Sete

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Percy entra no banheiro dos monitores sem fazer alarde. Estava terminando de ajustar seu trabalho de Poções quando os alunos voltaram para sala comunal depois do jogo entre Grifinória e Corvinal. Harry estava tão amuado que parecia prestes a sumir em qualquer momento, George estava calado e Fred chutou um dos travesseiros que havia caído no chão, quase o acertando no fogo que crepitava na larareira. Não era preciso fazer perguntas.

Grifinória havia perdido. 

Grifinória havia perdido e Oliver Wood havia fugido, como sempre fazia.

Percy geralmente esperava o garoto voltar para o dormitório, mas naquela tarde não conseguiu. Algo o incomodava, então mesmo contrariando o seu bom senso – que Percy geralmente sempre obedecia, ele enrolou seu pergaminho e saiu da torre da Grifinória. 

Oliver estava sentado no chão, as costas repousadas na banheira e as pernas esticadas enquanto olhava indiferentemente para qualquer lugar. Era uma visão tão dramática que Percy teve que se esforçar para não sorrir nem um pouquinho. O capitão apenas notou a presença do amigo ali quando este sentou-se ao seu lado.

– Como você sabia que eu estava aqui?

– Infelizmente nós nos conhecemos a tempo demais. Você está bem? 

Oliver deu de ombros, sem responder. Seus olhos fitavam suas mãos entrelaçadas em seu colo e Percy se sentiu tão mal que poderia chorar. Oliver Wood era extremamente exagerado quando se tratava de quadribol, é verdade, treinava demais, criava estratégias demais, se empolgava demais, sim, mas Oliver também era um aluno muito bom para os professores, um capitão leal para os colegas de time, um veterano prestativo para os novatos e... bem, Percy não sabia exatamente como dizer o que Oliver era para ele. 

Oliver era um amigo divertido e compreensível, mas falar isso parecia pouco demais. Amigo parecia uma palavra pequena demais para descrever o que Percy sentia por Oliver, mas o garoto não conhecia nenhuma outra. 

Então vê-lo tão triste foi capaz de tirar Percy de sua órbita comum.

 – Não vamos nos formar amanhã, Oliver. Você ainda vai trazer a taça para Grifinória.

O garoto riu, sem humor.

– Não vou. Eu sou um péssimo capitão, Minerva McGonagall deveria me tirar do cargo e–

– Ela nunca faria isso. Você é o melhor capitão que a Grifinória já teve.

Oliver olhou para o amigo como se ele fosse louco. – De onde você tirou isso, Percy? 

– Você é o mais apaixonado, Wood. Eu acho que isso é o mais importante. 

– Ninguém pensa como você.

– Todo mundo pensa como eu, Oliver, você não vê o quanto todos admiram você?

– É, mas ninguém acredita que eu vou realmente conseguir chegar a final e realmente ganhar. 

– Eu acredito. 

Oliver riu, não foi uma risada maldosa ou ácida, o que deixou Percy metade confuso e feliz.

– Tudo bem.

– Eu acredito em você, Wood! – Insistiu.

– Você nem vai aos jogos, Perce. – Oliver disse com um sorriso fraco no rosto.

– Se eu for, você vai acreditar?

O capitão olhou para Percy, as sobrancelhas arqueadas sem acreditar que aquelas palavras haviam saído da boca do amigo. Percy nunca ia aos jogos, sempre dizia que "tinha coisas mais importantes para fazer" – claro que torcia pelo time, pelos colegas e, principalmente, por Oliver. Mas o jogador nunca pensou em vê-lo nas arquibancadas.

– Está falando sério? 

Percy revirou os olhos, ajustando os óculos em seu rosto. – Claro. 

– Você promete? 

Dessa vez Percy riu. Oliver parecia repentinamente mais animado, não havia esquecido a derrota, é claro, afinal ele era Oliver Wood, mas o clima parecia muito melhor do que quando o ruivo havia chegado. 

– Você parece uma criança – disse Percy. –, mas é claro, eu prometo.

O sorriso de Oliver aumentou e ele deixou que sua mão caísse no pequeno espaço entre os dois, encontrando a mão de Percy que ali estava. 

A atmosfera pareceu mudar tão rápido quanto o sorriso de Oliver havia surgido depois que Percy começara a falar. 

Se ele se mexer... se ele se mexer só um pouquinho, eu me afasto, pensou Oliver. 

Mas Percy não se mexeu. Seus dedos continuaram se tocando levemente enquanto eles encaravam o banheiro vazio, sem dizer nada até Oliver limpar a garganta e deixar escapar em voz alta:

– Vou acreditar em você se você for e sair comigo depois dos jogos. Todos eles, não só àqueles em que nós perdemos. 

Percy riu, uma risada alta e clara, virando-se para encarar o garoto que logo o olhou também. Os olhos azuis de Percy brilhavam tanto que Oliver se sentiu desordenado. 

– Depois dos jogos?

– Sim.

Percy assentiu.

– Tudo bem, nós podemos fazer isso. 


After The Game I PERCIVEROnde histórias criam vida. Descubra agora