de raiva. Mas só prestei atenção na cena porque estava impressionada por estar vendo uma limusine de perto pela primeira vez.
No entanto, não sabia que aquele homem era o mais temido do prédio. E decerto não imaginei que seu filho também trabalhasse aqui e fizesse questão de sujeitar mulheres a humilhações como aquela. Com qual finalidade? Mostrar que é superior?
— Estela — Clarice vem para cima de mim. — Você falou o que para o segurança?
Olho para uma das minhas companheiras de trabalho, não acreditando que ela está me fazendo essa pergunta. Clarice é sempre tão na dela, que quase acho muito estranho ela estar parecendo uma fofoqueira.
— Disse que tinha algo acontecendo no refeitório e ele tinha que vir ajudar — respondo, voltando a atenção para a panela em que estou mexendo o frango desfiado para incrementar ao tempero.
Trabalho na cozinha do refeitório deste prédio empresarial há oito meses. Desde que os meus pais voltaram para o Brasil, de onde eles são, para cuidar do meu avô doente, eu não posso ficar sem um trabalho. Além de precisar pagar o aluguel do meu apê, também ajudo enviando dinheiro para as despesas médicas.
Não é um peso para mim, nunca foi. Eu amo trabalhar fazendo o que amo, que é cozinhar. Ainda tenho a oportunidade de ajudar a minha família. Por sorte, sempre trabalho com pessoas boas e que formam uma também boa equipe.
— Menina, não param de falar sobre isso — Clarice ainda comenta, em confidência. — Viu a forma que o segurança segurou a coitada? — dá risada. — Ela estava esperneando igual uma criança quando não consegue o que quer.
— Foi humilhante — faço uma careta por isso me lembrar que eu também já me humilhei por um homem.
E não faz muito tempo. Apenas um ano. Foi bem humilhante. Não gosto de me lembrar que Patrick, meu ex-namorado, me deu um pé na bunda sem motivos e eu ainda fiquei fazendo várias ligações e indo até a sua casa. Como se não bastasse ligar do meu próprio número, comprei outros chips para ver se ele me atendia ao ver que era desconhecido. Eu só queria um porquê. Meu Deus, não foi humilhante como aquela mulher agora há pouco no pátio, mas foi quase. Eu só não me ajoelhei implorando uma resposta porque nunca mais vi Patrick.
Não sei como os homens conseguem fazer esse tipo de brincadeira com o sentimental alheio. Estou aqui para você, e tcharãn, no outro dia já não se sabe mais nem onde está o ser. Eu seria incapaz de fazer algo assim, mas, ao que notei hoje, deve ser bem comum na rotina de um homem fazer essas coisas.
Fico com a pergunta de como conseguem deitar suas cabeças no travesseiro e dormir tranquilamente enquanto deixam alguém sofrendo.
E tá legal, talvez eu não tenha superado ainda o que Patrick fez comigo, mas não tem sido por falta de tentativa. Só não superei porque persisto incrédula pelo que ele fez. Por sua atitude. Não teve mesmo nenhum um motivo para ele sumir. Simplesmente sumir. Me ignorar como se nunca tivesse me conhecido. Cachorro desgraçado.
Não o odeio e nem desejo o seu mal, só espero que alguém faça com ele o mesmo que fez comigo. Espero que, quando muito apaixonado e cheio de esperança de uma vida a dois, sua namorada o largue e suma. Espero muito mesmo. Que o deixe sem nenhuma resposta para si mesma e nem para contar a família sobre o que aconteceu.
Respiro fundo, me enchendo de raiva repentina.
— Eu não vou culpá-la — Clarice ainda está falando quando pego a panela pelas alças para levar à pedra da bancada e encher as massas dos salgados. Minha colega me acompanha. — Aquele homem era lindo. Você viu, Estela? Nossa, muito bonito mesmo.
— Grande coisa — grunho, com mau humor. — Ele ser bonito mesmo — a imito — não dá o direito de fazer aquilo com alguém. Aquela mulher, não sei se você sabe, mas vai demorar um bom tempo para se recuperar. Não só dos sentimentos, como do papelão que fez. E o homem bonito mesmo nem vai se lembrar mais dela. Ou seja, a cicatriz vai ficar só com ela. Como sempre acontece.
— Isso é verdade — Clarice concorda. — Agora todas nós vamos querer uma casquinha daquele homem para saber se o lance é tão bom a ponto de um teatro daqueles!
— Todas nós quem? — a olho. — Vai se ocupar, Clarice. Deu disso por hoje. Coisa chata.
— Ah, a gente estava precisando de uma animação nesse lugar, pode confessar.
— Vai para lá, eu estou ocupada — volto minha atenção para as comidas sobre a bancada e tiro um pedaço de massa para abrir e colocar um pouco de frango dentro.
Minha colega ainda fica resistindo a sair, mas quando Rector, nosso supervisor–chef, vulgo pessoa que exagera do poder que tem para sair da linha, chega até nós, ela se orienta e sai.
— Está tudo bem por aqui? — ele quer saber.
— Sim — dou uma olhada rápida nele com um sorriso barato na boca. — Clarice estava só tirando uma dúvida comigo.
Rector estreita o olhar, balançando a cabeça junto, como se concordasse com o que digo mas não acreditasse.
— Está moldando os croissants? — ele se escora na bancada e cruza os braços, e eu respiro fundo, querendo revirar os olhos. Não acredito que ele vai se plantar aqui para me atrapalhar no meu trabalho.
— Estou, sim. É bem rápido.
— Eu sei — Rector me oferece uma piscadinha discreta. — Você tem planos para hoje?
Quase não posso acreditar na pergunta, tanto que olho para ele com uma expressão de quem não está entendendo.
— Tenho — digo. — Por quê?
— Tem uma peça muito boa sendo apresentada por aqui — sorri. — Ia convidar você para ir ao teatro comigo. É um programa muito bom a dois — ele ergue as mãos, dando um riso suave. — Sem pretensões, é claro. Longe de mim. Só um convite amigável mesmo.
— Obrigada, mas não vou poder — também dou um sorriso aparentemente amigável.
Que grande abusado. Ele acabou de sair com a Sheila que foi demitida. Não faz nem uma semana.
— Tudo bem, fica para outra hora — ele se ajeita para sair, apertando meu ombro antes disso, então me oferece um sorriso mais pretensioso.
Faço uma careta, ficando com uma sensação estranha mesmo quando sua mão sai.
Nunca que eu sairia com Rector. Eu teria que estar louca.
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Nunca diga
Desta água não beberei
rsrs
Boa noitinha, amoress! <3<3<3
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À Espera do Amor #3 (NA AMAZON)
Literatura FemininaO amor tudo espera? Logan acha que sim. Ele acredita que o amor é tudo que um homem deve esperar encontrar na vida. Ele diz isso para todas. Enganar é a sua arte. Contém alguma e outra linguagem explícita. Não recomendando para menores.