Fragmentada

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Somos fragmentos de relações que deixaram marcas invisíveis. Marcas emocionais, memórias, manias, falas que ficam em alguma parte do cérebro esperando para dar as caras.

As pessoas nos marcam, já ouvi alguém falar isso.

As pessoas nos marcam.

Não notamos quando nem como, é invisível, pode ser saudade de um abraço, imagem de um sorriso, som de uma voz, um perfume, o jeitinho de alguém andar, em tudo o nosso cérebro parece procurar pela imagem de alguém.

Estou tão cansada de sentir que o mundo estar se tornando superficial, quanto mais cresço mais me torno uma pessoa que se sente diferente e longe das outras, meus amigos, minha família, todo mundo.

Todos parecem estar vibrando na mesma frequência enquanto tento achar alguém que entenda, que sinta o mesmo.

Deixar uma marca é diferente de ficar, eu não quero ser marcada, não quero ser uma pessoa fragmentada, resultados de interações que deixaram história, não quero ser passado, quero ser o presente, quero ser o futuro.

Pessoas deixam rastros nas outras e a maioria delas nem tem responsabilidade emocional para reconhecer isso, gente que acorda e simplesmente decide que não gosta mais de outra, gente que some da vida de alguém depois de prometer ficar, promessas não cumpridas, mentiras, joguinhos para conseguir aquilo que desejavam.

Isso me deixa com tanta raiva.

Se você vai embora então por que prometeu ficar?

Promessa é dívida, e odeio quem promete algo e não cumpre, as vezes não precisa ficar da mesma forma, existem diferentes tipos de relações nas nossas vidas, diferentes tipos de pessoas.

Você não precisa ser namorado ou ficante de alguém para poder permanecer na vida delas, apenas esteja lá quando ela precisar, assim como você prometeu, assim como você discursou quando te convinha, não se engana uma pessoa assim.

Não se some da vida de alguém que você deixou uma marca, não é assim que funciona. As pessoas estão tão acostumadas com coisas superficiais que nem se tocam que estão caminhando para uma vida comum.

Sinceramente, quero ser excessão, quero ser diferente, não gosto de amigos de cachaça, gosto de amigos de ideia, amigos de sentimentos, amigos que estarão lá quando eu precisar e que não preciso pedir, nem cobrar, só quero poder confiar em alguém o suficiente para incluí-la na minha vida sem medo dela ir embora.

É pedir muito.

Já dei adeus silencioso a tantas pessoas em minha vida, pessoas que eram importantes e que de uma hora para outra o destino (ou seja lá o que for que rege esse mundo malucos) nos afastou.

Pessoas que nunca vou esquecer, pessoas que deixaram marcas, pessoas que me quebraram, pessoas que sumiram, pessoas que deixaram fragmentos.

Pessoas, somente pessoas.

Pessoas que também tinham sentimentos e nunca vou saber o que elas sentiram, não vou saber o porquê nem a razão delas terem escapado, é como água, uma vez que ela corre, você nunca a terá novamente, não importa o que faça.

Não se mergulha duas vezes no mesmo rio, da mesma forma são as pessoas, elas se vão e quando e "se" voltarem serão diferentes, fragmentadas.

É praticamente impossível impedir que isso aconteça, é impossível impedir que as pessoas ao seu redor deixem marcas em você, já tentei muito isso, já impedi de pessoas entrarem em minha vida, já me fechei, me excluí. Não adianta, uma hora você conhece alguém que faz você se abrir, você acha que vibra na mesma frequência e quando menos se espera ela vai sintonizar a rádio em outro local, com outras pessoas.

A vida gosta de pregar peças na gente, ela gosta de fazer com que a gente sinta que estamos perdendo algo quando na verdade estamos ganhando, a vida é confusa e dinâmica, ela é cansativa.

Estou cansada, cansada demais para ir atrás daquilo que quero, cansada demais para acreditar que existam pessoas diferentes em lugares iguais, cansada de ser marcada, cansada de me fragmentar cada vez mais.

Não quero ser fragmentada, quero ser inteira, mas como dizem as más línguas "querer não é poder".

INCOMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora