𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐐𝐔𝐀𝐑𝐄𝐍𝐓𝐀 𝐄 𝐃𝐎𝐈𝐒

126 12 6
                                    

LOU

Ando de um lado para o outro no quarto. Sinto o carpete fazer cocegas na ponta de meus dedos e olho para o relógio pela quinta vez em menos de 10 minutos.

Ginna está atrasada. Já se passou meia hora que eu cheguei do café da manhã e nada dela. Mas se eu não me engano ela havia comentado que iria visitar a família a alguns dias e passaria uma semana ausente. É, provavelmente é isso.

Vou até a janela e abro ainda mais as cortinas. Sinto o calor reconfortante do sol em meu rosto e sob o vestido verde claro viscoso. Esfrego os olhos pelo sono acumulado e me sento na cama com os braços ao redor dos meus joelhos.

Penso no olhar de Tom quando veio ao meu quarto ontem à noite. O olhar que me fez passar a noite em claro tentando pensar em um jeito de concertar tudo.

Estico um pouco o pescoço para fora da janela observando a lua e as estrelas. Sinto o ar gélido da noite arrepiar minha pele e bagunçar meus cabelos. Me encolho um pouco, percebendo que a fina camisola de nada adianta para me esquentar. Tudo o que Rider tem de quente durante o dia compensa em frio a noite.

Escuto passos perto do meu quarto, mas os ignoro. Penso que são de algum soldado passando por ali em direção a algum de seus turnos.

A cada segundo o barulho fica mais alto e eu olho em direção a minha porta assim que a pessoa para em frente ao meu quarto. Ouço duas batidas.

Mãos abertas se chocam o contra a porta e no instante seguinte Tom entra no quarto. Olho para o seu rosto e nem ouso reclamar por ele não ter esperado eu responder.

Meu irmão está com os ombros um pouco caídos e uma linha de sangue cai de sua boca pingando na sua camiseta verde escuras. Suas mãos abrem e fecham como se ele estivesse com dor. Reparo nos dedos vermelhos e esfolados. Mas o que faz eu cobrir a boca com a mão e mais me assusta é o olhar dele. Seus olhos pretos parecem estar vazios, enevoados.

Ele não diz nada, então ando cautelosamente e passo os braços ao seu redor. Tom demora alguns segundos para retribuir o abraço.

Sinto um pingo de sangue cair sobre a minha testa e ouço um grunhidor de dor sair de seus lábios. Olho ele de cima a baixo procurando mais algum machucado que eu possa ter encostado, mas não acho nenhum.

Guio-o sem encostar nas mãos machucadas até o banheiro masculino perto do quarto dele.

Abro a torneira, limpo sua boca e suas mãos o mais delicadamente possível com um pano úmido. De tempo em tempos ouço um grunhido de protesto. Observo a água se tornar avermelhada e depois transparente de novo pelo canto do olho.

Desligo a torneira e no exato instante sinto falta do barulho reconfortante. Tento a todo custo não me incomodar com o silencio durante o caminho até o meu quarto.

Giro a maçaneta de prata em formato de concha e começo a entrar esperando que Tom faça o mesmo, mas ele simplesmente fica do lado de fora, com os pés retos apontados na minha direção.

Observo-o com a cabeça um pouco inclinada, sem entender. Tom me puxa lentamente para um abraço. Uma mão emvolta do meu ombro e a outra em meu cabelo. Passo os braços ao redor de sua cintura quase que instantaneamente.

Ficamos alguns minutos assim e eu me aconchego mais em seu peito soltando um ronronar preguiçoso até que sinto ele empurrar minha cabeça um pouco para baixo com a mão que está em meu cabelo.

Meu irmão beija a minha testa e logo em seguida se vira indo para o seu quarto.

Pisco algumas vezes voltando a realidade. Chego mais para trás na cama, apoiando as costas na parede branca e esticando as pernas por cima do cobertor.

𝐓𝐨𝐫𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚 Onde histórias criam vida. Descubra agora