Eu lia bastante conteúdo na internet sobre startups e estava sempre em busca de novas ideias de negócios. Ideias que, na maioria das vezes, jamais seriam executadas. Afinal, eu não tinha tempo.
Um pouco antes, eu havia começado a seguir um cara chamado Noah Kagan. Não lembro mais como passei a receber suas newsletters, mas, em uma delas, ele falava sobre um desafio que havia recebido no reddit: criar um negócio do zero em apenas 24 horas. Ele iria mostrar tudo o que tinha feito para vencer o desafio e gerar cerca de mil dólares de receita recorrente somente naquele intervalo de tempo.
Li todo o post sobre o experimento em seu blog e fiquei convencido de que poderia testar algo parecido. O que o Noah descrevia fazia bastante sentido, e tinha muito a ver com as ideias que eu já estava amadurecendo sobre criar negócios de forma enxuta. Eu queria criar um negócio que eu pudesse executar em background, no segundo tempo, após o expediente ou nos finais de semana.
Como na época minha esposa não tinha um emprego, se a ideia desse certo, ela poderia ficar à frente do negócio.
E a ideia do clube de assinatura de beef jerky parecia ser realmente bem fácil de executar. Como esse tipo de snack não era comum no Brasil, comecei a buscar produtos similares. Eles teriam que ser fáceis de transportar, enviar e armazenar, e eu precisava ter uma boa variedade de fabricantes, marcas e sabores. Assim, poderia organizar os produtos em categorias, explorar temáticas diferentes e entregar mensalmente uma seleção "curada" para os assinantes.
Naquele momento, eu não me preocupava ainda com o valor que geraria para o cliente, com exceção do conforto e da economia de tempo. Também não estava partindo para a solução de um problema específico, pois um clube de assinatura de beef jerky não iria resolver um problema vital para ninguém.
Eu apenas queria criar um negócio simples de operar. Considerava que, se eu conseguisse achar um produto que as pessoas já tivessem o hábito de comprar, talvez alguém se interessasse em recebê-lo em casa de forma automática.
Conforme a frequência escolhida, o serviço seria cobrado na fatura de cartão do assinante automaticamente. Nosso trabalho seria apenas adquirir os produtos a um custo sobre o qual pudéssemos aplicar uma margem. Assim, poderíamos fazer 12 vendas de uma só vez com uma assinatura mensal pelo período de um ano.
Um dia, andando pelo supermercado, notei que havia uma grande variedade de barras de cereais nas prateleiras. Eu consumia aquilo de vez em quando, mas não me via assinando um clube de barras de cereais sem diferencial algum.
Entretanto, se em vez de barras de cereais açucaradas eu recebesse um alimento energético para consumir antes, durante ou após meus treinos na academia, isso certamente resolveria um problema para mim.
Minha vida era corrida entre horas no trânsito, trabalho, horas no trânsito e minha casa. No dia seguinte, eu acordava e reiniciava o looping.
Não tinha tempo nem muita vontade de ir a lojas de alimentação natural ou produtos "fitness" e ficar escolhendo o que comprar. Mas, se alguém escolhesse para mim e mandasse para minha casa, todo mês, uma caixa de suplementos para me ajudar a repor as energias durante os treinos, eu certamente viraria usuário do serviço.
Fui lá e registrei um domínio chamado "natureba.club".
Confesso que eu era meio viciado em registrar domínios, principalmente aqueles que se podia registrar por um dólar no primeiro ano.
Mas espere aí, quando eu vou falar de cerveja, você deve estar se perguntando.
Bom, a essa altura, tudo não passava de ideias, e tínhamos muitas ideias em paralelo. Muitas ideias e pouca execução, apesar de atualmente considerar que tudo fazia parte de um processo.
Um longo processo, que somente hoje, seis anos depois, consigo "olhar de cima" e perceber que era o começo de uma jornada.
Na verdade, estávamos em um processo de transição, saindo da longa etapa de ideação e, aos poucos, partindo para ação.
E estou contando tudo isso para que você saiba que, no fundo, nada acontece da noite para o dia. Tá, eu sei que você provavelmente já sabe disso.
Mas talvez você esteja em uma situação similar neste momento, cheio de ideias, muitos planos, muitos sonhos, porém meio perdido sobre como realizá-los.
Talvez você tenha medo de perder algo que levou muito tempo para conquistar, correto? É possível realmente transformar nossas ideias, qualquer ideia que seja, em algo concreto, rentável, com baixo risco e com os poucos recursos que tenho?
Eu me fiz essa pergunta várias vezes. E sabia a resposta. Na minha cabeça, já havia iniciado e desistido de muitas ideias de um milhão de dólares que tive ao longo da vida. E as ideias daquele momento talvez fossem, mais uma vez, apenas ideias.
"É preciso ter muito dinheiro para iniciar um negócio de sucesso..."
"E se não der certo?"
"Não tenho dinheiro para perder, não posso ter prejuízo!"
"Para ter sucesso, preciso fazer o melhor plano de negócio do mundo!"
Bom, essas frases nunca foram minhas, mas me rondavam o tempo todo.
Eu já havia iniciado um negócio no passado, aos 20 anos de idade, sem dinheiro algum, sem fazer ideia do que era um plano de negócio. Ainda assim, tinha sido capaz de gerar empregos, depois vender o negócio e colocar no bolso uma boa quantia.
Enquanto jovem e inexperiente, nunca tive medo de arriscar e mandar tudo para a puta que pariu. Então, o que me impedia de colocar minhas ideias em prática naquele momento?
A diferença era que, anos depois, já com bastante experiência no mercado, com formação acadêmica mais relevante e com mais conhecimento sobre gestão de negócios, passei a ter mais medo de perder.
Sabe a tal da zona de conforto? Era mesmo muito confortável.
Ora, eu trabalhava com gestão de riscos na EY. E a vida de empregado CLT parecia excelente em termos de risco. Eu achava que o risco era baixíssimo.
Eu já havia empreendido antes. Não precisava de matriz de risco alguma para entender que abrir uma empresa, alugar um ponto comercial, investir em reforma, contratar funcionários, adquirir estoque, investir em marketing e propaganda, pagar contador, apurar impostos, fornecer suporte e garantia ao cliente... era tudo arriscado demais, especialmente no Brasil.
E era assim que eu havia empreendido no passado. Prestava serviços como consultor de TI para pequenas empresas e tinha um excelente contrato com um escritório de advocacia. Em paralelo, tinha um ponto comercial no centro de Cabo Frio, onde vendia e alugava computadores por hora e prestava assistência técnica autorizada para alguns fabricantes de hardware.
Não pense que eu detesto o mundo corporativo. Tenho uma gratidão imensa por todos os investimentos que fizeram em mim e todas as oportunidades que tive.
Eu adorava a vida de CLT em empresas grandes. Muitas oportunidades, muito aprendizado, muitos benefícios adicionais ao salário, excelentes restaurantes todos os dias, hotéis de quatro ou cinco estrelas quando eu viajava a trabalho.
Meus chefes e colegas viraram meus amigos. Alguns viraram meus sócios.
O mais legal era que eu podia tirar férias uma vez ao ano, trinta dias, sem me preocupar com o trabalho. Até os 26 anos de idade, eu havia trabalhado sem nunca tirar férias. Quando você empreende, não quer tirar férias.
Meu salário caía certo na conta todo mês. A conta corrente jamais ficava negativa, pois o dinheiro entrava independentemente do faturamento da empresa.
Quando fui trabalhar na Michelin, passei a ganhar bem mais do que antes, mas mantive um estilo de vida um ou dois degraus abaixo do que eu podia pagar.
Todo mês, eu guardava dinheiro.
E talvez esse tenha sido meu primeiro passo em direção à puta que pariu.
Ao longo dos anos, fui criando uma reserva de capital. Mandar tudo para a puta que pariu não necessariamente significava ser inconsequente.
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APA Puta Que Pariu, Como Troquei a Carreira Corporativa pela Cerveja
Non-Fiction"O Christian aborda muitos dos desafios enfrentados por um pequeno empreendedor em um país gigantesco e cheio de dificuldades como o Brasil. E temas que vão desde a escolha do nome para um negócio, criação de uma marca, protótipos, sociedade com ami...