VI - •● Blood On The Walls & Ice Cream ●

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Agarro a maçaneta da porta, pronta para deixar a enfermaria, mas esta abre-se na minha direção, sem que eu tenha mexido um único músculo a seu favor.

Fico a olhar estupefacta para Derek, que quase me deu com a porta na cara.

"Queres ir co-" Desvia o seu olhar e foca-o num ponto atrás de mim. "Hum, já vi que não precisas que to apresente."

E assim permanece. Com uma mão na maçaneta do lado de fora da porta, o seu corpo alto a bloquear a minha saída e o seu olhar no fundo da sala.

"Derek?" Tento chamar a sua atenção de volta para mim. Nada.

Viro-me e encontro Dylan, sem camisola, sentado no banco que outrora Grace ocupava. Esta, à sua frente, desinfeta uns arranhões no seu peito.

Quando acaba sorri-lhe. Dylan agarra-a pela cintura e puxa-a de encontro ao seu corpo, dando-lhe um beijo na bochecha, ao qual ela retribui com um risinho.

Tanta doçura deixa-me enjoada, principalmente depois de perceber que Dylan não é assim tão encantador como Grace mo tinha feito parecer.

Volto-me novamente para Derek, mas ele já não se encontra onde estava. Foi-se embora e eu nem notei, tal como aqueles dois também não notam que não estão sozinhos.

Encolho os ombros mentalmente e deixo finalmente a sala que já se tornava claustrofóbica - pelo menos para Dylan, que agarrava em Grace como se as paredes estivessem a encolher e ambos precisassem de minimizar o espaço, o que, para constatar o óbvio, não estava a acontecer.

"Sophie?" Oiço chamar do lado contrário do corredor que eu estava a tomar.

Paro e deixo que Eric venha ter comigo.

***

Passo novamente pelo piso da enfermaria, na tentativa de chegar à sala de treino, com esperança de aliviar a tensão, visto o pequeno-almoço com Eric - e as suas revelações - terem-me dado energia suficiente para a querer ir gastar a bater em objetos inanimados. Algo que me ajuda a organizar ideias e pensar.

Por causa das suas revelações é que eu gostava de partilhar certos momentos com Eric, tendo em conta que é ele, provavelmente o único que me conta novidades, não as costumando deixar a menos de metade.

E eis o que eu não sabia: não sabia que Derek me tinha levado para casa dele, não por estar a ser prestável, mas porque afinal a minha casa era agora alvo de investigações (algo de que eu também não tinha conhecimento); não sabia que Derek e Grace se tinham beijado na semana passada e que depois disso também o mesmo já quase tinha acontecido com Dylan; não sabia que iria ter de refazer testes psicológicos e físicos por ter passado uma semana deitada num cama de hospital inoperacional; e principalmente não sabia que teria de refazer os testes com o meu - ou não - simpático parceiro, do qual eu - ou não - tenho uma boa impressão, e com o qual - ou não - tenho uma enorme vontade e começar a trabalhar.

E o pior de tudo é que, no final de contas, a sala está ocupada. Por Derek.

E aqui estou eu, a tentar libertar a minha frustração; e ali esta ele a, de facto, libertar a sua frustração.

Tudo porque provavelmente estava à espera que o beijo com Grace - a rapariga linda de olhos verdes, cabelo ruivo e sardas, com quem, no ano passado, já fez mais do que devia - significasse mais do que propriamente significou.

O que só prova que ele ainda não a ultrapassou como eu julgava, pelos vistos à demasiado tempo.

É impressionante como um beijo fracassado pode levar alguém a esmurrar um boneco com tanta agressividade. O boneco que podia ser eu a esmurrar.

Into The ShadowsOnde histórias criam vida. Descubra agora