INCOMPLETA

Imatura

Minha criança interior grita.

Todas as vezes que me relaciono com alguém, todas as vezes que começa uma discussão, todas as vezes que tenho um desentendimento, um atrito, uma briga.

Minha criança interior grita.

Grita como uma criança mimada que rola no chão do supermercado.

Grita como uma criança desesperada para ser ouvida.

Grita como uma criança que tem medo da surra.

Grita como uma criança que ouviu gritos demais, que apanhou demais, que chorou demais, que se machucou demais.

Grita como uma criança que virou adulta e não sabe lidar com discussões.

Grita como alguém que no primeiro atrito quer correr.

Por medo, por dor, por traumas.

Grita porque foi chutada diversas vezes no sentido figurado e literal da palavra.

Grita porque o grito é a última arma biológica que restou, o último fio de esperança, o último alerta, o último alarme.

Grita.

E somente grita.

Porque gritar foi a única ação que restou, é a única força que consegue expressar para ser ouvida.

Como uma armadura invisível, minha criança interior grita, para conseguir que a adulta corra, corra pra longe de tudo, de todos.

De todos aqueles que poderiam entrar na sua vida, mas não vão.

Pra todos aqueles que machucaram, quando conseguiram entrar...

Ela gritou, gritou, até não poder gritar mais.

A minha criança grita, um grito que é somente sentido por mim, ouvido por mim, incessantemente, constantemente.

Sufocante, aterrorizante, medonho, transtornante, deprimente, ansioso.

Ela grita, dentro da minha cabeça, todos os dias, todas as horas, minutos e segundos.

Minha criança grita, um choro misturados com surtos de desespero, onde o caos se mistura formando um líquido transparente que desce pelos meus olhos.

Minha criança grita, grita tanto que se cansa e só quer ficar sozinha, tentando inutilmente se blindar de tudo aquilo que pode causar seus gritos.

Minha criança grita, implorando para ser ouvida, ela grita pedindo uma única coisa.

Silêncio!

A minha criança interior grita.