𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐄𝐙

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KATE

Já faz dois dias que estou treinando a tarde com Richard e a cada vez ele se mostra mais habilidoso. Seu tipo de luta e suas técnicas são diferentes das que aprendi nos meus anos de experiência. Tentei descobrir alguma coisa sobre as ideias do Rei em relação ao assassinato, mas sempre que eu conseguia chegar no assunto ele o desviava com respostas vagas.

Me sento na cama e, como nos dias anteriores, sinto todos os músculos do meu corpo se contraindo. Tenho me exercitado de manhã com Russel Baine e os outros e a tarde vou de fininho até a sala de treinamento. Tento ser o mais discreta possível para ninguém suspeitar de nada. A possibilidade dos outros me enchendo de perguntas sobre o assunto já me perturba. Não gosto de mentir para eles, mas até que eu consiga alguma informação importante não vejo nenhum motivo para comentar sobre isso.

Mesmo tendo chegado a poucos dias já consigo ver a diferença em todos nós. Ganhamos um pouco peso e nossos rostos ganharam um brilho. A proposta do Rei nos fez, depois de muito tempo, ter esperanças. Acreditarmos em algo. Sei que os outros pensam que será fácil e seguiremos nossas vidas ricos. Sem precisar que nos importemos com a falta de comida ou as horas intermináveis de missões, mas alguma coisa me diz que não vão ser simples assim. Nunca é...

-Está ficando paranoica. – Mike diz me encarando, mas percebo que ele pensa a mesma coisa.

-Não estou! – retruco. –Me diz uma vez que as coisas foram fáceis assim para gente, Mike.

Ele não fez perguntas sobre o porquê de eu chegar quase chorando no seu quarto duas noites atrás. Mike me conhece o suficiente para saber que eu não quero falar sobre o assunto, mas continuo vindo aqui ou ele ao meu quarto todas as noites igual fazíamos antes de chegarmos ao castelo. Nenhum dos trabalhadores ou soldados pareceu notar isso ou perceberam e não comentaram nada.

-Eu sei... Eu sei... Mas não custa ter um pouco de fé. – fala quase como um sussurro e entendo que ele provavelmente tem se dito isso nos últimos dias.

-Está falando isso para mim ou para si mesmo? – levanto e puxo seu rosto para que olhe para mim. Mike sorri como se para me reconfortar.

-Ok, espertinha. – responde enquanto puxa um pouco meu cabelo. Bato na sua mão. –Você tem razão. – dessa vez sou eu quem abro um sorriso.

-Como se isso fosse alguma novidade. – murmuro e ele me olha com as sobrancelhas erguidas.

-Convencida. – ouço-o bufar. –Deve ter algo por trás dos planos do Rei. Talvez o motivo para o ataque, ou... Não sei, temos que começar a pensar nisso.

-Vai comentar com os outro? – pergunto apoiando a testa em seu ombro.

-E eles entenderiam? – levanto um pouco queixo para olhá-lo e ele coloca os braços envolta da minha cintura. –Parece que Lou já fez amizade, ou o que quer que isso seja, com algumas nobres. E os outros...

-Justo. – resmungo.

Ficamos um tempo assim, em silêncio, abraçados. As nossas respirações se fundindo no ar e cada um organizando seus pensamentos. Acho que esses sempre foram os meus momentos preferidos. Nunca precisei de horas de conversas para não deixar a solidão recair sobre mim. Estar ao lado dele sempre foi suficiente.

Quando éramos mais novos. Eu, ele e Liam passávamos horas brincando, conversando e na maior parte do tempo eles arranjavam um jeito de me provocar. Mas as vezes, quando meu irmão não ficava com a gente, lembro que eu e Mike nos sentávamos em uma pedra que tinha perto da minha casa.

Não dizíamos nada. Apenas ficávamos os dois ali de mãos dadas ou abraçados e olhando para o bosque. Hoje consigo entender que aquelas horas sentadas ouvindo os sons do bosque e sentindo a respiração de Mike bagunçar meu cabelo foram o mais perto de paz que eu já consegui chegar.

𝐓𝐨𝐫𝐦𝐞𝐧𝐭𝐚 Onde histórias criam vida. Descubra agora