A semana havia passado lentamente. Após a saída para a costureira sua mãe praticamente a trancara junto a Margareth para estudar e aprimorar seus atributos. Piano, costura, leitura, etiquetas. A notícia que um conde iria desembarcar na grande Londres para a temporada deixou os nervos bem aflorados.
A sexta que antecedia o evento chegou com um sol brilhante no céu, raro de se ver naquela cidade. Suspirei enquanto olhava pela janela do meu quarto, a noite anterior havia sido de chuva intensa, um milagre o céu estar tão limpo.
- É um milagre esse sol! – Falo virando para Maggie – Quero dar uma volta.
Ouço o seu suspiro e sei que ela também estava com o mesmo pensamento a rondando. Maggie era agitada, se para mim que não me importava em ficar em casa para uma boa sessão de leitura estava sendo uma tortura, para ela era praticamente o fim do mundo.
- Se ficar mais um dia aqui presa, vou ter um ataque. – Ele se jogou na cama – Estou em Londres estudando etiquetas como se já não tivesse feito isso minha vida toda!
- Vamos pedir para ir em uma confeitaria ou algo assim.
- Papai saiu cedo para encontrar um velho amigo e Elô também. Só se pedirmos a Phillip nos levar.
Mamãe nunca deixaria que andássemos sozinhas em uma grande cidade. Apenas Phill, que estava em casa naquele dia, sabia como se movimentar por ali sem a chance de se perder, mas convencê-lo não seria fácil. Meu irmão, apesar do bom coração, era um tanto quanto preguiçoso.
- Ele saiu ontem com o papai e o Sr. Andrews – Praticamente choraminguei – Sair dois dias seguidos, sem uma real necessidade, não está no itinerário da vida do nosso irmão.
- E se Mary for também? – Minha irmã me questionou
- Ela acordou com dor de cabeça. Vai ficar descansando para o sarau amanhã.
Como se tivéssemos combinado suspiramos de forma dramática ao mesmo tempo. Eu não iria desistir tão rápido, não mesmo. Eu iria dar um passeio hoje nem que tivesse que levar meu irmão carregada.
- Vamos Maggie. – Levantei determinada da poltrona – Convença mamãe a nos permitir ir passear com Phillip, que ele eu convenço nem que tenha que chorar.
O sorriso cúmplice surgiu no rosto da minha irmã e em segundos ela já estava atravessando a porta do nosso quarto. Arrumei meu vestido e me olhei no espelho.
- Vamos lá Catherine, você sempre consegue.
Andei pelo corredor com um pisar determinado e dei leves batidas na porta do quarto que meu irmão estava. Em poucos segundos ele abriu a porta e eu abri um sorriso angelical.
- O que quer que seja, a resposta é não. – Disse ele enquanto fechava a porta e vinha para o corredor.
Arregalei meus olhos e coloquei a mão no coração. Mas que homem sem coração, eu sou irmã rapaz, honre sua família.
- Você nem ouviu ainda Phill. – Disse retomando minha cara de cachorrinho sem dono – Salve suas pobres irmãs!
- Pobres irmãs, né? – Ele soltou uma risada anasalada – Vamos Tita, fale o que tanto perturba as princesas.
Respirei fundo e usei todo o meu dom comunicativo para encenar a maior peça teatral já vista em toda Londres.
- As donzelas da família Graham estão trancafiadas em uma casa cinza de pedra a dias! Em plena temporada de Londres, as moças estão sendo forçadas a estudar costura. – Falei exaltada – Elas pedem... Não! Elas clamam ao amado irmão que as salvem por algumas horas, as oferecendo um modesto passeio pelas ruas agitadas para acalentar as pobres almas atarefadas.
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Dança comigo?
Historical FictionA vida de uma debutante em 1876 era composta por bailes e saraus. Para Catherine Graham, não era diferente. Só havia um problema, um pequeno detalhe que a diferenciava das outras meninas no salão, ela não dançava. Após sofrer uma acidente na infânci...