Monólogo

247 21 106
                                    

Se alguém perguntasse meu principal defeito eu diria que procrastino demais, perco a atenção muito fácil das coisas, sempre pulo de um tópico para outro com muita rapidez, abro muitos parênteses e não fecho nenhum.

Poderia jurar que seria mais suficiente em tudo se terminasse aquilo que eu comecei, livros que não li, histórias que não escrevi, cursos que tranquei.

Não costumo me lembrar de despedidas, por que nunca sei me despedir bem das pessoas, acho que esse lado intenso me faz querer viver as coisas e fugir antes que acabe, não só em relacionamentos amorosos mas em tudo na vida, é complicado, a minha vida é complicada.

Mas de quem não é?

Costumo olhar ao meu redor, é como se todos estivessem andando e eu parada, estacionada no mesmo lugar, esperando algo pelo qual vou me encaixar perfeitamente. É estranho porque tenho total ciência de que nada na vida é perfeito, não vou encontrar o emprego perfeito, o curso perfeito, o relacionamento perfeito, mas mesmo assim sigo procurando por algo que encaixe, que me mude, que faça com que me sinta suficiente.

Quando as coisas não saem perfeitas costumo chorar. Choro por muitas coisas, surto, brigo, faço besteiras, mas chorar no banho é sempre uma questão, porque é o local que a gente se sente mais vulnerável, você tá nú, molhado da cabeça aos pés em uma crise existencial, chorar no banho é a coisa mais libertadora e revigorante.

Em dado momento da minha vida deixei de ser criança, jovem e passei a ser adulta, não sei quando isso aconteceu por que não me enxergo assim, mas as pessoas ao meu redor parecem ver uma pessoa adulta. Quando criança costumava olhar os adulto e pensar que quando tivesse a idade deles já saberia de tudo, estaria estruturada, hoje só vejo que adultos são crianças maiores, tentando inutilmente acertar seu caminho, tomar decisões e se esforçar ao máximo para conseguir o mínimo de conforto...aff queria voltar a ser criança...ser adulto é cansativo.

Trezentas palavras, você acabou de ler trezentas palavras que escrevi em pura crise existencial, eu me pergunto porque você ainda tá aqui?
Poderia estar comendo um delicioso prato em Paris, ou escalando o Monte Everest, mas não, você tá aqui.

Quando foi que a gente escolheu essa vida? Qual botão a gente apertou para que chegássemos até aqui?

Se alguém te falasse "se você ir pela esquerda você consegue a faculdade dos sonhos mas perde toda a sua juventude, se você ir pela direita você vive uma vida feliz mas nunca vai alcançar o que os outros esperam de você", qual você escolheria?

Bom, não sei nem o que eu espero de mim mesma, então o que os outros esperam é fichinha, eu sei que daqui a cinco anos vou olhar para trás e me arrepender de algo, eu já me arrependo de coisas que fiz a algumas horas, que dirá anos, mas isso não me faz agir diferente, porque de qualquer forma eu não sei o que vem depois, então eu cedo as minhas vontades.

As vezes é bem fácil se sentir engolida por tudo que nos habita, é como se cada pessoa ao nosso redor exercesse uma força gravitacional que faz com que você aja de maneira que tente não magoar ou decepcionar as pessoas, é sufocante, apavorante e muito intimidador.

Agir sobre expectativas alheias, agir sobre expectativas dos nossos pais, amigos, família...fala sério, que culpa tenho eu? As expectativas são de vocês não minha. O problema é que se formos pensar nós fazemos a mesma coisa, mesmo que sem perceber, nós esperamos demais das nossas relações, criamos expectativas, então até que ponto?
Até que ponto a frustração é fruto dos nossos erros ou fruto das nossas expectativas?

Não tem uma régua, não tem uma linha, não tem alguma coisa que nos diga até onde devemos ir, qual caminho seguir ou o que devemos sentir. Então nós simplesmente vivemos, vivemos como nos é ensinado a viver, vivemos vidas inspiradas em outras vidas, evitamos erros inspirados em outros erros, o ser humano é um animal racional já dizia a ciência e a cada instante de nossa vida nós seguimos tentando ter ciência das coisas, dançando conforme a dança.

Então o que nos diferencia?

Eu li alguns estudos que afirmam que seres humanos enxergam tonalidades diferentes de uma mesma cor, o verde que eu enxergo nunca vai ser igual ao verde que você está enxergando, acredito que isso é o que nos diferencia, nossas percepções, tenho base cientifica pra provar? Não tenho, mas se você tá lendo até agora é porque concorda comigo em algum ponto.

Dois lados da mesma moeda, cara ou coroa.

Quantas opções nós temos?

Que oportunidades eu deixei passar?

Se existisse resposta para essa pergunta você gastaria o seu precioso tempo limitado buscando? Eu não passaria, porque pensar em oportunidades perdidas é um loop infinito de ideias que nunca vão passar de ideias.

Exemplo, quando era criança minha mãe perguntou se eu queria fazer balé, respondi que não, se tivesse feito balé talvez tivesse me tornado uma grande bailarina que dançaria no teatro municipal.

A verdade é que pensar nisso não me fez aprender balé ou simplesmente voltar no tempo e responder para a minha mãe que "sim", pensar nisso só me fez idealizar uma vida que eu não vivi, e agora tô culpando uma criança que lá no ano de dois mil e cinco preferiu brincar a frequentar aulas de uma dança que ela nem gostava.

A vida é uma piada, um bela piada de mau gosto, eu te avisei lá no começo que eu sempre abria milhares de parênteses e não fechava nenhum e mesmo assim você escolheu tá aqui, lendo essas palavras, o porque? Nem eu nem você saberemos ao certo, mas você tá aqui e novecentas e tantas palavras. Um monólogo de alguém com crise existencial.

Se pudesse falar algo para sei lá...uma futura geração, diria "viva". Eu sei, é clichê, mas todo mundo no fundo ama um clichê não é mesmo? Afinal, estamos vivendo um.

INCOMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora