Encontramos Phillip vindo em nossa direção e ele me olhou espantado. Balancei a mão na frente do rosto disfarçando e disse que tinha tropeçado, fazendo-o rir. Tentei não me desestabilizar com os pitacos de Maggie todo o caminho até em casa, tentando arrancar alguma informação sobre o tal homem com quem eu esbarei.
- Fique quieta! - Apertei seu braço levemente enquanto falava em um tom baixo - Quer que Phillip ouça?
Logo ela se calou, mas continuou com um sorriso brincalhão no rosto. Quando chegamos na casa subi a escadaria com pressa, antes que mamãe visse meu estado e começasse uma bronca. Rumei para o banheiro e fiz minha higiene.
O resto do dia passou tranquilamente, logo ao anoitecer Mary saiu dos seus aposentados dizendo que já se sentia revigorada. Ela e Eloise, que havia chegado do seu passeio um pouco depois de nós, firmaram uma conversa animada sobre o sarau no dia seguinte.
Enquanto eu tocava piano no canto da sala e desviava dos olhares inquisidores de minha irmã. O seu sangue fofoqueiro não iria me deixar em paz.
Fui me deitar mais cedo, fora um dia muito agitado e eu estava muito animada para o que aquele primeiro sábado de eventos iria nos trazer. A movimentação na casa logo sessou, mas o ar que circulava pelos cômodos era agitado, como se todos estivessem ansiosos para o dia seguinte.
Com uma sintonia surpreendente todos se levantaram cedo naquele sábado e o dia passou com uma rapidez incomum. Talvez por conta de tantos detalhes a serem preparados para a noite.
- Essa será minha temporada... - Exclamou Maggie enquanto o penteava os cabelos - Nossa, no caso.
Soltei um risinho anasalado, mas não retirei os olhos do livro que estava lendo. Margareth era sem dúvidas o centro das atenções em todos os eventos que participava. Ela dançava, ria, conversava, porém nenhum cavalheiro nunca a chamou atenção o suficiente para largar os bailes. Papai dizia que para Maggie se casar teria que arranjar alguém do mesmo grau de agitação. Nunca fora mal-educada, porém caso a conversa ficasse maçante, ela logo se retirava. E confie em mim, homens de sociedade sabem deixar uma conversa chata.
- Quem sabe em Londres os partidos não são mais cultos e divertidos - Eu repliquei
- Tenho certeza que são! Ontem mesmo, só cruzei com homens extremantes eruditos.
Assim que Maggie trás o dia anterior a conversa, um calafrio sobe por minha coluna. Olhos intensamente azuis aparecem em minha mente fazendo com que eu me sente direito na cadeira.
- Nem todos são, eu garanto - Resmungo
A afirmação faz com que minha irmã voltasse seu olhar indagador para mim, porém antes de que ela pudesse me questionar algo, mamãe entrou no quarto.
- As empregadas já virão ajudá-las a se arrumar, não se atrasem!
A casa estava agitada, podia ouvir resmungos por todos os lados mesmo com as portas de cada cômodo fechada. Cada um em seu próprio mundo, em sua própria preparação.
Algumas horas depois já estávamos elegantemente esperando Eloise descer para enfim partirmos para o sarau. Eu estava com um vestido lilás, que tinha um tecido levemente brilhoso. Sem dúvidas, a costura de Londres tinha um toque mais chique e requintado.
-... acredito que não. - Ouvi a voz da minha irmã se aproximando, enquanto ela falava com a governanta - Desculpem o atraso, Lucas demorou para pegar no sono.
Apenas acenamos para que ela não se preocupasse e fomos em direção as carruagens que nos aguardavam na porta de casa. Meu estômago estava embrulhado, mas tentei acalmar meus nervos. Eu consigo, eu sou capaz de conversar sem passar vergonha.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dança comigo?
Historical FictionA vida de uma debutante em 1876 era composta por bailes e saraus. Para Catherine Graham, não era diferente. Só havia um problema, um pequeno detalhe que a diferenciava das outras meninas no salão, ela não dançava. Após sofrer uma acidente na infânci...