Capítulo 6

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Desperto do meu cochilo na cadeira quando o alarme do meu celular toca. 19h. Hora de dar no pé. Não que eu anseie o horário de ir embora quando estou trabalhando. Não sou do tipo preguiçoso. Eu gosto de trabalhar, mas esse trabalho atual já era, e a ansiedade para o novo fez esse perder toda a graça.

Afinal, todos os desafios possíveis aqui já enfrentei. Estou nessa há muito tempo, desde de pouco antes dos 18. Meu pai me enfiou nessa – presságio da honra vindoura, sejamos otimistas. Quase 11 anos no mesmo ramo. Já deu pra mim. Passou da hora. É o tempo de seguir em frente. Ainda que meu pai não saiba, mas ele supera. Suas empresas não vão ruir por perder mais um filho no quesito controle.

Pego minha maleta depois de desligar o computador e ganho o meu rumo. Recebi mais cedo uma mensagem do meu amigo de longa data, Kurt, que vai dar uma festa – mais uma – em sua casa. São sempre festas loucas, com suas amigas fazendo seus desejos e, geralmente, andando peladas pela casa. É sempre, também, um banquete. Digo, prazer.

Mas, como eu devia estar acostumado, as coisas não saem como planejo de imediato. Que seria, se o mundo fosse justo: descer até o estacionamento, entrar em meu carro, ir até a festa e aproveitar o que a vida tem de melhor. Infelizmente, no entanto, o elevador abre para que eu dê de cara com Abby – secretária do meu pai que tive uma noite insana.

Ela parece estar esperando alguém, parada assim perto dos elevadores dessa parede. Provavelmente é o meu pai, que vai fazer a mulher levar trabalho para casa. Isso é bem a cara dele.

Ponho um sorriso no rosto e saio para o lobby, dando um aceno para ela e intencionado a passar direito para ir ao estacionamento. Estou cruzando os dedos por dentro e quase alcançando o outro lado do saguão, que me deixará às portas do acesso ao final.

Quando ouço meu nome.

Que caralhos.

— Logan, oi? — Abby me acompanha, porque nem fodendo tenho a intenção de parar e lhe dar vantagem.

— Oi, Abby.

— Nunca mais te vi — ela está com a voz sôfrega. — Achei que ia querer repetir...

— Repetir o quê? Não sei do que está falando.

— Uma noite como aquela.

Preciso parar, por extrema necessidade, e virar para olhar nos olhos de Abby. Tenho vontade de desenhar, para que não fique espaço para dúvidas. É sempre tão entediante que eu precise ficar explicando que não tem segunda vez. Até certo ponto, foi bom; mas agora, me deixa atormentado. Facilitem, mulheres. Tenho vontade de pedir.

— Doce Abby, aquilo não vai mais acontecer — elucido para ela, com paciência. — Não teremos mais nada além daquela noite. Gostei muito e gosto muito de você também, mas foi apenas um momento. Tudo bem? Boa noite, baby — me inclino e deixo um beijo em seu rosto, aproveitando seu transe para dar o fora.




Quando passo pelas portas da casa de Kurt, está realmente como todas as vezes. Mulheres peladas passeiam para cima e para baixo. Algumas fazem questão de deixar alguns pedaços de pano nos corpos, para nos incomodar um pouco, ou, em circunstâncias, pirar mais. Elas servem bebidas, dançam no pole dance, fazem dancinhas em cima das mesas – que também pode ser o colo de algum parceiro – ou apenas conversam entre si com risadinhas.

Entretanto, quando estou seguindo para ir me sentar em um dos sofás e puxar para o meu colo uma morena que está dançando em uma das mesas, cesso os passos. Há uma outra mulher tentando tirá-la dali.

Mas não é a ação que me faz estranhar, apesar de ser incomum também, nem a vestimenta da estraga-prazeres, e sim o rosto. É a Estela Gomes. Em carne, osso e desespero.

À Espera do Amor #3 (NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora