Capítulo XI

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O que seu olho poderia enxergar? Apenas a verdade, apenas a justiça. A menina que antes pensava demais e falava de menos, agora teria mais um problema entre sua mente e o mundo exterior.

James saiu de alguns arbustos que estavam perto de onde a menina chorava.
— HELZINHA! CALMA, CALMA, EU TÔ AQUI...— gritava, desesperado.
Needle e Luana saíram pelo mesmo caminho de onde James havia saído, se apressando para tentar acalmar a menina.
— Me fala! O que houve?!...— perguntou Luana, preocupada.
— OLHO... O-OLHO... FO-OGO... AAAAAHHHHH!..
A garotinha apenas chorava e agonizava a ardência abundante em seu globo ocular. James tentou acalmá-la - depois de tentar acalmar a si mesmo - e pediu para que ele visse o olho de Helvetica. A menina não deixava e tentava saltitar ainda mais.
— Helvetica! Calma, a gente só quer ajudar você...— disse Needle, meio horrorizada.
— Helzinha...— James segurava o rostinho marejado da menina —...se você chorar pode arder mais ainda. Você consegue segurar um pouquinho, só pra eu dar uma olhadinha bem rapidinha?...
A garotinha engoliu o choro, respirando fundo por alguns segundos e se segurando para não chorar mais. Lentamente, a mão esquelética do homem de olhos negros retirava a mãozinha da menina de cima do olho machucado. Assim que Hel abriu seu olho, ambos os três que tentavam ajudar a menina levaram um susto pela aparência de seu olho. A esclerótica estava acinzelada, e em suas extremidades, um vermelho estranho por causa da ardência. Needle trocou olhares com James, esperando uma resposta como a que deu a respeito do espinho que tinha visto em Bumi. O homem apenas acariciou as bochechas gordinhas de Helvetica e disse para retornarem à fazenda de Rosivaldo para fazer um curativo até que a ardência passasse.

Assim que voltou para onde Rosivaldo e Bumi estavam, fez um sinal para Needle, dando a entender que precisavam conversar.
— Diga, molusquete.
— Não sei o que é aquilo, mas vai trazer muita agonia pra ela.
— NOOOSSA! É esse o teu palpite?— um silêncio tomou o espaço da conversa entre ambos —Alguém dê um prêmio ao capitão óbvio aqui!
James desviou o olhar, constrangido.
— Eu... Olha, eu acho que consigo ver coisas que ninguém mais vê, sabe?
Needle acenou a cabeça, dizendo que não.
— Tipo, você não viu espinho nenhum nas costas do Bumi e eu vi.
— Isso eu sei, bobão. Só não consigo dizer se você tem isso porque tem usado muita droga, ou se é coisa do laboratório. Diz aí, antes de você ser pego pelos magos, você via essas coisas?
— Não posso dizer que não, mas não via coisas destacadas como vejo agora.
— Sinceramente...— a garota andou um pouco mais pra frente, olhando diretamente nos olhos do mais alto —...Eu tô achando que você tá com sequela desses anos se drogando.
Algo que passara despercebido por James tomou a atenção do mesmo.
— Ei, como você sabe que eu passei anos me drogando?...— questionou, meio assustado.
— Da mesma forma que você tem certeza de que alguma coisa que ainda não aconteceu vai acontecer, deduzi que você passou por isso sem saber de nada mesmo.
James esboçou um semblante confuso.
— Escuta, esquece isso daí!— disse a garota —Você viu o espinho, sabia que era maligno e que tava afetando o menino bode. Você viu o olho da Helvetica e já disse que é algo ruim pra ela.
— Ué, óbvio! Não viu o escândalo dela quando tava ardendo?
— SIM, EU VI. Por isso tô perguntando como você tem noção dessas coisas malignas e nós não. Você diz que parou com as drogas, mas deve ter sequelas ou até tá usando no escondido...
— Nem vem. Parei, não sou mais esse tipo de pessoa...— James ficou cabisbaixo.
— Hm, tá.
— Posso interromper?— disse Robson, interrompendo —...a conversa de malucos tá bem interessante mas eu tenho um palpite.
— Fod...
— Ótimo, ótimo, pode dar seu palpite!— disse James, dando um tapa na nuca de Needle para não dizer o palavrão na frente de Helvetica.
— E se o James tivesse alguma ligação com um mago do laboratório? Tipo, o Derlock ou qualquer um dos outros que eram convocados pra trabalhar lá...
— Como assim?!— disse James, meio alterado.
— Perceba minha pele e meu cabelo, como são diferentes. Claro que, verde de cabelo ruivo, você olha pra mim e pensa que eu tive alguma ligação com algum orc lá de Ryrax, né? Não tem dúvida.
— Eu olho pra você e penso: velho.
Helvetica deu uma gargalhada, seguida por uma queixa de dor por causa de seu olho.
— AH! Que engraçada, você! Eu olho pra você e penso: escova de privada!
— AH É, REPOLHO ESTRAGADO, VEM PRA CIMA ENTÃO!— gritou Needle, irritada.
— MARIA MIMIMI!
— JOÃO ALHO PORÓ!
Enquanto Needle e Robson trocavam lindos elogios que fortificassem ainda mais a amizade maravilhosa deles, James segurou a mão de Helvetica, que andava a sua frente. Olhou para a menina, que estava com uma das mãos sobre o olho danificado, sendo correspondido por um sorriso que, desde a primeira vez que a viu, seria uma das poucas coisas que transformariam o mundo do traficante traumatizado em uma utopia completamente contrária.

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⏰ Última atualização: Feb 24, 2023 ⏰

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