III - •● Perfect Blue Eyes ●•

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Derek e eu começámos a andar no sentido oposto ao hospital, seguindo pela calçada do jardim.

"Quanto tempo estive inconsciente?" Pergunto. "Não pode ter sido mais de um dia ou dois, pois não?"

"Na verdade, acho que pode, porque estiveste inconsciente durante..." Derek levantou o olhar para o céu e depois prosseguiu. "Coisa de uma semana."

"O quê?" Deixei escapar talvez alto demais. Parei.

Como é possível?

"Estiveste em coma." Derek solta uma leve gargalhada.

Coma?

"E que dia é hoje?"

"Sexta." Disse enquanto me abria a porta do seu carro preto.

"Não era preciso, eu sei abrir uma porta, não estou incapacitada." Digo rudemente, sentando-me.

Talvez o tenha dito rudemente demais, mas isto não é um gesto de cavalheirismo normal, vindo dele, pelo menos não o é. Derek não costuma ter este tipo de ações comigo porque a) não é assim que funcionamos e b) eu não gosto, e ele sabe.

"Para de refilar." Ele revira os olhos e bate a porta com força. Dá a volta ao carro e entra, enfiando a chave na ignição. "Só estava a tentar ser simpático e ajudar-te."

Estou prestes a dizer-lhe que não preciso da ajuda dele, que me safo bem sozinha, mas percebo que não é essa a verdade.

Sem ele, ainda estaria deitada naquela cama e com a roupa nojenta fornecida pelo hospital, o que significa que ele já fez mais por mim do que lhe foi pedido - que foi precisamente nada.

E no entanto, aqui estou eu, no seu carro, enquanto ele me conduz na direção de minha casa.

Talvez um 'obrigada' ou um 'desculpa' calhasse bem, mas ao olhar para a estrada, apercebo-me de outra coisa.

"A minha casa não é por aqui." Constato, olhando para Derek, que sem tirar os olhos da estrada, me responde:

"E quem te disse que vamos para tua casa?" Ele fez um pequeno sorriso. "Vamos para a minha que é maior e mais confortável." Fez uma pausa, enquanto contornava uma rotunda. "Acabaste de sair do coma, devias estar no hospital, e no entanto, aqui estás tu. Por isso o que te peço é que confies em mim e que pares de ser mal agradecida."

Mais uma vez lhe quero responder, mas os argumentos dele estavam certos.

Assenti e acabei por adormecer.

(...)

"Sophie?" Derek chamou.

Abri os olhos e deparei-me com os olhos dele, tão perto de mim, tão azuis, tão perfeitos.

"Chegámos." Declara sorrindo e afastando-se, para me dar espaço.

Saio do carro. Ao mexer-me doem-me os flancos, principalmente o esquerdo - onde o carro me atingiu. Tento andar e quase que caio. Teria mesmo caído se não fossem os braços de Derek a impedi-lo.

"Queres que te leve?" Pergunta.

"Não." Apresso-me a responder e volto a tentar equilibrar-me, falhando miseravelmente. Derek volta a apanhar-me.

Gargalha. "A mim está a parecer-me que sim." Sorri de forma parva. "Os analgésicos estão a deixar de fazer efeito, vais começar a sentir-te com mais dores."

"Mais ainda?" Tento sorrir, agarrada a ele.

"Anda cá." Ele pede e apanha as minhas pernas com um braço e apoia as minhas costas no outro.

Into The ShadowsOnde histórias criam vida. Descubra agora