Capitulo 7 - Timothy Jones

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Não dormi nada esta noite por causa do que o meu tio me disse. Estou estupefacto. Estou em choque. Estou furioso. Estou confuso. Estou desiludido. Estou num enorme misto de emoções.

Mas... como? Como pode ser isto verdade?

Noite anterior

- Agora senta-te. - disse-me apontando para a outra poltrona que se encontrava de frente para a dele - Deixa-me contar-te tudo.

Sentei-me, hesitante, na poltrona, sempre a olhar para o meu tio.

- Há muito tempo atrás, quando eu tinha 16 anos, eu e o teu pai vivíamos em Manchester, onde fomos criados. Éramos os melhores amigos. Partilhávamos tudo, raramente discutíamos e ele era o meu melhor confidente, contava-lhe todos os meus segredos e ele a mim. Quando nos mudámos para Sydney, conhecemos ambos uma rapariga linda: de cabelos castanhos e olhos azuis tão brilhantes que fazia ciúmes às estrelas. Era maravilhosa: sabia cantar, era querida, generosa, espetacular. Fiquei logo apaixonado, mas o teu pai também. A nossa relação nunca mais foi a mesma, ambos a queríamos. Mas no fim o teu pai é que ficou com ela.

- Então, essa rapariga era a minha mãe?

- Sim, - disse com um ar sonhador e nostálgico. - era pois. Sempre senti que ela também sentia alguma coisa por mim. E mais tarde vim a descobrir que isso era verdade, mas o teu pai foi sempre o seu verdadeiro amor.

Eu olhava-o pasmado. Será que, por ciúmes ele os tinha matado?

- No entanto conformei-me com isso, mas continuei sempre a amá-la. Entretanto conheci a tua tia. Ela apaixonou-se por mim e, eventualmente acabámos por casar, apesar de eu nunca ter esquecido a tua mãe. Os anos foram passando e eu e o teu pai fomos ficando cada vez mais distantes até perdermos o contacto.
Um dia, quando estava a sair do trabalho, recebi uma chamada. Era a tua mãe. Falava rápido, tinha um tom alarmado na voz e estava a chorar. "Acalma-te! Acalma-te!", disse-lhe eu, "O que se passa?". Respondeu-me que o teu pai chegara a casa embriagado pela oitava vez consecutiva e que se tornara violento. Na altura eu vivia em Londres e os teus pais continuavam em Sydney, por isso não podia encontrar-me com ela para a reconfortar. Por isso ficámos a falar durante quase toda a noite. - disse sorrindo suavemente lembrando-se do momento. - Claro que pagámos um balúrdio pela conta do telefone, mas, no fim, valeu a pena. - sorriu ainda mais, o meu tio. - Continuámos a falar durante os meses que se seguiram, em segredo do Albert e da Giselle, claro.
Começámos com um caso à distância, mas eu não conseguia estar longe dela. Portanto, fui para Sydney com o pretexto de ir em negócios e encontrei-me com ela, pela primeira vez em dois anos. Fomos para um hotel e todas as noites nos encontrávamos lá. Finalmente, lá tive que voltar para Londres. Quando me vim embora, a tua mãe decidiu afastar-se do teu pai por um tempo.
Dois meses depois, Vivienne ligou-me e deu-me a maravilhosa notícia de que estava grávida e que eu era o pai. - a sua cara iluminou-se num sorriso ao mensionar estas palavras. - Timothy Casper Jones... Era o nome que lhe íamos dar. Infelizmente para mim, pouco tempo depois de ter o bebé, a tua mãe voltou para o teu pai e tu foste registado como seu filho, não meu e a tua mãe pediu-me para manter isso em segredo. Nesse esse momento tornei-me uma pessoa completamente diferente: amargo, frio.

Fiquei estupfacto. Olhava para o meu tio de boca aberta, num misto de espanto e incredibilidade. Não conseguia falar. Tudo o que eu sabia era mentira. Toda a minha vida era mentira.

- Algum tempo mais tarde, a Giselle também engravidou.
Acabámos por perder contacto e o nosso caso acabara. A tua tia acabou por descobrir, mas reagiu bem e continuámos juntos. Sete meses depois da tua mãe me dar a notícia, nasceste e ela, em vez de te chamar Timothy, chamou-te Casper.

- Então, mas... Foi o senhor que os... matou? - perguntei eu, hesitante.

-Eu? Eu?! Fico ofendido por me acusares de tal coisa! Nunca mataria Vivianne! Jamais mataria o amor da minha vida! - exclamou o meu tio ofendido. - Também nunca mataria o meu proprio irmão, apesar de tudo o que aconteceu entre nós! E muito menos tentaria matar o meu proprio filho!

Arrependera-me logo de o ter perguntado. Ainda me era extremamente estranho o meu tio tratar-me por filho. Era uma coisa dificil de aceitar.

- O dia em que me disseram que eles tinham morrido foi um dos piores da minha vida. Perdi o meu amor e o meu irmão. Não foi fácil, rapaz, ver-te pela primeira vez numa situação dessas, por isso, a maneira que arranjei para lidar com isso foi ser arrogante contigo. E por isso peço desculpa.
Mas vá, tens que ir dormir Casper. Já é tarde. - disse e desviou o seu olhar para a lareira apagada.

Subi para o meu quarto sem dizer uma palavra. Deitei-me na minha cama a contemplar o teto e a pensar. A minha cabeça estava numa enormíssima confusão. As palavras que o meu tio... pai, ou seja lá o que ele me for, não me saíam da cabeça.
No entanto, uma pergunta ainda não me fora respondida: Quem matara os meus pais?

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⏰ Última atualização: Apr 02, 2017 ⏰

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