Não dormi quase nada esta noite. Não conseguia parar de pensar no que estará por detrás daquela porta. O que terá de tão grave para que os meus tios não me queiram contar? Tenho que descobrir!
Nos dias seguintes não me consegui concentrar nem na escola nem em lado nenhum por causa daquela maldita porta. Estava sempre a pensar no que os meus tios me estariam a esconder, portanto fui para casa mais cedo e faltei à aula de educação física com a desculpa de que não me estava a sentir muito bem. Quando cheguei a casa não estava lá ninguém pois os meu tios estavam nos seus respetivos empregos e o Robert ainda estava na escola. Entrei em casa, larguei a mochila no hall de entrada e subi as escadas a correr em direção à porta. Desviei a estante e tentei abrir a porta mas estava trancada, obviamente. Sentei-me encostado à parede enquanto pensava numa solução. De repente fez-se luz: como vira muitas vezes em desenhos animados, pensei usar um gancho. Então, fui ao quarto dos meus tios e tirei um gancho da minha tia. Não deu resultado. Quando estava a arrumar o gancho no quarto, reparei numa chave que estava na gaveta da mesa de cabeceira. Tirei a chave e exprimentei-a. Fiquei em choque quando a porta se abriu. Exitei um bocado antes de entrar. Subi as escadas que me levaram ao sótão. Era um sítio grande e cheio de pó e caixas de cartão. Reparei numa mesmo lá no fundo, dizia: "Não mexer", e, obviamente, tive que ir lá ver o que era, mas quando estava a abrir a caixa ouvi um carro e espreitei pela janela e reparei que era o dos meus tios. Corri lá para baixo, fechei a porta, e com toda a minha força, tentei empurrar a estante o mais rápido possível. Depois corri para o meu quarto e fingi que estava tudo normal.
Nessa noite tive um daqueles sonhos que quando acordamos ficamos tristes, pois queremos que esse sonho se torne realidade. Eu sonhei com os meus pais. Nós estavamos juntos. Estavamos felizes. Eu tinha uns 5 anos e estavamos todos de férias nas Caraíbas, como costumavamos fazer. Estavamos numa praia de areias claras e finas e de águas limpidas e cristalinas. Apenas nós. Mais ninguém estava nessa praia. Fomos todos para a água e começámos a brincar uns com os outros: o meu pai pegava-me ao colo enquanto eu salpicava a minha mãe e ela, a rir-se, salpicava-nos também. Quando acordei, dei por mim a chorar. Levantei-me para ir buscar um copo de água, mas quando saí do quarto dei de caras com o meu tio que estava a chorar. Perguntei-lhe o que se passava.
- Nada! Agora vai dormir seu pirralho desgraçado! - respondeu ele, mais rabugento do que o habitual.
Fui para o meu quarto, ainda com sede, e deitei na cama a pensar nos meus pais e agarrei no album de fotos e comecei a folheá-lo, e à medida que passava as folhas mais lágrimas me começavam a escorrer pela cara. Fechei o album, pus-o em cima da mesa de cabeceira e comecei a chorar ainda mais pois não parava de pensar no sonho. Estavamos tão felizes! E nunca mais o vamos voltar a estar! Nunca mais vou ver os meus pais. Nunca mais vou ouvir as suar vozes, ver os seus sorrisos, sentir o calor dos seus abraços. Nunca! Foi-se! Foi-se tudo! Já não se vão fazer mais memórias! As únicas que me restam são aquelas que já estão feitas! Mas eu não quero essas! Quero mais! Quero novas memórias! Quero os meus pais!
No dia seguinte
No dia seguinte era sábado, por isso só o meu tio é que foi trabalhar. De manhã não me apetecia levantar. Para ser sincero não me apetecia fazer nada, mas fui obrigado a levantar-me por causa dos gritos e das pancadas do Robert na porta do meu quarto.
- Levanta-te!! Nós hoje vamos à cidade!!! - gritava ele.
Contra a minha vontade, levantei-me, arranjei-me e fui com eles à cidade.
Quando chegámos a Londres deparei-me com uma beleza em que nunca prestara muita atenção. É mesmo linda, a cidade de Londres.
Todas as semanas a minha tia vai até à cidade fazer as compras para a casa (e às vezes para si). Eu nunca tinha ido antes mas o Robert entusiasma-se sempre. Passeámos pelas ruas, a ver as montras até que entrámos numa loja de roupa para senhora. Eu não acreditara nos meus olhos quando entrei na loja e vi aquela rapariga. Era ela! Era a NICOLETTE! Andei calmamenete em direção a ela, tentando conter o entusiasmo que em mim pairava.
- Olá! Lembras-te de mim? - disse-lhe eu, esperando com muita ansiadade um sim.
- Oh meu Deus! Não acredito!! Casper, és mesmo tu? - respondeu ela. Oh, como tinha saudades do seu lindo sotaque!
- Sim! - disse abraçando-a.
Depois de um longo, longo (mesmo longo) e apertado abraço, separámo-nos e eu disse:
- Tinha tantas saudades tuas!
- Eu também tinha muitas saudades tuas, mas Casper, há uma coisa que precisas de saber: eu já não sinto o mesmo por ti como sentia naquelas férias, foi só uma brincadeira, e para além disso, eu tenho um namorado. Espero que não fiques triste.
- Não! Claro que não! Tu só foste a única rapariga por quem eu me apaixonei! Nada de mais! - pensei eu. Era como se tivesse levado um soco mesmo no nariz e depois me tivessem arrancado o coração. - Não. Não fico triste. - disse eu por fim sorrindo afetadamente.
- Oh, ótimo! É que eu não queria mesmo que ficasses triste. Eu gosto muito de ti Casper. És um grande amigo. - Ah! Essa doeu! - Espero que continuemos amigos.
- Claro!
- Casper! Anda cá imediatamente! Não quero demorar muito! - gritou a minha tia do fundo da loja.
- Bem, eu tenho que ir. Vemo-nos por aí?
- Claro. Adeus Casper.
- Adeus. - disse eu e dirigi-me para o pé da minha tia.
Quando chegámos a casa fui para o meu quarto. Lá fiquei durante a hora seguinte a ouvir música e a fazer os trabalhos de casa. Não parava de pensar nela. No quanto me doeu quando disse que eramos "só amigos". Ah! Como eu gostava que ela gostasse de mim!
2h da manhã
Acordei a meio da noite. Levantei-me para ir à casa de banho e reparei que a estante estava desviada e a porta aberta. Como curioso que sou, fui ver quem tinha entrado por aquela porta. Subi as escadas e, cuidadosamente espreitei para o fundo da sala tentando não fazer barulho. Reparei que o meu tio estava sentado no chão com as costas encostadas à parede a chorar com um bocado de papel, que parecia uma fotografia, nas mãos e com a luz, que não dava muita luminusidade ao sótão, acesa. Perguntei-me o que teria aquela foto para fazer o meu tio chorar. Quando reparei que o meu tio se estava a levantar corri para o meu quarto e deitei-me rapidamente na cama e fingi que estava a dormir. Ouvi o meu tio a entrar no meu quarto e a sussurrar-me ao ouvido enquanto me acariciava a cabeça. Dizia:
- Oh, Casper! Se tu soubesses...
Ele foi-se embora e eu pensei:
- Bolas! O que será? E ainda tenho que ir à casa de banho!
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As Sombras do Passado
Misterio / SuspensoCasper é um rapaz australiano normal e feliz de 15 anos. Vive em Sidney; tem dois pais que são ricos e bem-sucedidos nas suas carreiras; está num colégio particular no qual é muitíssimo popular, tem muitos amigos e todas as suas colegas estão "caidi...