𝘋é𝘤𝘪𝘮𝘢 𝘱𝘳𝘪𝘮𝘦𝘪𝘳𝘢 𝘱á𝘨𝘪𝘯𝘢

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Lexie ficava me encarando a cada segundo que se aproximava de mim, e eu estava me sentindo incomodada, ainda mais por não entender a situação. -Você é uma daquelas lunáticas que mexem com bola de cristal, por acaso?- arqueei uma sobrancelha enquanto falava. -Não, mas posso mexer com o seu futuro.- ela 'estacionou' de frente á minha cama.

-Ah saquei! Então é macumbeira (?)- falei segurando o riso enquanto fingia surpresa ao falar aquela frase tosca. -Engraçadinha você, né?- Lexie se sentou e logo levantou de novo. Mais uma vez, fiquei confusa. Essa garota, definitivamente, não é normal!

-Eu sou espírita, ou acho que sou- ela se aproximou de mim e me encarou de cima á baixo. -Não sabia que deixavam mãe de santo entrar no hospital- eu revidei o olhar debochado que ela me entregou e completei -Entrou aqui com a ajuda de alguma alma, Oh mãe Diná?!- encostei as costas no travesseiro.

Ela se sentou na ponta da minha cama e me encarou, em silêncio. Achei que eu fosse receber um tapa no rosto de tão intimidada que eu fiquei, ou que ela fosse me empurrar daquela cama com muita força. -Minha carta de entrada foi um tumor cerebral.- ela sorriu sarcasticamente ao desviar o olhar para os meus aparelhos. -Bem-vinda á vila dos Ossos- a mesma finalizou.

-Avançado, Oxalá?- eu mantive as "piadas" para o clima não ficar tão pesada com aquele papo de doença e funcionou, ela riu do apelido que a batizei. -"Ela tem muita sorte de viver e poder ter uma vida razoável"- Lexie deu ênfase profunda na sua fala, parecia significar algo. -Não tem saída mesmo, né?- fixei o olhar de dó, mas de chateação por me encontrar em uma situação tão ruim quanto.

-A vila dos ossos só tem duas saídas, ou você se joga da janela e cai do sétimo andar, ou você espera a hora de ser curada por um ''milagre da medicina'- a mesma descreveu os 'passos' que pareciam opções inexistentes de uma forma poética e super irônica. -Nossa, você é tão receptiva que chega a me dar esperanças. Obrigada! - encarei ela com um tom de falsidade.

-Ou você pode deixar eu te batizar com meu ritual e rapidamente pode ir embora, pois vai estar curada-. Ela se aproximou de mim e fisgou um olhar de psicopatia, adotando para si. -Quantos já fizeram isso?- falei me afastando um pouco. -Any e Petter - ela falou meio 'orgulhosa' (?). -E eles foram liberados?. A encarei com um pouco de medo. -Sim...Liberados para o necrotério- Lexie se afastou novamente. -Sai pra lá com tuas rezas, morticia!- a empurrei um pouco com meu pé.

-Por que minha cama não faz isso?- ela notou um acolchoado melhor e cheio de molas. -O que tá fazendo?- encarei para ver qual seria seu próximo passo, então ela colocou força e deu um salto baixíssimo para cair de bunda sobre o colchão da minha cama. -Sua cama é muito boa-.

-Por que não pede aos seus amigos mortos?- sorri falsamente, pois estavam um pouco assustada com a sua personalidade duvidosa. 

Ela tinha um relógio brilhante no pulso e ele estava piscando com uma luz vermelha. -Bom, deu minha hora. Tenho que ir- a mesma desceu da cama e foi se afastando aos poucos-. Então eu segui seus passos com o olhar, enquanto ela saía -Tchau, Orixá- acenei levemente.

No dia quatro de Maio de dois mil e dezessete, eu senti um desconforto enorme naquele hospital, naquele quarto. Eu me sentia fraca constantemente e a suadeira aumentou, era como se eu estivesse caminhando no deserto.

-Oi filha...Filha? Por que ainda está acordada?- minha mãe abriu os olhos rapidamente e levantou da poltrona. -Mãe, diminui o ar, por favor.- apontei para o aparelho -Eu tô muito suada- falei nervosa.

Ela então de aproximou e tirou meu cobertor e seguiu o meu pedido, deixando a sala um pouco mais fria. Ela voltou até mim e pousou sua mão na minha testa -Você está com febre- senti sua voz falha e um olhar de nervosismo cair sob ela. -Vou chamar a...-ela nem completou a fala e simplesmente saiu correndo pelos corredores.

Minha visão estava um pouco turva, não era um suor frio mas um suor quente, um suor que deixava a minha pele um tanto quanto sensível.

Não ouvi a hora que chegaram no meu quarto, só senti uma mão gelada tocar meu braço. -Por favor, sem agulhas- comecei a apontar um choro de fraqueza, por sentir dor a cada toque.

Ela não ouviu o que eu disse, ou fingiu não escutar. Senti a agulha entrando na minha pele e furando meu braço direito e depois de segundos, a mão gelada me virou de ladinho para aplicar uma injeção em minha nadega.

-Preciso que respire fundo e se acalme. Sua febre vai ser controlada aos poucos, ok? Apliquei dipirona.- ela me virou novamente, mas apoiou um travesseiro na minha bunda para não doer ao me virar de novo. -E também coloquei umas mls de vitamina na sua veia para não ficar tão fraca.- ela falou enquanto arrancava as luvas para jogar fora.

Senti minha bunda formigar enquanto o remédio estava fazendo efeito dentro de mim. E conforme foi agindo, fui sentindo sono.

𝐶𝑎𝑝í𝑡𝑢𝑙𝑜 14

𝘥𝘶𝘱𝘭𝘰 𝘪𝘯𝘧𝘪𝘯𝘪𝘵𝘰Onde histórias criam vida. Descubra agora