09.Pó e cinzas.

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O maior erro do ser humano, é receber aquilo que nunca foi lhe dado e se contentar com o quê foi oferecido. Se lhe der o que sempre quis, nunca irá questionar se aquilo não é da maneira certa. 

Recebi o amor do homem que eu sempre pensei amar, e não questionei se aquilo era verdadeiro ou não. Apenas acreditei que era e me deixei encantar com tudo que me foi oferecido. Para mim, que estava necessitada de amor, isto bastou. Pensei que sentiria essa sensação para sempre. Me iludi dizendo, que sim, que eu o amava tanto quanto antes e que nossa vida estava perfeita. Mais um mês se passou desde o ocorrido com Namjoon e eu tentei, juro que tentei, no entanto, parte de mim sabe que eu preciso buscar a verdade. 

Olhando Taehyung andando pela sala, recolhendo minha xícara recém usada, e preparando o almoço, eu só consigo me perguntar uma única coisa. Quem, de fato ele é? E o que eu sou? 

Não consegui falar com Namjoon, não depois de nosso último encontro perturbado e dele ter visto como eu me entreguei tão facilmente a um pinto. Devo ter perdido toda a moral, se alguma vez, eu cheguei a ter com ele. Mas, ainda me lembro de suas palavras. E testei elas. Da última vez em que fomos até a cidade pra comprar comida, eu questionei a Hoseok, se ele se lembrava de algo sobre mim que eu havida lhe dito. Hoseok sorriu, e disse "Não faço ideia, mas quem se importa com isso?" .

Eu. Eu me importo com isso. Eu me importo com o fato de que ninguém, sabe nada sobre mim, e não porque eu não falei, simplesmente por não se lembrarem se algum dia, eu disse algo. Sou uma mulher, que chamam de bruxa, mas não lembram o motivo. Isso tudo começou a acontecer depois que Taehyung apareceu. As pessoas estão se esquecendo umas das outras, só se lembram do que vivem aqui, nessa cidade. 

De fato, pensei em agir sem opinião própria. Fazer apenas o que meu namorado queria, ser uma boa mulher como ele me pediu, seguir suas regras e viver dessa forma. No começo estava bom, eu me sentia amada, não me achava merecedora daquele amor. Ele me encantou com suas palavras doces e gentis, dizendo dia após dia como eu era perfeita e linda. Me deixei levar por tudo isso. Mas desde o dia em que eu ouvi aquelas vozes na banheira, eu acordei diferente, com uma dor na nuca e com uma sensação terrível no estômago. Desde esse dia, eu não consigo mais me iludir como antes. Não consigo me encaixar nisso tudo. 

Olho pra Taehyung, e as borboletas em meu estômago que sempre começavam a borbulhar, não estão mais ali. A tremedeira, a felicidade, euforia e a sensação de segura se foram. Nada é como antes e nada parece se encaixar. Por que ele apareceu em minha cabana naquela madrugada? Por que eu achei que ele fosse o meu personagem? O homem que criei para meus livros? O homem perfeito? 

Tantas perguntas, nenhuma resposta e eu não quero viver assim, deixar ser assim. Desde quando eu sou tão facilmente manipulada por um homem?  

-Quer que eu pegue um copo de suco pra você? 

Fingi desviar a atenção do livro em minhas mãos e sorri da melhor forma que eu conseguia. Nunca fui muito boa em mentir e fingir emoções, aprendi isso nos últimos dias. Sempre que converso com ele, preciso manter a aparência. O sexo também não é mais o mesmo, diminuímos bastante o ritmo e quando acontece, é curto e eu não me sinto muito bem. Meu corpo se fechou pra ele. Nem mesmo o deixo me dar banhos. 

-Pode preparar um de laranja? 

-Claro! -Taehyung abriu um enorme sorriso retangular e se prontificou em fazer o que pedi rapidamente. Nunca mais vi aquele lado possessivo e agressivo dele, o mesmo está sempre me tratando com carinho, fazendo tudo para me agradar e me dando atenção. Ele não vive a própria vida, não trabalha, não estuda, não sai dessa cabana sem mim, não fala mais com os outros meninos e não mexe no telefone. Tudo dele, é apenas eu. 

Books boy • Sanatorium 1Onde histórias criam vida. Descubra agora