Sentir

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Sentir, sinto tudo a flor da pele, cada acontecido, cada situação, as vezes só queria deixar de sentir.

É como se cada momento da vida fosse marcado por algum ápice de emoções misturadas que geram uma memória.

Consigo lembrar muito fácil de instantes triste, crises, surtos, frustrações. Demoro me lembrar de momentos felizes, risadas, celebrações.

As vezes acho que meu cérebro foi programado para ser dramático, depressivo, queria ser aquelas pessoas que parecem estar em constante evolução, me sinto afundando como em um lago de areia movediça.

Quando mais eu luto, quanto mais me mexo, mais afundo, cada vez mais fundo, até eu não aguentar a pressão da areia, até eu não conseguir mover um músculo.

Sinto que tudo tá passando tão rápido e que tô coletando apenas emoções superficiais de momentos frustrantes, sinto que o mundo tá girando, sinto que a qualquer instante vou afogar, me sinto confusa, exausta e só queria descansar.

Queria poder me abraçar, queria poder abraçar minha alma e falar para ela que tá tudo bem, queria poder ter uma chave que gira e desliga todos os meus sentimentos.

Todo o furacão de emoções, toda a tristeza, dor, confusão, medo, tudo que me faz sentir que não sou suficiente, que não sou completa, que não sou feliz.

Queria poder estar escrevendo um texto de inspiração, um texto motivacional que seria vendido nas prateleiras para pessoas frustadas que idealizam ter a minha vida, queria ser a iluminada e não o holofote.

Eu queria tanto, queria tanto.

Queria não sentir.

Queria não sentir que vou morrer de tristeza.

Queria não corgitar morrer.

Queria me sentir amada.

Queria ser completa.

Queria ser idealizada em todos os sentidos.

Eu queria.

Queria demais.

Queria não querer demais.

Queria não sentir.

Porque sentir é o princípio de tudo, costumo falar de paixão e mais uma vez vou falar.

Queria não me apaixonar, porque isso é o princípio do fim.

Me apaixono por tudo, por livros, por músicas, por bandas, por comidas, por pessoas, por sexo, por amor, por dores, por histórias, por trabalhos.

Mas aí tudo se vai;

O livro acaba.

A música termina.

Bandas se separam.

Comidas vencem.

Pessoas te deixam.

Sexo é momentâneo.

Amor desaparece.

Dores diminuem.

Histórias são esquecidas.

Trabalhos são desfeitos.

Tudo que eu me agarro, cada situação, cada memória, parece que escorrega entre os meus dedos, nada é eterno, nem mesmo minha tristeza, e isso me sufoca.

Estou faminta de coisas duradouras e tudo que ganho são instantes, estou com fome de amor verdadeiro e tudo que ganho são migalhas de demonstração de afeto.

Quero mais, quero beber direto da fonte, poder dizer que eu vivi tudo que tinha para viver, escrever sobre amor e paixão sem estar triste, poder respirar sem sentir que tem algo sentado sobre o meu peito.

Quero poder saber que existem pessoas no mundo que pensam como eu, que vibram na mesma frequência.

Eu queria tanta coisa.

Mas sinto que meu tempo tá acabando, me sinto cada vez mais cansada, não sinto vontade de conhecer gente nova, nem de sair por aí em uma festa qualquer, em um lance aleatório.

Estou velha, minha alma está velha, estou cansada e só quero sentar, tomar meu café.

Só meu café e estar dormente para qualquer coisa na vida, era tudo que queria sentir.

INCOMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora