Capítulo 4 - Nova escola, novas descobertas

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Olá! Eu só queria avisar que se és fácilmente impressionável recomendo que não leias este capítulo (pelo menos o primeiro parágrafo).

Desde à duas semanas atrás que perdi tudo, e desde aí não consigo parar de pensar nisso. No assassinato. A polícia tentou encontrar provas, mas, pelo que me foi dito, não encontraram nada. Disseram-me que apenas a minha mãe levou dois tiros: um no braço e outro na cabeça. Ao resto acertou-lhes em cheio no coração. E esta imagem não me sai da cabeça: o meu pai caído no chão ao pé do piano, Annabelle, com os seus grandes olhos cinzentos abertos, caída ao pé das escadas, Amelia virada de barriga para baixo, deitada numa grande poça de sangue ao pé da porta da cozinha e a minha mãe no meio da sala de olhos abertos e braços esticados com o buraco da bala na testa igualmente rodeada de sangue. 

Hoje foi o primeiro dia de escola. Não correu tão mal como eu esperava. Os professores são simpáticos, os alunos também, mas existem alguns parvalhões como há em todas as escolas. Foi um dia de aulas, não muito normal mas também não teve nada de extraordinário. 

Conheci os professores de inglês, francês, alemão, matemática, educação física e de música que me inspirou uma certa curiosidade. 

O meu dia de escola foi assim:

De manhã

Acordei às 6h, levantei-me, lavei a cara, vesti o meu uniforme e fui tomar o pequeno-almoço com os meus tios e primo. Como sempre trataram-me com desprezo. A minha tia Giselle fez panquecas com mel e enquanto o Robert pôde comer todas as que ele quisesse eu só tive direito a uma!

Depois fomos apanhar o autocarro da escola. O Robert fingiu que não me conhecia e foi ter com um grupinho de rapazes como ele: snobes e mimados, que estavam constantemente a falar daquela maneira irritante e a dar risadinhas igualmente irritantes. Fui sozinho no autocarro. 20 minutos sozinho a ouvir música. Se pensar-mos bem, nem foi mau de todo! 

Quando chegámos à escola reparei que era um edifício alto e moderno com o seu brasão estampado na parede do portão principal da escola. Era um escudo amarelo com uma águia castanha no meio e na parte debaixo do escudo estava gravado: "Audaces fortuna juvat", ou seja, "a sorte protege os audazes". Sei disso pois tive um ano de aulas de latim e deu para apanhar alguma coisa. 

A primeira aula foi a de francês. Conheci a Madame Russeau que é baixinha, muito exigente, usa óculos, tem o cabelo de um castanho avermelhado e nasceu em Cannes, no sul de França.

Depois tivémos inglês. Mr. Stuart é um homem de 55 anos, de cabelo grisalho e bastante "irritável", pois sempre que ouve um barulho, um barulhinho que seja, começa aos berros.

A aula que se seguiu foi a de alemão. Mrs. Carter é uma senhora inglesa, baixinha, um pouco gordinha e uma das pessoas mais simpáticas e amáveis que já conheci.

De tarde

Matemática foi a aula que se seguiu. Sempre adorei números e equações. Lembro-me que costumava fazer pequenas competições com o meu pai para ver quem acabava de resolver as equações mais depressa. Eu ganhava sempre pois o meu pai era terrível a matemática. A minha mãe, pelo contrário, era um génio. Infelizmente esses dias já não se vão voltar a repetir. Mas bem, mrs. Cook era como a minha mãe: um génio. Fazia com que os alunos com menos capacidade de aprendizagem conseguissem preceber tudo, mas depois ainda haviam aqueles que simplesmente não queriam fazer nada e a esses não se pode ajudar.

A seguir tivémos educação física. Eu costumava jogar na equipa de rugby da minha antiga escola. Era bastante bom e esse era um dos motivos porque era tão popular. Aqui sou apenas mais um. O professor é alto, magro, usa óculos, tem barba e o seu nome John Collins, mas nós tratamos-o por mr. Collins.

Por fim, a última aula do dia foi a de música. Mr. Blake, um senhor alto, com cerca de 45 anos é o nosso professor. Quando estava a fazer a chamada parou no meu nome fitando-o com admiração. Depois de mais ou menos 30 segundos, recuperou do choque e disse:

- Casper Jones?

- Sim. - respondi eu.

- No final da aula preciso de falar contigo.

- Aaa... Ok.

Quando a aula acabou todos saíram menos eu e Mr. Blake. 

- Professor, queria falar comigo? Fiz alguma coisa de mal?

- Não, não. É que não consigo acreditar. És mesmo tu? Filho de Vivianne e Albert Jones?

- Sim, senhor. Conhecia-os?

- Sim, eu era um grande amigo do Albert... Espera. Tu disses-te "conhecia-os"?

- Sim. Eles morreram à duas semanas atrás. - disse eu a conter as lágrimas ao máximo.

- Oh. Lamento imenso. O Albert e a Vivianne eram fantásticos. Tenho pena de não ter falado com eles antes. 

- Pois. 

- Então, era só isto, miúdo. Era só para ter a certeza de que eras tu. Podes ir.

- Ok. Adeus Mr. Blake.

- Por favor, trata-me por Roger.

- Ok.Então adeus Mr. Roger.

- Adeus Casper.

                                                             ***

Depois do Casper sair, Mr. Blake pega no seu telemóvel, vai à sua lista de contactos e liga para um número que está registado como "Claire".

- Estou? Roger, despacha-te. Estou com pressa. - diz uma voz do outro lado do telemóvel.

- Claire, é importante!

- Então diz rápido!

- O miúdo, o Casper, está vivo e está aqui na escola! O que é que fazemos?

- Deixa que eu trato do assunto.

                                                           ***

De noite

Quando cheguei a "casa" (porque não me sinto nem perto de estar em casa) fui para o meu quarto fazer os trabalhos de casa e depois quando a minha tia me foi chamar fui jantar.

Ao jantar falámos da escola. Quer dizer: falaram, porque eles estavam-se "nas tintas" para como tinha sido o meu primeiro dia de escola.

Quando estava a subir para o meu quarto reparei que ao fundo do corredor havia uma porta em que eu nunca tinha reparado. Ao lado estava uma estante que, provavelmente, estaria ali no propósito de tapar a porta mas que agora estava de lado pois essa pessoa quereria entrar pela porta. Também reparei que sou muito bom a perceber o obvio. Então, movido pela curiosidade, decidi espreitar por detrás da porta, mas quando estava quase a tocar com a mão na maçaneta o meu tio aparece por detrás de mim e grita:

- O que é que pensas que estás a fazer?

- Eu, eu...

- Vai já para o teu quarto! 

- O... O... Ok. -  disse eu correndo para o quarto. Fecho a porta e pouco tempo depois oiço o meu tio a comentar com a minha tia:

- Aquele fedelho bedelhudo quase descobria. Temos de ter mais cuidado.

- Sim, se ele descobre... Nem quero pensar. Mas vá, querido, vem que eu vou-te preparar uma chávena de chá para te acalmares.

- Está bem.

O quê? Descobrir o quê? O que é que aqueles dois me estão a esconder que seja tão grave? Seja o que for tenho que descobrir. Tenho que entrar por aquela porta. 

As Sombras do PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora