V- •● Aspirant to Peacock ●•

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"Sophie?" Derek chama a minha atenção e desencosto a cabeça da janela do carro, olhando para ele. "Há uma coisa que devias saber..."

"O que é?" Pergunto sem forças.

"Lembras-te daquela última conversa no balneário? Sobre a urgência de teres um parceiro?"

"Sim, lembro. E deixa-me adivinhar, escolheram-no sem mim?" Reviro os olhos o que me provoca uma ligeira tontura.

Ontem, durante o meu momento de pouca lucidez provocado pela falta de nicotina, achei que estava melhor, mas hoje quando acordei, percebi o quão enganada estava.

Para além das dores externas que tenho nos hematomas, tenho também o cérebro a latejar e o estômago às voltas devido à quantidade de analgésicos que já tomei hoje para as tentar controlar, sem sequer comer algo de manhã. O que foi um erro estúpido, mas nem para isso tive forças.

Por isso, dirigimo-nos agora para a agência.

No início, Derek não me queria lá levar, pois achava que precisava de descanso e repouso, mas após ver o meu estado lastimável, decidiu que seria melhor visitar a Grace - rapariga apenas um ano mais velha que eu, mas é um 'prodígio' e trabalha no departamento médico da agência.

"Pois... e já está decidido quem será." Derek prossegue.

Algo se revolta no meu estômago. Não sei se meu estado físico e psicologicamente dorido, ou se a notícia que Derek me acaba de dar; talvez até ambas.

Sinto o meu esófago contrair-se e não tenho mais nada senão virar a cara para Derek, acabando por vomitar para o seu colo.

***

Derek volta da bomba de gasolina com o vomitado já ensopado.

"Para a próxima abre a janela e vomita para lá, ou noutro sítio que não seja para cima de mim!" Soa rude enquanto se senta de novo no lugar do condutor.

"Ia vomitar para cima de mim, não?" Respondo.

"Era uma boa ideia! Melhor que esta." Aponta para o próprio corpo.

Rio-me mentalmente da situação, pois não possuo forças para mais.

"Oh, porquê? Ficas giro com essas novas cores e cheiros pútridos na roupa." Rio-me agora um pouco.

Derek apenas me lança um olhar e arranca com o carro.

"Este cheiro pútrido, como dizes, veio de ti." Refere.

Apenas encolho os ombros e encosto a cabeça ao vidro.

Não tenho mais argumentos.

"Mas continuando..." Pede.

Eu podia ir agora a dormir, mas parece que isso não está nos seus planos.

Mas estava nos meus!

"Sabes que não o teríamos feito sem ti. Mas aconteceu o que aconteceu e recebemos ordens superiores para nos despacharmos." Defendeu-se. "Para tal pediram-nos para ir buscar alguém que já tivesse feito os primeiros testes, para evitar perdas de tempo."

"E então?" Incentivo-o a continuar.

"Encontrámos um bom candidato... aparentemente tem um irmão e ambos já se tinham candidatado, mas apenas o irmão conseguiu entrar."

"Irmão? Como se chama?"

"Sophie!" Repreende. "Essas coisas são apagadas dos registos quando alguém consegue, de facto entrar."

Sei que sim, foi estúpido perguntar.

Resigno-me e olho pela janela, para o aglomerado de árvores que vai aumentando a sua densidade, engolindo a estrada - e consequentemente nós - como um animal selvagem.

Into The ShadowsOnde histórias criam vida. Descubra agora