Jeongguk sentiu um incômodo nos olhos quando os abriu. Lentamente, a claridade do local preencheu sua visão, fazendo-o piscar várias vezes para que conseguisse focar em algo. Demorou alguns segundos para que pudesse raciocinar e lembrar de onde estava, pois se sentia muito sonolento para pensar em algo coerente e que fizesse sentido.
Porém o barulho das conversas em seu ouvido, os incessantes recados vindos dos alto-falantes, e o som baixo que o vagão fazia pelo contato rápido com os trilhos fizeram-no retornar à realidade.
Estava em um trem, a caminho de Seul.
Com um leve sorriso nos lábios rosados, ele encostou novamente sua cabeça no vidro gelado, olhando para fora da janela, já vendo os grandes prédios da capital da Coréia.
Prédios.
Foi natural quando abriu a boca em um perfeito "o", impressionado demais com a imensidão das construções. Elas não pareciam tão grandes nas fotos da internet, e Jeongguk não podia mentir: estava louco para ver de perto.
Para alguém que cresceu em uma pequena vila, ver prédios assim era, realmente, de cair o queixo.
Jeon Jeongguk nasceu em Busan, mas se mudou com dois anos para Hahoe, uma vila folclórica da Coreia do Sul. Cresceu ali, rodeado de rostos conhecidos, envolto pelas grandes montanhas e paisagens exuberantes, além da neve que visitava a pequena cidade todos os invernos.
Ele vivia em uma casa com uma horta nos fundos e seus avós faziam-no plantar e colher os legumes — mesmo que Jeongguk sempre reclamasse das suas mãos ficarem sujas de terra. Porém, com o tempo, acabou por se acostumar com a rotina pacata da pequena vila; o amanhecer silencioso, o café feito na hora com os grãos colhidos do quintal, o cuidado com as plantações, o caminho percorrido para ir à escola de bicicleta e a volta para casa com os amigos.
Mas chegou uma hora que ele cansou da rotina.
E, de repente, Hahoe pareceu pequena demais para ele.
Não era como se ele não gostasse da vila — era onde tinha seus amigos e sua família afinal. Porém, ele se sentia preso. Nunca tinha visitado outra cidade, ou conhecido qualquer coisa que não fosse a visão daquelas altas montanhas.
Ele não podia mentir para si mesmo: queria ver o mundo.
Queria, quem sabe, estudar em uma faculdade, arranjar um emprego, economizar dinheiro e ir para a Islândia — virar um pescador ou um cozinheiro de comidas típicas. Ou talvez, ir para Vancouver no Canadá para observar a baía que separava os dois lados da cidade. Qualquer lugar que não fizesse-o se sentir preso como Hahoe fazia. Ir para Seul não era um passo tão grande — ainda estava na Coreia, e não em um país desconhecido —, mas definitivamente era um começo.
Ele já estava se sentindo sem ar com a visão dos prédios — e devia estar fazendo um rosto engraçado, pois ouviu algumas risadas e percebeu alguns olhares sendo direcionados a ele. Envergonhado, sentiu seu rosto esquentar, e passou a encarar as próprias mãos, tentando não olhar para fora do vidro do vagão, mas era impossível com a visão da cidade o encantando daquele jeito. A verdade era que sempre gostou da paisagem urbana, mesmo com sua avó lhe falando que não entendia sua fascinação pelas cidades modernas quando se tinha Hahoe com a estrutura tradicional coreana.
Jeongguk levou um susto quando a voz feminina dos avisos ecoou do nada, avisando que a estação Bongnae-dong era a próxima. Desajeitadamente, ele começou a se levantar, colocando sua mochila nas costas e segurando as outras duas malas com as mãos, pela alça.
Naquele dia ele aprendeu que não deveria se levantar no trem caso não estivesse se segurando em algum lugar. Quando o veículo freou para parar na estação, o corpo de Jeongguk foi automaticamente para o lado e, para não perder o equilíbrio, ele jogou seu peso para frente, batendo a cabeça na porta do vagão.
Mais risadas.
Mesmo com o frio do fim do inverno presente, Jeongguk estava tão envergonhado que quase tirou todos os casacos que vestia por conta do calor imenso que passou a sentir.
Porém, tudo passou em uma fração de segundos assim que as portas finalmente se abriram e ele pisou para fora do veículo, sendo recebido por uma multidão de pessoas.
A estação era enorme — não se comparava ao maior mercado de Hahoe, que era inclusive o maior estabelecimento da vila —, várias placas indicando diversos caminhos diferentes, sendo muito fácil de se perder. Muitas pessoas, muito movimento, muitas lojas que jamais viu na sua vida.
— Uou... — murmurou Jeongguk para si mesmo, os olhos arregalados, enquanto observava os arredores.
Ele estava sorrindo, largo. Os olhos brilhavam com uma alegria imensa e o coração palpitava forte em seu peito.
Jeongguk finalmente estava em Seul.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nesse apartamento - taeyoonkook
FanfictionJeon Jeongguk cresceu em uma pequena vila da Coreia do Sul. Ao completar seus dezenove anos e se mudar para Seul para estudar, ele acaba parando em uma república, em um quarto compartilhado com mais três garotos. Como se já não bastasse um deles, Mi...