𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐕𝐈𝐍𝐓𝐄 𝐄 𝐐𝐔𝐀𝐓𝐑𝐎

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HAZEL

Nunca fui fã número 1 de navios, nem de nada relacionado a água. Nunca entendi muito bem o porquê e as vezes desconfio que minha mãe saiba. Não me sinto enjoada, nem nada disso. Eu simplesmente acho que algo ruim está acontecendo ou vai acontecer e essa sensação me persegue até o desembarque.

Tento ocupar minha mente o tempo todo com outras coisas para não pensar nisso. Olho o meu quarto e penso em como todo o navio é por dentro já que não posso negar a sua majestosidade nem se quisesse. Quando eu e Nadine éramos pequenas chamávamos ele de castelo flutuante e eu acho que essa a descrição que mais lhe faz jus.

Sou tirada do meu refúgio mental assim que ouço batidas na porta. Não me incomodo em me arrumar para parecer o mais apresentável possível. Acho que meu cabelo bagunçado e minha calça vão deixar bem claro que não quero companhia no momento.

-Bom dia, filha. – assim que ouço a voz da minha mãe minha cara emburrada se desfaz.

Seus cabelos castanhos formam uma cachoeira cacheada em suas costas e seu vestido verde deixa sua pele parda ainda mais bonita. Mas não é isso que a deixa tão radiante. Ela está sorridente, aquele sorriso que parece iluminar todo o ambiente assim que ela chega.

Culpo meu pai por não a ver alegre tão frequentemente. Sempre que ele está perto é como se mamãe perdesse todo o brilho. Ela se fecha em algum lugar e ninguém nunca consegue tirá-la de lá.

-Bom dia, mãe.

-Está se sentindo mal? – cruzo as pernas para que se sente na cama junto comigo.

-Não, está tudo bem.

-Você é uma mentirosa bem mediana, Haz.

-O que está fazendo aqui? Está tudo bem?

-Sim, sim, querida. – ela fala rápido demais e suspeito que esteja mentindo. –Eu só estava pensando que já faz um tempo que não passamos um tempo sozinhas. – completa, como se conseguisse ver a incerteza em meus olhos.

-Sem a Nadine.

-Sua irmã está com Valerie agora, então não vai ficar chateada.

-Ela não ficaria chateada nem se estivesse no quarto sem fazer nada.

-É, você tem razão.

-Às vezes me pergunto como nascemos tão diferentes na personalidade, na aparência, em tudo. – ouvindo a minha própria voz percebo que soo chateada. –Não que eu tenha inveja dela. Não, não foi isso que eu quis dizer. Eu simplesmente não entendo.

-Quando vocês nasceram sua irmã veio primeiro, como você sabe. – diz com um risinho, mas vejo um marejo em seus olhos. Chegou mais perto e seguro sua mão sabendo que está prestes a me contar algo importante. –Eu segurei Nadine e ela chorava. Á Haz como sua irmã chorava. O pai de vocês não estava perto, acho que estava em uma reunião, eu não sei. E ele havia levado John consigo. Você sabe que eu e seu pai não somos um casal amoroso. Não nos casamos por amor nem nada disso. Mas naquela hora isso nem me veio à cabeça, porque eu estava segurando a minha filha. Mesmo que naquele momento ela parecesse tão perdida quanto eu no mundo, eu a estava segurando.

A dor do parto tinha acabado á poucos segundos até que eu a sentisse de novo. Eu não sabia que eram duas meninas. Eu não sabia nem que eram dois bebês, então achei que tinha algo de errado. O choro de Nadine estava longe, pois já a haviam levado, mas eu ainda conseguia ouvi-la. O processo doeu tanto quanto tinha doido antes, mas assim que me contaram que havia mais um eu sabia que valeria a pena. E então você nasceu Hazel. Era a cópia do seu pai fisicamente, mas assim que você me olhou eu sabia que você seria diferente, não só dele, mas de todos nós. Você me olhou como se estivesse me acalmando, assim que você viu minhas lagrimas seu choro ficou mais fraco. Céus filha, você tinha segundos de vida e já estava tentando me acalmar

𝐓𝐨𝐫𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚 Onde histórias criam vida. Descubra agora