3. IDEIAS EM FERMENTAÇÃO

2 0 0
                                    

Lembra que estávamos sentados em frente ao meu computador, frustrados por não conseguir resolver o problema da gravação do áudio no nosso projeto de EAD? Pois é, como eu disse, recorremos ao meu flipchart e listamos várias ideias.

Queríamos avaliar se eram fáceis e viáveis dentro das nossas circunstâncias. Isto é, tínhamos um emprego que ocupava de oito a 12 horas do nosso dia, e ainda queríamos arranjar algo mais para fazer no tempo livre.

Éramos recém-casados e tínhamos compromissos familiares, além dos outros anseios e aspirações da vida.

No fim das contas, a realidade era que tais ideias não eram a nossa prioridade. Poderiam ser tocadas no tempo livre, ainda que este fosse escasso.

Agora, pensa aí, quanto tempo você levaria para construir algo dedicando apenas algumas horas por semana à tarefa?

Certamente muito mais do que o seu concorrente que está dedicando 12 horas por dia à construção do sonho dele.

Para você ter uma ideia, achei na nuvem uma foto do nosso flipchart que foi tirada em 08/03/2014. Nesse dia, já havíamos listado o Cerveja na Caixa como uma das ideias que queríamos explorar. Adivinha quando lançamos nossa primeira caixa?

Naquela época, eu ainda tinha emprego, e lembro de ter discutido essa ideia lá na França, tomando uma cerveja com o meu amigo expatriado.

Fomos a um bar depois do expediente. Eu estava fazendo um treinamento na matriz, no mesmo lugar onde ele trabalhava.

Enquanto degustava a cerveja francesa, eu me perguntava se a mesma ideia de clube não poderia ser aplicada por lá. Eu estava me dando conta de que havia muitas cervejas diferentes no mundo para descobrir e degustar... e que podiam ser enviadas para os clientes mensalmente em uma caixa de degustação.

Eu ainda não tinha ideia do trabalho envolvido na operação de um clube de assinatura de cerveja, mas, por algum motivo, não enxergava nenhum impedimento.

Eu também não tinha ainda a visão de todos os obstáculos. Àquela altura, já estava empolgado com a ideia de criar um clube de assinatura de cerveja.

Poderia dar certo, pois se as entregas fossem mensais, previsíveis, eu poderia me planejar e despachar as caixas pela transportadora em um ou dois dias do mês.

Essa empolgação, misturada com minha ingenuidade, até me fazia esquecer que eu não era um especialista em cerveja. Consigo elencar minha experiência com cervejas especiais retornando a alguns momentos distintos no passado, mas nada que me desse as credenciais de especialista.

Visitei a Holanda pela primeira vez entre o fim de 2010 e o começo de 2011. Pude experimentar muitas cervejas diferentes naquele país e quando viajei para a Bélgica e a Inglaterra. Também havia tido uma experiência muito boa na Alemanha em 2013, jantando com minha esposa em um restaurante em Nuremberg que produzia a própria cerveja. Eu ainda não conhecia o termo brewpub.

Havia um menu com muitos estilos de cerveja, e eu queria experimentar todos. Estava fascinado com o fato de estar bebendo uma cerveja que só era produzida e vendida naquele local.

Pedi uma régua de degustação e pude perceber a diferença de uma cerveja para a outra em termos de aparência, paladar e características sensoriais. Era algo novo para mim, pois eu nunca havia experimentado cinco ou seis cervejas diferentes uma atrás da outra.

Mas meu primeiro contato com cervejas especiais ocorrera alguns anos antes dessas experiências na Europa. Talvez essa palavra, experiência, tenha realmente feito diferença em cada uma das ocasiões.

Por volta de 2010 ou 2011, não lembro ao certo, eu estava alocado em um projeto de implantação de SAP na mineradora Vale, no Centro do Rio de Janeiro. Marquei de ir a um bar com dois amigos de infância que trabalhavam nas redondezas após o expediente.

O Filipe já consumia cervejas artesanais frequentemente e sugeriu que eu e o PH fôssemos encontrá-lo no Galeto do Príncipe, ali embaixo do Edifício Garagem Menezes Cortes. Confesso que aceitei a sugestão de cara, porque queria comer enquanto tomava um típico chope da Brahma.

O restaurante tinha uma carta imensa de cervejas importadas e artesanais. Eram muitas opções, com preços mais altos do que eu estava acostumado a pagar. Logo, passei a basear minha decisão no volume de álcool que viria na cerveja. "Ué, para ser mais cara, tem que ter mais álcool, não?" Haha, era assim que eu pensava.

Pedimos sugestões ao garçom e fizemos nossas escolhas. A cerveja que pedimos com teor alcóolico nas alturas foi uma enorme decepção. Não lembro o estilo nem o nome, mas tinha cerca de 13% ABV, e certamente foi a culpada de toda a ziquizira que tive naquela noite.

Mas outra cerveja, a Amnésia, chamou nossa atenção. Também tinha o teor alcoólico elevado, mas nem tanto. O amargor era presente, e o aroma, impressionante. Naquela época, eu não sabia a diferença entre os diversos estilos de cerveja.

"Uma das melhores cervejas que já bebi", nós três dissemos. Comecei a olhar o rótulo, ler as letrinhas pequenas e, surpresa: "Ih, essa cerveja é brasileira!".

Era uma Imperial IPA, fabricada por uma cervejaria chamada Mistura Clássica, lá de Volta Redonda.

Em 2009, eu estava em um treinamento em São Paulo pela EY, e fomos a um pub chamado Dublin. Naquela noite, experimentei pela primeira vez as cervejas Erdinger e Paulaner, clássicas representantes do estilo alemão Hefeweizen, em uma daquelas taças de meio litro.

Lembro de ter gostado muito das cervejas de trigo e ter ficado repetindo isso a noite inteira. Mas eu ainda bebia cerveja pensando em quantidade, em vez de qualidade.

Tirando essas experiências, meu outro contato relevante com a cerveja foi através da família.

Meus pais sempre gostaram de beber cerveja nos churrascos de domingo. Quando criança, eu colecionava as latinhas que meu pai costumava trazer de suas viagens para fora do país. Lembro que cheguei a vender algumas para outros colecionadores, que talvez tenha sido minha primeira experiência como empreendedor. Já minha avó Bela, católica fervorosa, viveu quase um século trabalhando duro na roça e sem deixar de tomar seu "líquido sagrado".

Bom, espero que tenha ficado claro que eu nãoera um especialista em cerveja quando decidi que iria viver dela.

APA Puta Que Pariu, Como Troquei a Carreira Corporativa pela CervejaOnde histórias criam vida. Descubra agora