Capítulo IX

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Acontecimentos estranhos costumam acontecer diariamente em todo o mundo, mas, dessa magnitude, com a minha pessoa, foi a primeira vez.
Algumas semanas haviam se passado e o então desiludido japonês não trocou nenhuma palavra comigo. Sinceramente? Eu o entendo. Ela seria uma namorada troféu para ele.

Enfim, depois que a minha vida voltou ao normal, retornei aos meus estudos e a minha concentração em mudar a minha atual realidade de uma garota mediana.
Receber o meu boletim foi como ter recebido um tapa na cara de mão cheia de uma realidade dura e cruel. Não que eu já não recebesse diariamente tapas como esse. Enfim, a mudança foi tamanha que, até nos treinamentos militares durante os domingos eu estava me focando mais em aproveitar os exercícios para ganhar um pouco mais de massa muscular ao invés de somente colecionar hematomas espalhados pelo corpo.

Estava determinada a levar orgulhosamente bons resultados para a minha família, principalmente pela possibilidade de viajar de volta para a minha casa no Brasil.
...

Minha excitação era palpável, ou melhor, estava entrando em êxtase, já que faltava menos de dois meses para as férias do meio do ano chegar e em breve poderia voltar para a casa dos meus pais. Para o meu lar.
Mas, antes disso eu tinha que melhorar as minhas notas a todo o custo. Não posso perder essa bolsa. Não quero.

Para tanto, aumentei a minha carga horária de estudos para dez horas diárias. Ou seja, eu estava me tornando uma verdadeira CDF, se é que me entende.

Já os ensaios da banda, esses ocorriam duas vezes na semana, pois, Claire notou que os trios não estavam dando muito certo, então decidiu que ela mesma seria a nossa mentora. Achei lógico, afinal, ela estava sendo paga para fazer justamente isso.

Os dias passaram-se rapidamente de forma monótona até que enfim chegaram os dias das segundas avaliações semestrais.

Meu sofrimento era provocado por apenas alguns rolos de papéis recicláveis! Minha ansiedade parecia fazer o meu coração explodir sob o meu peito e suar rios. O que é ridículo, já que, deixar óbvio debaixo das minhas axilas uma cachoeira visivelmente nojenta na minha camisa social branca finíssima só me torna mais patética do que já sou.
Já tentei de tudo para amenizar esse defeito, mas, parece que somente devo aceitar a minha realidade. Outra vez.

— Calma querida, ficar desse jeito só vai piorar a situação. — Patri falava enquanto caminhamos em direção a sala onde seremos duramente torturadas. Ela estava calma por que a vida dela não depende do seu desempenho escolar.

Hipócrita! Respiro fundo tentando não jogar na cara dela a verdade que penso sobre esse 'calma' que ela me lançou.

— A pior palavra que se pode ouvir quando estamos ansiosos é essa que você acabou de cuspir na sua amiga. — Joe?!!! — Oi Melina Solano, quanto tempo, verdade?! — Olho em sua direção a tempo de ver o seu sorriso gentil.

Acho que o meu cérebro bugou!

— Ele está falando com você amiga. — Patri tenta me acordar ao mesmo tempo em que parece confusa com a situação atípica da manhã.

Ele nunca havia falado comigo antes em público.

— Ah! Oi Joe Berat. — Tento sorrir.
Credo! Não quero ver a cara que estou fazendo. Como é que se anda mesmo? Oh Senhor, não me deixe tropeçar no nada outra vez!

— Então, — Segue rapidamente em direção ao meu lado esquerdo vazio, diminuindo a distância entre nós. Acho que ainda estou dormindo. —  Lembrei que você havia comentado que ficava péssima durante as aplicações das provas. — Os olhos dele estavam de um azul claro encantador.

— Você lembrou? — Patri foi mais rápida do que eu. — Por que ?! —  Ela estava lendo a minha mente?

— Não sei, só lembrei. — Deu de ombros. —  Espera. —  Ele para na minha frente forçando a mim e a minha colega de quarto a interromper nossos passos. — Não posso? — Me olha com as sombrancelhas levantadas em uma interrogação fofa asiática.

O Nascimento De Um Erro FrancêsOnde histórias criam vida. Descubra agora